segunda-feira, 2 de junho de 2025

NADAH EL SHAZLY + JULES REIDY + TRÊS TRISTES TIGRES + THE HELIOCENTRICS, Serralves em Festa, Porto, 30 de Maio de 2025

Entramos na festa mesmo a tempo da primeira descoberta - a egípcia Nadah El Shazly aprontava-se para iniciar o concerto no palco tenístico já bem composto, isto é, de público sentado na bancada, expectante. Demorou um pouco o acerto da voz e da sobreposição electrónica, mas logo que o nivelamento se estabeleceu foi possível desfrutar de uma simbiose refinada de traços árabes, a que uma harpista acrescentou todo um mistério flutuante. Seria de Shazly a primeira lembrança para a tragédia de Gaza e da Palestina, uma evocação que se viria a revelar como constante ao longo do fim de semana festivo e que sugere que os próximos festivais de primavera e verão serão de luta... como se impõe!

 

Do jovem Jules Reidy não saiu uma única palavra de cortesia ou de ocasião. Também não foi preciso. A não ser um "thank you" final, o que se ouviu e imaginou em contínuo foi um sublime e fino jogo de guitarra eléctrica, primeiro, e semi-acústica, depois, camadas de subtileza adornadas por leves líricas onde a melodia quase se contrai pelo inesperado do arrojo samplado. Na escuridão das Azinheiras, o momento serviu para se destapar "Ghost/Spirit", álbum saído em Fevereiro que gravou para a Thrill Jockey Records, momento de cinematografia sonora saborosa e futurista que as fumarolas ondulantes projectaram no sombreado. O respeito, silêncio e fixação dos espectadores "agarrados" deveriam ser medalhados. Obscuro, nunca um adjectivo fez tanto sentido.

 

Os Três Tristes Tigres vão ter álbum novo ("Arca") lá para Setembro e não se pode, por isso, desperdiçar pontos em casa, o que palco enorme do Prado se afigurava como desafiante. A banda contínua contemporânea, incomodada quanto baste, remexendo em antiguidades de corte e cose reciclado e incisivo que se alinham de forma surpreendente com as novas canções. Sem tempo para acústicas, é ainda a guitarra inconfundível de Alexandre Soares a comandar a turba numa onda rock de alguma dureza, o que deve ter desiludido quem se preparava para cantar em coro velhos êxitos, não muitos. Duro, mas necessário, o apelo à indignação quanto à triste situação palestiniana... 

 

Os The Heliocentrics têm sido visita nortenha desde, salvo o erro, o saudoso Milhões de Festa (2018?) e até um desafiante filme/concerto no Curtas de Vila do Conce (2019). De ambas as vezes pecamos e não comparecemos. Seria indesculpável cair no mesmo erro e, por isso, fila da frente! 

O colectivo londrino, que vai refazendo músicos e vocalistas, têm no mentor e baterista Malcom Catto o pino rotundo de uma centrifugação de géneros, do jazz ao prog psicadélico, que logo em dezoito minutos de abertura se confirmou como notável. A enchente auditiva teve depois na irrequieta Barbora Patkova na frente de palco, um vozeirão que regulou a extensão sonora, para bem e para o mal, já que nos pareceu que é, e foi, na magistral complementaridade e crescendo dos instrumentos que o grupo atinge a melhor e mais vibrante onda. De qualquer das maneiras, muito bom!     

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