De regresso ao local do crime três anos depois, Mark Eitzel tem em Espinho um porto de abrigo notoriamente acolhedor e, certamente, inspirador. Recinto cheio e imaculado, público conhecedor e afável, praia, sol e gastronomia, incluindo as bebidas, de eleição, configurando talvez um dos poucos locais no mundo de teor tão perfeito e onde o artista se sinta "tão lá de casa" e preparado para que a sua música cumpra os desígnios certeiros de agrado, emoção e partilha. As canções foram, muitas delas, do novo e brilhante "Hey Mr. Ferryman" mas, claro, houve clássicos dos tempos dos American Music Club, principalmente a trilogia imprescindível reservada para os encores - "Blue and Grey Shirt", "Western Sky" e "Firefly". Não faltou, obviamente, a dose de sarcasmo e auto-comiseração obrigatórios em apartes, tiradas e gestos desconcertantes e humorísticos mas que por vezes roçam o incómodo e o indizível e que nos conduzem, sem o querermos, à risota sobre assuntos sérios como a morte, a doença ou a dependência, algo a que nos fomos, mal ou bem, habituando de forma inconsciente ao longo dos anos nos inúmeros concertos a que religiosamente nunca quisemos falhar. Não faltou, também, algum desacerto na afinação e entrosamento da guitarra com o restante trio instrumental, mas este é, desde sempre, um daqueles clássicos factos que Eitzel ignora e que só tem desculpa na intensidade e tensão com que se entrega ao espectáculo. Não faltou, mais uma vez, o vozeirão que engrossa e fermenta cada canção e que é, por si, só uma dádiva de rareza fina que continua a agarrar-nos, sem contemplações, a cada momento de cada serão como o de ontem. Cá o esperamos da próxima vez como se fosse a primeira...
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