terça-feira, 24 de novembro de 2020

(RE)VISTO #80






















AMY - A RAPARIGA POR DETRÁS DO NOME
de Asif Kapadia. Inglaterra: On The Corner Films /Universal, 2015 
TVCine Edition, 20 de Novembro de 2020 
Partimos para a visualização deste premiado documentário (um Grammy pela música) com um travo amargo de tristeza... Saído há cinco anos, fomos adiando o sacrifício de conferir as imagens que, mesmo sem as conhecer, não queríamos ver. Aderimos à banda sonora que na altura pusemos a rodar no Ipod, essa sim, de bom grado e a fazer-nos recordar as excelentes canções que Amy Winehouse foi escrevendo e gravando ao longo da curta e trágica carreira, mesmo sabendo doutras tentativas prévias de retratar a desgraça como, por exemplo, a do Channel 5 inglês, a que fomos também resistindo. Contudo, a aparente seriedade e rigor com que este documento foi sendo continuamente classificado sempre nos ficou na memória e retina e, por isso, em fim de semana de confinamento acabamos por lhe dedicar a devida atenção. Valeu a pena? 

Não é fácil responder. A vida em zigue-zague de uma artista tão talentosa, uma "alma antiga num corpo jovem", com emulsão no jazz cantado de Tony Bennet ou Sarah Vaughn e de voz tão poderosa sempre nos causou distância imediata de tão vacinados que ficamos quando o amigo de sempre nos colocou o álbum "Frank" no iPod com a aquela recomendação sagrada "ouve isto". Percebiam-se as influências, as raízes mas flutuava, desde logo, uma originalidade e um "je ne sais quoi" tão evidentes que nunca nos pareceu estranho o êxito do álbum seguinte, o imparável "Back to Black" que o avisado Mark Ronson levou para temperar junto de uns The Dap Kings um pouco desconfiados e até na retranca. As boas sensações que as canções sempre nos transmitiram à custa de toques invariáveis de classe e primor não chegavam, mesmo assim e por muito que a música fosse sempre o mais importante, para tapar os ouvidos e os olhos ao constante ruído de uma imprensa predadora e pronta a abocanhar o troféu, o deslize, o risível e todo o resto... 

E o resto está cá todo, ou seja, o grau de fraqueza da condição humana a que nenhum poder monetário ou divino consegue pôr cobro, um limite de loucura passional descontrolado por uma alma gémea mortífera de nome Blake que, de tão doentia e, afinal, incurável, nos parece inverosímil e mesmo impossível. Fama, fortuna, vaidade, mentira, traição, cegueira ou ciúme... estão cá todas e todos nus e crus numa desgraçada dose letal que esbate uma qualquer capa da Time, da Rolling Stone e até da Blitz e que culminou num sábado à tarde de verão de 2011 com o esperado desenlace. Custou-nos, na altura, a desfazer o nó na garganta mas ele, sem querer, lá se atou outra vez ao fim de duas horas em frente à televisão e, por isso e ao contrário do prazer obtido com a audição dos discos, este é definitivamente um filme para ver penosamente uma só vez... e basta.

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