Com as pernas a pesar e o sono a fazer mossa, só mesmo o alto nível e a qualidade dos concertos nos manteve irresistivelmente despertos até ao dealbar do sol. Memorável dia... e noite!
Hebronix, Palco ATP |
Encostados à grade, como alguns, a pergunta foi imediata - mas o que raio é isto? Chamam-se Hebronix, são em palco um duo de violino e guitarra, num aglomerado de alguma intimidade noise que funciona como experiência instrumental e alguma voz. O projecto pertence a Daniel Blumberg, líder dos recomendáveis Yuck, e foram muitos os que não arredaram pé para planar até ao fim. Surpresa quase irreal (o disco chama-se, lá está, "Unreal") que urge descobrir.
Lee Ranaldo & The Dust, Palco Super Bock |
O caminho a solo dos membros dos Sonic Youth tem em Portugal um reduto privilegiado. Não que isso seja mau e nos últimos anos temos assistido amiúde a regressos quase semestrais ora de uns ora de outros. Por isso mesmo, as novidades de Lee Ranaldo foram poucas ou nenhumas, apesar da competência, da simpatia, do Steve Shelley e da qualidade do som. Visto e revisto.
Yamantaka // Sonic Titan, Palco ATP |
O palco ATP é uma caixinha de surpresas. Este colectivo baptizado de Yamantaka // Sonic Titan, trajado e pintado a rigor, devia motivar um campeonato de classificações mas podemos começar pela oficial - banda psicadélica de ópera noh-wave! É bom? Irresistível é com certeza, uma mistura de metal progressivo (o quê?) e um orientalismo cénico que tem sede em Montreal mas podia ser em Berlim ou em Lima. De dimensão sónica apreciável, as memórias vivas do Primavera deste ano vão passar pela pergunta "Viste as japonesas?" Resposta aqui da casa: de princípio ao fim!
Claro que tamanha aventura teve danos talvez irreparáveis - dez foram os minutos para estacar ao longe e sorver os Neutral Milk Hotel. Pela quantidade de palmas, pela satisfação de Jeff Magnum e companhia teremos perdido, certamente, um bom concerto. Paciência... próximo!
John Grant, Palco Super Bock |
Por falar em memórias, ora aqui está um dos momentos altos de todo o festival. O senhor John Grant trouxe os amigos irlandeses para engrandecer as suas canções e o resultado foi brutal. Som límpido e tratado (finalmente!), público conhecedor e um alinhamento que abanou todo o anfiteatro ("Black Belt"), soltou a cantoria colectiva ("GMF" ou "Vietman") e accionou múltiplos tremores ("Where Dreams Go To Die" ou "Glacier"). Mas foi com "The Queen of Danmark", a fechar, que Grant nos fez soltar ainda mais a garganta e fechar os olhos. Grandioso é pouco!
The National, Palco NOS |
Curioso, num comentário do amigo habitual, como os The National chegaram a esta dimensão ao fim de tantos anos de luta. Mereceram a imensa plateia, embora o som do palco principal, mais uma vez, não estivesse grande coisa. Ainda ouvimos não muito bem colocados, entre outros, o "Mistaken For Stangers", o "Sorrow" em dueto com Annie Clark/St. Vincent ou o "Bloodbuzz Ohio", mas um "chamamento divino" fez-nos partir colina acima para uma cerimónia com data e hora marcada...
Charles Bradley, Palco ATP |
Ladies & Gentleman Mr. Charles Bradley! Imponente no seu fato e capa vermelha o fenómeno da soul arrebatou tudo e todos com uma banda clássica com os metais a gingar, duas guitarras ao desafio e um Hammond a olear a máquina. Depois há ainda o baixo fatal e a voz rouca e potente de um homem que todos descobrimos há pouco tempo mas que, sem sabermos, conhecemos há muito na sua sinceridade e amor pela música. Pena que tudo tenha terminado num ápice e foi mesmo bom ver os sorrisos nas caras e o brilho nos olhos de todos os que se renderam ao seu charme. Memorável!
St. Vincent, Palco Super Bock |
O mundo da pop não tem tido nos últimos anos muitos abanões. Uma das excepções chama-se Annie Clark escondida em discos atrás de St. Vincent, trabalhos consistentes e até arriscados. Ao vivo a depuração pode não ser tão notória mas o espectáculo de ontem teve tanto de vibrante como de carismático, com uma artista cativante na sua voz e inseparável guitarra, onde sem grandes arrebatamentos, é certo, não deixou ninguém indiferente. Clark concebeu um espectáculo sem mácula e onde a grandes canções ("Digital Witness", "Cruel" ou "Birth in Reverse") se aliam poses sedutoras e cenografias ensaiadas, numa receita visualmente sedutora e sonoridade requintada.
!!! (Chk, Chk, Chk), Palco NOS |
A festa dos !!! (Chk, Chk, Chk) não seria difícil de prever. Último concerto da noite, o último no palco principal e um Nic Offer, como sempre, sem rédea, resultou numa aclamada funkalhada de princípio ao fim. Incrível na sua dose energética, Offer partiu a loiça na frente, no fundo e nos lados do imenso palco e atirou-se para apertos e amassos entre o público para desespero da segurança e regozijo da trupe. A banda esteve uns dias no Porto a ensaiar novos temas em pleno Hard Club e, sendo assim, não precisou de muito tempo para carburar a todo o gás, desfilando temas em contínuo num alinhamento que privilegiou o último "Thr!!!er" e donde saíram pedradas como "Except Death", "One Girl /One Boy" e o mais que certeiro "Get That Rhythm Right". As pernas massacradas só pediam "pára, pára!" mas como resistir a tamanho balanço?
Ty Segall, Palco ATP |
Mesmo de rastos, esta era uma oportunidade imperdível - Ty Segall, o puto do rock esgalhado e sem freio estava no palco ATP a acelerar e, por isso, bute... Irrequieto e explosivo, Segall comanda uma banda de bateria e outra guitarra e com um magnífico Mikal Cronin no baixo (!!!) que incendiou e atiçou a plateia sem grande esforço. O próprio não resistiu a elevar-se em intenso crowd surfing mesmo no final enquanto a banda o procurava lá bem no meio do público. Meia-hora de abanão para terminar uma maratona triunfante. Para o ano, está confirmado, há mais!
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