sábado, 23 de março de 2024

MANSUR BROWN, Auditório CCOP, Porto, 21 de Março de 2024

Aquando da estreia em 2018 com o álbum "Shiroi", o jovem Mansur Brown, então com vinte e um anos, era comparado na mestria da guitarra ao que Thundercat executa com um baixo ou Robert Glasper com um piano ou um Fender Rhodes. Guitarras ao alto, então, naquilo que parece um exagero a la Jimi Hendrix mas que Mansur tem sabido dosear em discos assertivos como "Heiva" (2021), onde a soul, o funk, o flamenco ou até o afrobeat se sintetizam literalmente num caldeirão instrumental e que nos dois mais recentes volumes de "Naqi" (2022) se temperou mais pausadamente num género de pacific soul aprazível. 

Não havia que enganar. A plateia bem composta e conhecedora do receituário era, pois, dessa insigne destreza saída da guitarra que estava à espera, o que foi prontamente aviado em pouco mais de uma hora de submersão sonora pelo mestre guitarrista que, para o efeito, contou com a ajuda de um baixista e um baterista. Notou-se, ainda assim, alguma verdura no entrosamento com o percutidor que, ouvimos, só na véspera se tinha juntado em estreia ao restante duo, o que não retirou ao recital nem uma pontinha de mérito. 

A celebração teve, como se pedia, aquele toque de requinte a roçar um preciosismo escorregadio que ainda faz falta e que, quase anacrónico, se reveste de uma hibridez polida e atmosférica para, lato sensu, se abastecer no e pelo jazz para contar histórias ou pintar paisagens cativantes de uma suposta exposição/assemblage. Parece fácil, mas só um prodígio como Mansur Brown o pode conseguir com tamanho nível de precisão e envolvência, um género de curadoria performática a que foi impossível resistir. Saboroso!

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