Há na música de Matthew Herbert a dose certa de inteligência emocional. Sempre houve. Em disco, como no clássico vintage "Bodily Functions (2001) ou mesmo ao vivo, denota-se um traço exploratório e orgânico de que a boa electrónica sente falta e que se estendeu amiúde ao jazz e até à música clássica. O vinco artístico é facilmente sinalizável apesar dos caminhos percorridos permitirem separações e cortes momentâneos para, mais tarde ou mais cedo, afluírem invariavelmente num registo de qualidade que aqui a casa muito preza. Aproxima-se mais um.
O novo álbum "Musca" (mosca em latim) a sair na próxima sexta-feira na casa de sempre, a Accidental Records, é mais uma aventura pela intimidade caseira tal como aconteceu em discos anteriores mas que não indicia qualquer solidão imposta. Colaboram oito vocalistas, muitas delas que o artista ainda não conhece presencialmente e com quem nunca tinha colaborado - Verushka, Siân Roseanna, Allie Armstrong, Bianca Rose, Melissa Uye-Parker, Daisy Godfrey, Y’akoto e Joy Morgan - que, tal como os restantes músicos, trabalharam isoladamente a partir de casa. No último ano, o confinamento permitiu ainda a Herbert a conclusão do doutoramento académico sobre a ética da composição sonora e a recolha e utilização no disco de sons obtidos na quinta onde vive, o que incluiu um sintetizador inspirado no cão da esposa (?), o grunhido de um porco ou a brincadeira louca de uns filhotes de raposa. Mús(i)ca voadora!
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