sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
(RE)VISTO #66
GIMME DANGER
de Jim Jarmusch. EUA, 2016.
porto/post/doc, Teatro Rivoli, 30 de Novembro de 2016
A admiração de Jim Jarmusch por Iggy Pop e pela sua figura revolucionária do pré-punk americano conduziu-o na aventura de realizar um filme sobre o assunto. Já o tinha feito com Neil Young em 1997 com "The Year of The Horse" sem grandes deslumbramento mas com enorme competência e, por isso, mais valia não arriscar demasiado. Concentrando a narrativa no período mais febril da banda iniciado em 1969 com o primeiro disco homónimo e o derradeiro "Raw Power" de 1973 e com esse monumento chamado "Fun House" de 1970 pelo meio, Jarmusch põe literalmente Iggy Pop a falar em nome próprio sobre os altos e baixos de um trajecto intenso, rápido, demasiado rápido, dos The Stooges, uns estarolas sem freio, sem medo e no fio da navalha do rock. Um perigo instalado numa época de "paz & amor" a precisar de rompimento, agressividade e assalto a um mundo da música demasiado comodista - banda nova, bons concertos, contrato imediato, vender muitos discos e... lucro! Iggy Pop, personagem que sempre nos sugeriu inexplicavelmente alguma antipatia, cedo tentou não se amarrar a este status quo dito capitalista e a ousadia teve obviamente consequências que são relatadas naturalmente e até de forma humorística em testemunhos diversos dos próprios músicos. Contudo, o documento mesmo socorrendo-se de variadas imagens de filmes antigos, banda desenhada e punch-lines que nos fazem sorrir, acaba por no final soprar uma baforada de tristeza em que o mundo do rock é pródigo e que alia o exagero à droga e, consequentemente, à morte. Mesmo que o resultado seja, mais uma vez, de uma enorme competência, só o facto de termos o privilégio, nos tempos que correm, de assistir à projecção de tamanha aventura numa sala de cinema composta, interessada e atenta é a melhor homenagem que se pode fazer a uma banda essencial que adubou sem fertilizantes (ok, houveram alguns...) muitas das boas raízes da música moderna.
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