quarta-feira, 1 de abril de 2015

JOAN BAEZ, Coliseu do Porto, 31 de Março de 2015

Fotografia TVI/Reuters

















O concerto podia ter acabado ali que a noite tinha já valido a pena - sozinha em palco, guitarra nas mãos, Joan Baez desfila logo no início e duma assentada o "Donna, Donna", o "God is God" de Steve Earl e a sublime "There But Fortune" de Phil Ochs. Claro que o dedilhar das cordas já não é tão acentuado nem a voz tão cristalina, como humildemente reconhece, mas as canções tem ainda a força e a marca para fazer estremecer toda uma geração que praticamente encheu o Coliseu e que, aos primeiros versos a cappella de "Grândola Vila Morena", não se esqueceu de atirar cravos vermelhos para o palco ao mesmo tempo que entoava a todo o fôlego a canção de Zeca Afonso. Damos connosco a imaginar outros tempos de fervilhante pulsão política e cívica e o significado de pôr os seus discos a rodar no gira-discos da sala ou de uma canção a sair do rádio entre conversas inspiradoras e, talvez, conspiradoras... Por isso é que Baez se mantêm, como um prumo, na frente actual do activismo socio-político a cantar na Casa Branca para Barack Obama, a receber prémios da Amnistia Internacional ou a evocar incessantemente Joe Hill, operário lutador e nome de canção que Baez faz questão de homenagear desde Woodstock com uma versão de Earl Robinson. Mas o serão de ontem foi, acima de tudo, uma lição de história da música popular - "It' All Over Now Baby Blue" de Dylan, "Suzanne" de Cohen, "Imagine" de Lennon ou "House of The Rising Sun" dos Animals foram só alguns dos clássicos que se juntaram a (outras) pérolas como "Diamonds and Rust", "Where All The Flowers Gone", "Here's To You" e os indispensáveis "Gracias A la Vida" e "Blowing In The Wind" já no encore final, tudo com grande serenidade e mestria do trio em palco, num respeito mútuo que só a magia da música, sem idade, consegue alcançar e em tempos em que as "respostas", como sempre, continuam a soprar no vento...            

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