sexta-feira, 7 de maio de 2010

RUFUS WAINWRIGHT, Coliseu do Porto, 6 de Maio de 2010


Primeira parte - as trevas
Um aviso afixado nas portas de entrada do Coliseu agradecia que, a pedido do artista, não se batessem palmas na primeira parte do concerto. Um outro aviso sonoro, mesmo antes do início, reforçava o pedido, alargado à própria entrada e saída do músico e à proibição de tirar fotografias, informando ainda que o espectáculo seria acompanhada por uma projecção de imagens. Ao piano, trajando de preto, Rufus escolheu apresentar na totalidade (?) o recente "All Days Are Nights...", um A to Z(ebulon) negro de pesar pela morte da sua mãe. Não foi fácil à plateia, surpreendentemente cheia, cumprir as referidas recomendações. Nos primeiros minutos, algumas palmas ainda soaram no fim das primeiras canções, mas logo foram abafadas por uns escrupulosos "shhhhhs". No ecrã, um olho negro, que faz a capa do disco, abria e fechava em câmara lenta, donde, por vezes, descia uma lágrima e o silêncio da sala entre os temas, criava uma tensão propositada, mas desconfortavelmente fria. No final de "Zebulon", ao fim de quase uma hora, Rufus levantou-se e, da mesma forma que entrou, percorreu vagarosamente o palco até à saída, arrastando, na penumbra, uma longa capa preta. Como perfomance, o "velório" fez algum sentido e as canções soaram irrepreensíveis, mas como concerto pop, o exagero era dispensável.
Segunda parte - a luz
Palmas, muitas palmas, para o que todos estavam à espera. Um Rufus solto, bem disposto e acutilante, para uma brilhante sequência ao jeito de best of. Sem rigor, por lá passaram, entre outros clássicos, "Going to a Town", "Nobody's off the Hook", "Dinner at Eight", "Vibrate", "Little Sister", "Memphis Skyline", "Leaving for Paris nº2", "The Art Teatcher", "Cigarettes & Chocolate Milk" e um indispensável "Poses" já no encore. Como sempre, voz e piano imbatíveis, num concerto onde, pela primeira vez, deixou a viola de lado. Para terminar, escolheu adequadamente uma versão de um tema antigo de Kate McGerrigle, sua mãe, talento que aconselhou todos a redescobrir. Fez-se luz e fez-se história - o Coliseu quase encheu para ver Rufus Wainwright. Na próxima vez vai esgotar!

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