quinta-feira, 5 de junho de 2025

MOHAMMAD SYFKHAN + FIDJU KITXORA + KHANA BIERBOOD + USE KNIFE, Serralves em Festa, Porto, 1 de Junho de 2025

O curdo Mohammad Syfkhan toca bouzouki, instrumento popular no médio oriente de onde é originário. Não foi difícil agitar um início de tarde soalheiro com a sua alegria e festa, juntando à execução primorosa das cordas um parceiro, residente em Portugal, para o acompanhar na percussão, mas também uma base pré-gravada. Foi sempre de forma atabalhoada e quase impetuosa que, logo depois de uma curta introdução de acordes a cada tema, da máquina saíram os beats e tablas a compasso para engrossar aquele ritmo sedutor do oriente. Simpático, convidou todos à dança a que uns responderam de imediato, embora outros se tenham quedado pelo refestelo da relva. Todos, seja como for, lhe bateram muitas palmas. Irresistível!

 

O trio que se assume como Fidju Kitxora tem em Cabo Verde um laboratório vivo onde a diáspora, o colonialismo, a emigração ou o preconceito funcionam como segmentação de memória, mas, acima de tudo, de luta. O projecto comandado por André China, com base em Lisboa, serve-se da música para que as suas pesquisas se espalhem e anunciem como apelos à libertação pela assemblagem do funaná ou do semba. Esses ritmos africanos são, ainda hoje, despertadores de energias e fortes catalisadores de dança e folia que rapidamente se instalaram no antigo espaço de ténis da casa muito por culpa das travessuras do baterista e guitarrista em contínua acção. A chegada de um dançarino ao palco para uma lenta perfomance de homenagem às crianças indefesas - a todas, certamente às de Gaza, remetendo também para o nome da banda que em criolo se pode associar a "filho choroso" - haveria de resultar numa agitada e poeirenta folia colectiva. Está tudo em "Racodja", álbum do ano passado, mas o conselho é que seja ao vivo que a plenitude da façanha seja sentida. Um fulgor!

 

Sol, brisa e mais sol. Não há nada para disfarçar nos tailandeses Khana Bierbood a não ser a falta de areia e mar asiáticos que os rodeava quando começaram em 2012. De resto, é surf-rock vintage feito a rigor por personagens quase saídos do Dragonball, carregando como deve ser em todos os trejeitos e linhas desse género quase septuagenário. Baixo ondulante, teclado roufenho e muitos solos de guitarra de filtro wah-wah foram moldando as canções de letras indecifráveis, o que para o caso não teve nenhuma importância. Mais que entretido, divertido!

 

Um iraquiano e dois belgas juntaram-se sob o nome de Use Knife para engrossarem uma sonoridade de hibridez misteriosa. Um jogo sonoro oriente/ocidente que confunde géneros e que tanto pode remeter para alguma da crueza do electro como para a fragilidade da música ou canto árabes. Desse atrito resultou uma pesada camada de instrumentação que, mesmo assim, recebeu a aprovação dos muitos resistentes de uma festa diversa e inclusiva. Para o ano, espera-se, há mais!

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