segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
(RE)LIDO #45
LOWSIDE OF THE ROAD
A LIFE OF TOM WAITS
de Barney Hoskyns. Londres: Faber & Faber, 2009
O sub-título desta imensa biografia não é, certamente, inocente. Trata-se das poucas tentativas de documentar não oficialmente uma vida de Tom Waits, tarefa hercúlea onde Barney Hoskyns, aficionado que já esteve pela Invicta, aposta numa intrincada e diversificada recolha de fontes indirectas. A aventura afigura-se complicada mas notoriamente compensadora e prazenteira para um fã assumido do génio e da sua música. Sempre fugidio a vedetismos, imiscuições privadas ou entrevistas de fundo, retratar Waits resulta, mesmo assim, num exercício de fascínio e descoberta de inúmeras respostas a perguntas que sempre nos intrigaram, das mais banais aquelas de solução mais rebuscada. A vantagem ou desvantagem, dependendo do ponto de vista, é que o autor dispensa poucas páginas a contar historietas paralelas para se concentrar um pouco exageradamente no essencial: a construção das canções, as influências, as amizades importantes, os músicos, os concertos e os discos desde 1973 (Closing Time) até 2006 (Orphans). Demora tempo, assim, a percorrer tamanha dose de informação, mas acabar o livro quase ao fim de um ano de cabeceira não é sinal de aborrecimento ou enfado. É necessária concentração, fazer ligações, assentar ideias e ler devagar para perceber razões, saborear surpresas e, obviamente, este é o tipo de literatura que requer disposição... Entre tantas coisas e poucas loisas, fez-se luz sobre a rouquidão da voz, a mais que amizade com Rickie Lee Jones, a relutante faceta de actor, quem foi a tal Matilda dinamarquesa que deu origem a uma das melhores canções de sempre ou o acaso do álbum maravilha com Crystal Gale para o filme "One From the Heart" a convite de Coppola, momento muito importante pois aí conheceu Kathleen Brennam, com quem haveria de casar (1980) e mudar de vida. A carreira passa, então, a estar mais controlada, a família ganha uma importância vital e o mito cresce em inacessibilidade e ecletismo. As digressões contam-se pelos dedos e ver Waits ao vivo passa a ser uma aspiração sufocante para meio mundo. O que vale a internet abre-se para arquivos e imagens que reduzem as distâncias, aguçam a curiosidade, confirmando e revelando histórias que só Waits sabe contar (como as do Storytellers da VH1, ainda hoje maravilhosas) mas que não chegam para disfarçar o mau estar do autor por Waits (ou supostamente a própria Kathleen) ter avisado todos os amigos e músicos que as respostas às perguntas de Hoskyns tinham como destino uma biografia não autorizada! Atendendo a este e a muitos outros constrangimentos, estamos perante uma obra cujo grau de credibilidade só mesmo o próprio artista poderá confirmar. Hoje, tempos em que tal figurão supremo da santidade rock dita moderna aparece a dar voz em episódios dos Simpsons ou que permite que Corbijn o fotografe para a posteridade para livros de luxo, vamos ficar à espera que um qualquer milagre o aproxime da nossa vista não numa televisão 3D mas sim a três dimensões realmente presenciais para lhe perguntar se ele leu efectivamente o livro... Não vamos desistir facilmente como uns maiorquinos! Estamos, claro, a brincar, tal como Waits continua a fazer como mais ninguém.
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