segunda-feira, 28 de março de 2011

MISSA DO GALO, Teatro Constantino Nery, Matosinhos, 27 de Março 2011














Em Dia Mundial de Teatro o apelo por uma cantata pop da autoria de Carlos Tê e do ex-Trovante Manuel Paulo parecia irresistível. Bilhetes a rarear, mas mesmo em cima da hora e depois de algumas desistências, lá conseguimos o acesso à última matinée. Valeu a pena o esforço! Uma hora e meia bem ritmada, entre canções e textos acutilantes que só um Tê muito atento conseguiria construir. Chama-se (chamava-se...) a peça "Missa do Galo", de inspiração directa nas velhas missas transmontanas com desgarradas em forma de Evangelho. O galo, neste caso, é o Homem, ou seja todos nós. Destaque para António Durães no papel do pecador no poleiro a quem os males da humanidade são atribuídos, revisitando os seus medos e temores, sempre espicaçado por cinco jovens actores que tanto podem ser vendedores de banha da cobra, bobos, técnicos de estatística ou uma loura burra e também figuras bíblicas como Lázaro ou Job. Os alertas são constantes para os caminhos errados do passado e para os seus reflexos no presente. Entre assuntos sérios como a solidão, o individualismo ou a usura, somos bombardeados com paradas e respostas hilariantes que envolvem telemóveis, redes sociais, faróis de xénon, tunas académicas ou gunas de auscultadores, a que se juntam (18) canções. O cenário, uma gaiola gigante a funcionar de galinheiro, inclui uma banda de cinco elementos que dá música a muitas das letras à Tê, embora a colheita sonora tenha alguns altos e baixos. As vozes, essas sim, estiveram sempre muito seguras e os jovens actores são uma bela surpresa na cantoria. Tudo acaba literalmente no tacho, transformando o galo à rasca num arroz de cabidela da crise, o que em tempos de tantas incertezas e sacrifícios, não podia ser mais certeiro. Na mouche, senhor Tê!

Sem comentários: