A procura de bilhetes para acesso restrito ao recinto, nesta e noutras ocasiões, têm motivado verdadeiras colas madrugadoras e, apesar da inscrição online atempada, a sofreguidão informática pareceu-nos resultar em banhada e desilusão. Mas eis que, por milagre da Virgem do Carmo, se confirmou a compra de um, e só um, boleto. Preço: 15€!
O recinto, na hora da chegada, estava já bastante preenchido na bancada granítica que rodeia o palco, espaço de acesso livre, sem necessidade de bilhete ou controle, onde uma concentração assinalável de lancheiras e garrafame se fazia já notar. Perto do palco, os pagantes, onde orgulhosamente nos incluímos, haveriam de preencher sem pressas o terreiro, pouco relvado, até ao momento em que o alcaide local irrompeu palco dentro para reafirmar o orgulho na presença da banda, um verdadeiro achado rockero, dizemos nós, atendendo ao programa sofrível agendado para o verão. Mande sempre Sr. Caballero, e para o ano, já sabe, não se esqueça do Jack White!
Sem aquecimento, que assim ficou mais barato, os The Black Keys também não necessitaram de cortesias prévias. O carburante está há muito tempo (2001!) infiltrado na máquina, apesar de alguns emperros temporários da dupla, e não foi difícil prever a sua perfeita engrenagem - Dan Auerbach assumiu-se como o frontman guitarrista (aquele "Weight of Love"...) e principal vocalista de uma torrente de canções em catadupa, sem direito a mimos ou frescuras, que o rock quer-se sem gelo e de enfiada. Não se perdeu tempo, por isso, com muitas apresentações ou salamaleques aos restantes músicos (4) e nem Patrick Carney, o baterista e produtor parceiro, teve direito a solar como, às tantas, deveria ter acontecido/merecido.
O alinhamento, um pouco mais curto que o habitualmente escolhido na corrente digressão, não desiludiu ninguém, repleto que esteve de uma colecção de hits e preferências dos aficionados, alguns com direito a coro colectivo como, quase logo a abrir, em "Gold on the Ceiling", "Fever", "Tighten Up" ou "Howlin' for You", pedradas agitadoras, ainda hoje, certeiras. Pelo meio, uma dupla de canções novas ("Man on a Mission" e "No Rain, No Flowers" de um disco de originais a sair já em Agosto) e uma versão escorreita e a matar de "On the Road Again" dos Canned Heat, hipnótico com quase sessenta anos! O encore previa-se memorável.
A escolha de "Little Black Submarines", semi-balada acústica que é rematada já em plena electricidade, serviu para que o recinto fosse banhado por luzes móveis e preparou a respiração para o incontornável "Lonely Boy", hino intergeracional de irresistível riff e dança comunitária que um tele-disco icónico haveria de eternizar. Ohhhh, oh, oh, ohhhhhhh, que grande concerto!
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