Foi dessa tensão e vibração que a perfomance se (pre)encheu desde o início com a leitura e, por vezes, uma leve cantoria de textos agrupados sob o titulo de "Correspondences" com fundo sonoro do Soundwalk Collective e projecção de belas e notáveis imagens e efeitos visuais a cargo do realizador português Pedro Maia. Tudo, por isso, de estética e justaposição narrativa intencionalmente preparada para nos obrigar à concentração e atenção ao que Smith, mesmo só em inglês, relatava e contava de forma sublime. Sem mácula ou enganos, entre golos de chã, vimo-nos submersos pelos seus discursos de permuta, de acusação, de apelo ou perigo que as imagens de fundo acentuaram na urgência da ecologia, da insubmissão ou da igualdade. Uma gramática visual e sonora que transbordou, imensa, na última sequência dedicada a Pasolini, também ele um artista irrequieto na sua múltipla e insubordinada provocação agitprop.
O encore que se seguiu trouxe ao palco a mãe Patti e a filha Jess Paris para dois temas como que desanuviadores de uma energia que se foi acumulando, pela contenção, ao longo de oitenta minutos. Já de luzes acesas e confessando a participação, como não, nas procissões de Domingos de Ramos, foram escolhidos a critério os temas "Wing" do álbum "Gone Again" (1996) e o inevitável e adorado "People Have the Power" de "Dream of Life" (1988), hino que hoje em dia se multiplica, essencial, na sua imprescindível vigência activa e vigilante e que mereceu, também por isso, coro uníssono. O poder de sonhar, esse Patti Smith há-de continuar a exaltar como ninguém! (para quando o Prémio Nobel?)
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