AUTOBIOGRAPHY
de Morrissey. Londres; Penguin Classics, 2013
A carreira a solo de Morrissey, que leva já mais de uma trintena de anos, é por si só uma jornada digna de registo. Contudo, a maioria dos eternos aficionados dos The Smiths parece que aos poucos lhe foi virando as costas a que não será alheio o seu inconstante e irritante feitio, uma montanha russa de imprevisíveis afrontas, amuos, ou provocações. Basta, para isso, estar atento à serie de episódios em catadupa ao longo do corrente ano para o comprovar. É só escolher!
Serve este desabafo de um fã antigo mas desiludido, para tentar expressar, mesmo assim, a validade da biografia que o próprio decidiu escrever, um testemunho ritmado e vigoroso desde os tempos de infância numa Manchester mal amada até ao refúgio em Los Angeles. Na sua aparente sinceridade, a narrativa torna-se aditiva e sôfrega, focada na amargura de uma infância solitária, na rejeição vivida durante o ensino colegial e no despertar obstinado para a música, os concertos e os heróis, uma primeira parte do livro onde os momentos de partilha são mais saborosos de ler e, sinceramente, os mais brilhantes.
Depois, como que preparado com minúcia, começam a acentuar-se as questiúnculas legais e ilegais, os rompimentos, as separações e os eternos problemas gerados pelo fenómeno The Smiths e uma nítida fixação, os topes e os números uns. A demora de cento e quarenta páginas até aparecer o nome de Johnny Marr é um sinal de uma estratégia de vitimização ou não fosse Morrissey sinónimo de miserável, "misery", "mozzery " e "Mozz", o cognome que sempre rejeitou mas de que tanto se orgulha! A descrição em cinquenta páginas do processo em tribunal por direitos de autor contra o baixista da banda Andy Rourke é, a esse nível, uma xaropada dispensável mas que, lá está, o próprio queria certamente contar à sua maneira numa visão muito particular do imbróglio atravessada na garganta.
A mudança para Los Angeles e para a imensidão americana - "I’m
alone, of course, but that is quite usual" - confirma a obstinação com uma solidão constante mesmo que o desfile de vedetas vizinhas a querer companhia e atenção seja relatado como ofensivo e antipático. Ou seja, o homem não gosta de ninguém e parece também não gostar que gostem dele apesar de ter escrito um belo de um livro onde a vida íntima é pormenor atendendo a que Morrissey só há um, é este incompreendido e mais nenhum!
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