segunda-feira, 10 de setembro de 2018

LA FORCE + FEIST, Theatro Circo, Braga, 8 de Setembro de 2018

O verdadeiro laboratório sonoro canadiano que dá pelo nome de Broken Social Scene tem por experimentador mor o rapazote Kevin Drew mas por lá circulam inúmeros outros músicos de proximidade interessados em aprender a inovar. É (foi?) o caso de Ariel Engle, ou seja, La Force que por aí fez boas amizades como a que levou Leslie Feist a convidá-la a vir à Europa "to play some songs". Sozinha, por isso, pegou na guitarra eléctrica, juntou-lhe na maioria dos casos uns loops pré-gravados e a oportunidade de estrear uma mão cheia de boas canções do disco do ano passado "Hug of Thunder", um momento bem recebido principalmente quando Feist, de fininho, se juntou num dueto à guitarra mesmo a terminar. Prometido está o regresso para abrir para outro amigo, Patrick Watson, em quatro concertos marcados para Dezembro. 

Feito o aquecimento, demorou, contudo, a chamada para o "jogo". Isto das primeiras partes até que pode e deve funcionar, mas a mais de meia-hora de espera entre actos já com a parafernália toda pré-montada pareceu-nos exagerada e mirradora. E Feist bem que precisava de bons estímulos. Já em palco, fresca, de vestes floridas, sacou do telemóvel e fê-lo debitar em português colonial uma série de explicações sobre a sua estadia por cá e a tentativa de reabilitação da voz dos últimos dias, mensagens a motivar sorrisos mas óbvias preocupações na plateia esgotada. Começou, então, um género de concerto a solo de três quartos de hora só para testar o grau do dano e onde fez desfilar, logo ali, uma série de pérolas ao nível de "Gatekeeper" com indisfarçável freio vocal mas, ainda assim, de notável atributo e a que se respondeu a preceito com fortes palmas e incentivos. São tantas as boas canções e temas da sua já longa carreira que entre as escolhidas, para além das melhores do último "Pleasure", anotamos somente a omissão da versão de "Inside Out" dos Bee Gees já que todos os outros "clássicos" acabaram executados com ou sem banda que entretanto se haveria de juntar. Tudo com categoria, com subtileza e com uma dose de amadurecimento que jogou com as melodias de forma valiosa seja na cumplicidade da guitarra e do violino ou na delicadeza da percussão, um registo que fez esquecer que a tal voz afinal não estava ainda no ponto. Lá para o fim, vieram os incontornáveis "My Moon My Man" ou um agitador "I Feel It All" para tudo terminar com um quase irreconhecível "1234", a prova que a reinvenção artística está somente ao alcance de um punhado de predestinados talentos. Para sorte nossa e sejam quais forem as circunstâncias e contratempos, Leslie Feist é um deles! 

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