domingo, 3 de dezembro de 2017

(RE)VISTO #68





















GRACE JONES: BLOODLIGHT AND BAMI
de Sophie Fiennes, BBC Films, 2017
Festival Porto/Post/Doc, Teatro Rivoli, 2 de Dezembro de 2017
A mania dos documentários sobre figuras icónicas do mundo da pop tem no recente exemplo de Grace Jones um assinalável contraditório. Preparado ao longo de cinco anos, a entrevista e a narração habituais foram totalmente dispensados pela realizadora, apostando-se em contar uma história de vida simplesmente pelas imagens e diálogos. Entre concertos, caóticas sessões de estúdio, ou estadias luxuosas em suites de hotéis, é a viagem que Jones faz à Jamaica para conviver e recordar a sua infância em família junto da mãe que nos agarra pelo inesperado das situações, das paisagens e de algumas confissões polémicas de insegurança, abuso e medo. Mas Jones, em cima do palco, sempre foi uma performer incomparável quer na intensidade teatral quer nas coreografias e figurinos que usa e abusa de forma vistosa e atraente e que, ao vivo, se afigura um espectáculo intenso a todos os níveis - impossível não notar na segurança e brilhantismo da banda que suporta as suas canções. Tal como muitos artistas, atrás desta aparente fortaleza surge uma mulher vulnerável e sentimental que sempre seguiu, para o mal e para o bem, as suas ideias e vontades no mundo difícil e frágil da moda, dos filmes e da música e que uma versão disco de "La Vie En Rose" (a gravação do tema para um programa televisivo francês é no filme uma parte hilariante...) haveria de catapultar para a fama. Talvez o rosa, como confessado, tenha algumas vezes sido substituído pelo negro, uma mutação natural tendo em conta as sete vidas sem fôlego de Grace Jones que o filme, bem feito, aborda sem preconceitos ou tabus e que deverá ser um contributo decisivo para a reposição da justiça quanto à grandeza de uma artista tantas vezes desprezada.   



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