A colaboração do pianista de jazz com a mezzo-soprano sueca tem no disco "Love Songs" editado o ano transacto um trabalho interessante mas algo desequilibrado. Juntando aos originas de Mehldau compostos para poemas da americana Sara Teasdale (1884-1933) cantados por Von Otter, há um segundo disco de versões de clássicos de Joni Mitchel, Beatles, Léo Ferre, Becaud, etc. que são no seu conjunto uma receita pop atractiva a fazer lembrar o magnífico álbum ("From the Stars") que Von Otter gravou com Elvis Costello e pelas quais (des)esperamos pacientemente... Na primeira parte, o duo percorreu, em mais de uma dúzia de pequenas canções, um reportório romântico de Grieg, Sibelius, Strauss e Brahms, interpretados em escandinavo ou alemão e onde foi notória a leveza e segurança da voz de Von Otter, perfeitamente à vontade neste tipo de registo. Mais que um aquecimento, este momento surpreendeu os mais renitentes e teve ainda em dois solos de Mehldau, às voltas com andamentos de Brahms, uma ovação forte e merecida. Depois de um intervalo, apresentou-se, então, o referido disco donde se retiraram cinco dos sete originais. Embora o inglês de Von Otter soasse sempre intocável, alguma da rigidez das frases impediu que Mehldau se soltasse e o resultado, tal como no disco, nunca deslumbrou. Ao contrário, quando se elegeram algumas das versões, o espectáculo ganhou mais palmas e até alguns bravos. Começaram, nesta última parte, com dois temas de Michel Legrand - "Chanson de Maxence " e "Moulins de mon coeur" - e este, apesar de não estar incluído no disco, foi sem dúvida a surpresa e o momento sepulcral da noite. Tempo ainda para recuperar, entre outros, "Baby Plays Around" de Costello, "Blackbird" de Lennon e McCartney com muita improvisação e arriscar um português satisfatório em "Desafinado" e "Insensatez", já em inglês, de Jobim. Nova surpresa, uma outra jóia de Joni Mitchel ("Michael From the Mountains") substituiu o gravado em disco "Marcie" e "Somethig Good" do filme "Música no Coração", no segundo encore, serviu como remate de um excelente serão de música. Bem suspiramos por Bécaud ou Ferré, mas foi melhor assim, de forma a evitar a lágrima ao canto do olho...
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