quinta-feira, 20 de setembro de 2018

MERCURY REV, Teatro da Afundación, Vigo, 18 de Setembro de 2018

Em 1995 os Mercury Rev assumiam-se com uma banda plena de esperança. O álbum "See You On The Other Side" era um aposta séria no sucesso que até aí tinha faltado, um esforço profissional e pessoal arriscado mas que o impacto quase nulo no meio musical e o então fenómeno chamado "Brit Pop" deitariam irremediavelmente por terra. Rendidos ao esquecimento, Grasshopper e Donahue regressaram tristonhos ao lar norte-americano de Catskill Mountains onde, sem rumo, começaram um lento pousio artístico amiúde interrompido na composição receosa de canções madrugadoras. Os esboços acústicos do que seria, afinal, o seu maior êxito comercial, foram gravados em cassete para dar a ouvir aos amigos e tornou-se numa surpreendente bola de neve que o amigo David Fridmann haveria depois de transformar num monumento orquestral chamado "Deserter's Songs" lançado em 1998. Algumas dessas demos que podemos ouvir numa edição deluxe de 2011, confirmam a delicadeza, a fragilidade e até intimidade das composições, mas, passados vinte anos chegou finalmente o momento certo para as escutar condignamente em jeito de celebração. A sala galega mostrou-se, pois, um cenário perfeito para o descarnar de um disco intemporal, nocturno como nos habituamos e emocionamos a ouvir e onde as canções, sem seguir o alinhamento original, foram uma fonte contínua de recordações e sensações que uma plateia quase cheia e nitidamente envolvida há muito aguardava pelo seu efeito mágico. Com a ajuda de um guitarrista e teclista, os arranjos deram primazia a subtilezas que quase todos nos esquecemos, sejam o maravilhoso trompete em "Holes", a flauta em "Opus 40" e até a lâmina do serrote no pedacinho "I Collect Coins" mas é difícil de escolher um tema, um momento, ou um arrebatamento, incluíndo extras de alto calibre como a magnífica versão de "Here" dos Pavement (nalguns concertos tocam também "Sea Of Teath" dos Sparklehorse que, desgraçadamente, não foi alinhado...) ou "The Dark Is Rising" que abriria o disco seguinte "Al Is Dream" mas que, esticado em êxtase, funcionou como apogeu profético de uma serão intenso e caloroso. Afinal, in my dreams I'm always strong...

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