sábado, 16 de julho de 2022

AGNES OBEL, Theatro Circo, Braga, 12 de Julho de 2022

fotografia: facebook da artista















A raridade da aparição de Agnes Obel pelo norte do país motivou peregrinação de devotos a Braga, cedo se percebendo que o templo replecto se agitava de expectativa compreensível. Trajando de branco e à hora marcada, descontando os habituais dez minutos de tolerância, o quarteto feminino instalou-se junto dos instrumentos e o recital iniciou-se sumptuoso nas projecções de fundo, na acústica infalível, na suavidade das vozes e no requinte de dois violoncelos em união harmoniosa. Tudo acertivo e esplêndido de príncipio ao fim, que a beleza ideal do teatro tratou de engrandecer, num alinhamento alternado de canções antigas e recentes, como prometido, aliás, numa das poucas interacções de Obel com o público. O que dizer, por exemplo, de "Island of Doom", "Myopia" ou "The Curse" maravilhosas na intensidade do rendilhado orquestral a roçar uma inebriante e tocante excelência. Mas... 

A conjunção adversativa poderá parecer um capricho destoado mas, lá está, se há falhas a apontar a tamanha perfeição é, precisamente, a falta que fez alguma rudeza e sujidade que, às tantas, nunca transpareceu nas canções que Obel foi compondo há mais de uma década e a que nunca deixamos de deitar atenção agradável. Demasiada nivelada, demasiado metronómica, a música do ensemble resultou num serão exemplar de irrepreensível capacidade técnica, praticada e tocada todas as noites, sem desvios, nos últimos meses e a que corresponde, certamente, um esforço de ensaio e concentração notáveis. 

Quando, já no encore, Obel interpretou sozinha "It's Happening Again" sentado ao piano grande com o restante trio na ajuda a capella, o concerto ganhou uma abertura, um feixe de luz, um contraste de brilho ainda maior que não precisava de imagens de fundo para se fazer diferenciar e notar. Quer pela melancolia espalhada, quer pela desconformidade saborosa que pairou nesse momento, esse estorvo e desalinho fez-nos suspirar por uma próxima visita deste verdadeiro anjo dinamarquês... mas sem companhia, a não ser a da sua voz e piano!    

Sem comentários: