terça-feira, 12 de julho de 2022

RYDER THE EAGLE + DEAN WAREHAM, M.Ou.Co., Porto, 9 de Julho de 2022

Sem aviso prévio, o rapazote Ryder The Eagle de fato mexicano, a que só faltava o chapéu de cowboy, entrou no palco, pegou no microfone, carregou no play e não mais parou. No cartaz ou no bilhete não constava o seu nome mas, soube-se logo ali, que era dele a primeira parte da digressão de Wareham pela Europa, repetindo a presença naquele palco onde ainda há dois meses assegurou o aquecimento para Adam Green. Jogando na interacção, na surpresa, no nonsense, não demorou para esticar o fio até à plateia, vagueando entre os presentes na cantoria de um género de pastiche country-pop-kitch, ratejando-se aos pés de algumas, fitando outras, enquanto cantava sobre divórcio, erecções, namoradas, viagens sem retorno ou traições. O fato, esse, foi desaparecendo até que aterrou em tronco nu na parte superior da mesa de som do fundo da sala, um género de poiso desafiador com que encerrou o rastilho brincalhão a que ninguém ficou indiferente. Esse mérito ninguém lho pode tirar!

 

O regresso de Dean Wareham ao Porto ao fim de mais de uma década motivou peregrinação de uma geração que mantêm fé e devoção nos Galaxie 500 de boa memória. O motivo, desta vez, incidia na prometida revisitação ao álbum "On Fire" de 1989 o que, efectivamente, se veio a concretizar. Os seus dez temas foram, salvo o erro, escrupulosamente tocadas em notória harmonia com as expectativas dos muitos fãs aderentes mas o concerto teve, no seu início, duas canções do disco a solo do ano passado que provam que a veia da composição flamejante continua irradiante - "The Last Word" e "Robin & Richard" são portentosas na sua perfeição pop e devem merecer, tal como algumas outras de "I Have Nothing To Say To The Mayor Of L.A.”, uma vénia respeitosa. 

A noite de reencontro permitiu, por isso, uma ratificação de uma partilha amistosa a que muitos acrescentaram a voz alta das líricas, a imitação dos solos de guitarra ou o shoegaze tardio mas inevitável. Do palco, sem falhas, emergiu a cumplicidade de um quarteto em forma activa, sem excessos de postura ou altivez, que sempre foram a imagem de marca de uma humilde banda multiplicadora de emoções e recordações. Palmas merecidas para eles e ela!

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