Nesta altura é já redundante falar sobre a enchente em Coura. Gente a mais ou gente a menos, o certo é que o espaço natural não aumenta e por isso, citando um banqueiro da praça, "ai aguenta, aguenta"... Era ver a pré-enchente eufórica logo às 6 da tarde para ver as Hinds, fresquinhas rockeiras a fazer a festa quase imberbe com o seu quê de cool que assenta sempre bem num dia de calor. Guay!
Os Pond alinhados no palco pequeno só podia dar nisto: mar de gente a ultrapassar quase os limites de todo e qualquer espaço em volta e algazarra previsível a roçar a arruaça na frente do palco. Público contente, banda mais que risonha e, é verdade, música de colheita antípoda mais que saboreada e degustada pela maioria. Ainda faltava muito para os Tame Impala mas o aquecimento estava mais que feito...
Sem que estejam em causa os méritos e atributos de Steve Gunn, o palco principal pareceu-nos uma escolha desajustada para a fineza da sua música. Nessa mesma tarde Gunn tinha passada pelo Museu Regional de Coura para, a solo, tocar canções para alguns sortudos mas agora em pleno cenário e envolvente o seu concerto serviu mais de fundo sonoro para conversas de circunstância entre um público maioritariamente alheado em vez de uma acolhimento à medida. Foi pena.
Ao contrário, a perfomance de Father John Misty tinha recepção eufórica garantida. Há no jeito e vivência de J. Tilmann um lado gozão e sarcástico sobre as agruras da vida e do amor que se estende às suas irresistíveis canções em jeito de crónicas sonoras. Gingão, teatral, acutilante, sabe jogar como poucos na surpresa e com a imprevisibilidade e, por isso, vê-lo subir ao palco com a bandeira portuguesa ao pescoço depois de um "mergulho" entre o público no final do seu "maior êxito" ("Bored in the USA") e entregá-la ao seu rodie ao jeito de medalha beijando-lhe a testa (2 vezes!) é um daqueles momentos obrigatórios para a memória colectiva do festival. Grande concerto!
Temos por Paulo Furtado e os seus Legendary Tiger Man um enorme respeito. Ponto. O mérito de ocuparem o horário nobre de um dos principais festivais
nacionais é fruto de uma temerária e longínqua aventura nos limites do rock e dos blues que não deixa margem para dúvidas quanto às suas virtudes. Concerto oleado, excelente saxofone a la Morphine, uma rock vintage que naturalmente se espalhou pelo anfiteatro cheio. O problema, no entanto, foi só um: chamou-se Tame Impala e cada novo tema de Tiger Man assemelhava-se a um jogador que simula a lesão, para passar tempo, já depois da hora para desespero dos adeptos... O apito final, no entanto, ficou bem vincado e gritado ao fim do tempo de desconto de dez minutos "XXIst Century Rock´n Roll": rock'n roll, precisamente!
Os Tame Impala estão, nitidamente, num limbo: criarem um "monstro" de nome "Currents" que vai crescendo todos os dias e atendendo aos 25 mil que responderam à chamada, a "criatura" benigna tenderá a transformar-se exponencialmente numa salutar pandemia (pandemónio?). Antevendo o descontrolo, a banda entrou em palco de fininho e sem euforias desmedidas, despachando, no bom sentido, o "Let it Happen" logo ao segundo tema do alinhamento, o causador inicial de tamanho fenómeno. À máquina sonora evidenciada juntou-se um fundo de efeitos visuais a preceito e a ementa tanto pode ser um receituário mais antigo - "Why Won't You Make Up Your Mind?", "Feels Like We Only Go Backwards" ou o incontornável "Elephant" - ou de prova mais recente - "The Less I Know The Better", "The Moment" ou o açucarado "Cause I'm A Man", minha! A plateia já eufórica perante tamanha dádiva não resistiu a gritar em pleno fôlego o nome da banda antes do encore para que não restassem dúvidas quanto à qualidade do serão. Tudo cinco estrelas... Michelin!
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