No escuro da sala quase preenchida instalou-se, num instante, entre canções e afinações, um misto tangível da afamada pândega apalhaçada de alto teor de sarcasmo e non sense - a variedade vertida recaiu sobre o paraíso americano dos anos 60, a irritação inventada com o pai, cigarros nacionais de qualidade, viagens para a Baviera, sandes de frango das estações de serviço, negócios lisboetas de cocaína ou a nossa sexy beleza colectiva - e um desempenho sério e prazente da guitarra onde demonstrou a sua notável versatilidade e talento.
Esticando os originais num género de jam introdutória, o que só permitiu identificar os temas ao fim de alguns minutos, a colecção confirmou-se de avultada estirpe americana, um género de reinvenção folk que ganha aos pontos a muita da bajuladora mainstream radiofónica. As raízes, essas foram como que adornadas cortesmente em duas enormes versões de John Martin (uauu!) e Anne Briggs!
A herança perece estar, assim, mais que assegurada e em boas mãos, brotando da profundidade do Illinois em jorros fundidos de tradição e modernidade e que um toque de psicadelismo encosta num estilo muito próprio e diferenciador. À aptidão, que se espera de longa e duração, faltará somar uma canção portuguesa ou sobre Portugal, prometida e ensaiada, naquilo que poderá ser só mais uma das pérolas de um cancioneiro plural e excepcional - que tal chamar-lhe "Fish Tray"? Ryley é fixe!
1 comentário:
Obrigada por isto! :-) Não consegui ir e tinha ficado com pena. Assim deu para de alguma forma estar lá um bocadinho ;-)
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