Um novo álbum de Peter Broderick chamado "Blackberry" deu fruto no dia de hoje, o primeiro em cinco anos com a sua voz aplicada a oito canções tituladas pelo próprio num curto e engraçado video como experimental-bedroom-pop-folk-yum-yum! Para já, só os pequenos trechos abaixo podem ser escutados mas nos próximos dias estão prometidos videos caseiros para a totalidade dos temas à volta da família, da natureza, da contaminação tecnológica ou da alimentação biológica e de que as amoras colhidas e comidas na juventude lhe recordam o quanto este fruto, mesmo em ambiente urbano, se apresenta risiliente e saboroso.
O disco foi gravado no seu quarto londrino no verão passado com a ajuda de Brigid Mae Power e do filho Sean Power e terá edição física partir do final de Outubro na Erased Tapes inglesa, sendo o vinil translúcido, obviamente, de cor de amora!
A dita e há muito adulterada jornada das lojas de discos Record Store Day tem data certa em Abril mas as circunstâncias levaram ao adiamento da comemoração que este ano tem no dia de amanhã o primeiro de três sábados de edições (29 de Agosto, 26 de Setembro e 24 de Outubro) para todos os (des)gostos. Da lista, extensa, estamos a rezar por estas tentações...
A série de cinco EP com quatro canções que os maravilhosos Dirty Projectors se propuseram compor, gravar e publicar em 2020 teve início em Março com a saída de "Windows Open" onde a primazia da voz cabia à guitarrista Maia Friedman. Seguiu-se, em Junho, "Flight Tower" com a percursionista Felicia Douglass a liderar as canções mas, como combinado, com o contributo indispensável dos restantes membros - o concerto caseiro de "secretária" entretanto disponibilizado é a prova de que esta rodagem funcional é espectacular - o que tornará a acontecer já em Setembro com o terceiro EP. Chegará, então, a vez do mentor e líder David Longstreth se envolver nas melodias através de uma guitarra acústica, instrumento fulcral na recriação de uma sonoridade mais íntima e aproximada a Arthur Russell, Chet Baker e ao pioneiro da bossa nova João Gilberto, razão do título escolhido, "Super João"!
Ficará, depois, a faltar a oportunidade dada à teclista Kristin Slipp num quarto 12" que sairá em conjunto com os restantes em Novembro e que contempla o disco final onde todas partilham os microfones. Prometida está uma bonita caixa de edição limitada para guardar as cinco rodelas coloridas e, obviamente, as vinte canções!
Sem um lançamento oficial, a versão de "Gold Dust Woman" que Julia Holter realizou para o clássico dos Fleetwood Mac de 1973 aquando de um especial promovido pela revista Mojo em Janeiro de 2003, mantinha-se a flutuar esquecida pela rede. Há agora uma edição cuidada e autorizada para circulação a cargo da Domino Recordings, uma aspiração antiga da artista que, na altura, tinha nesta cover de Stevie Nicks e na sua vibração um ponto chave para o início da sua carreira como autora de canções e as primeiras aventuras em cima de um palco. Bem diferente de uma outra, mais antiga, e um perfeito buraco...
O álbum de estreia "At Weddings" da menina Sarah Beth Tomberlin, saído em 2018, é um daqueles pedacinhos de folk intemporal de canções harmoniosas e quase inocentes de que "Seventeen" funciona como um exemplo perfeito. Ainda tentamos experimentar ao vivo tamanha simplicidade aquando da visita de fim de tarde ao Parque da Cidade em Junho do ano passado mas a concorrência de peso (Lucy Dacus e Big Thief) impediu, à mesma hora, a desejada comparência...
Anuncia-se agora o regresso aos discos através de um EP a sair em Outubro na Saddle Creek com direito a edição especial em picture disc onde cabem quatro novas canções registadas com a ajuda do produtor Alex Giannascoli e de Sam Acchione, companheiro em muitos dos palcos nas digressões dos últimos anos. É com "Wasted" que se dá a conhecer este novo trabalho chamado "Projections", tendo o respectivo video sido filmado durante a quarentena com o simples recurso a um iPhone... dos bons, tal como a canção!
WILCOPEDIA A Comprehensive Guide to the Music of America's Best Band de Daniel Cook Johnson. London; Jawbone Press, 2019
Nos últimos vinte cinco anos os Wilco alcançaram um estatuto de melhor banda americana e, por isso, o subtítulo deste livro não sofre aqui na casa qualquer contestação... Antes desse desiderato, já uma semente da mesma cepa Jeff Tweedy chamada Uncle Tupelo fez algum furor em álbuns que o livro do próprio editado um pouco antes nos faz o favor de recordar. Este manual é, assim, um repositório cronológico da totalidade desses projectos de especialidade separados por entradas e saídas de músicos, discos, canções, videos, aparições televisivas ou versões que a banda de Chicago não tem parado maravilhosamente de editar e propagar sob vigilância atenta de fãs convictos ou contestatários mas sempre fiéis.
Sem exageros de forma, ou seja, sem informação massiva ou dita desnecessária, o repositório seleccionado funciona como uma estatística infinita sobre as canções e o seu grau de satisfação do ponto de vista do utilizador/ouvinte, não se perdendo muito tempo na análise das suas supostas inspirações ou motivações, focando o alvo nos dados confirmados e disponibilizados em entrevistas a jornais ou revistas mas multiplicados sem conta através da internet em podcasts, listas de concertos e os seus alinhamentos, videos de fãs ou reposições de programas de rádio. A façanha do seu autor é, por isso, uma notável, monumental e dura recolha de informações obviamente destinada a um público-alvo que se emaranha notoriamente pela vastidão americana mas também na diversidade europeia onde a banda continua a ter palco e adoração permanente e exigente.
Não deixando para trás outros livros já existentes sobre os Wilco e a própria e referida biografia escrita por Tweedy, a enciclopédia confirma a extensão e abrangência da música por vezes inclassificável do sexteto, uma contínua roda de pop, rock, punk ou folk de evolução maturada no The Loft, casa-estúdio próprio que é a base de uma inclassificável tensão positiva transposta para cima de um palco, benção que já tivemos e vamos querer, sempre que possível, repetir vezes sem conta.
Mesmo que já precise de actualização - a obra só não cobre logicamente o último de originais editado em 2020 - aqui está um precioso documento de eterna consulta e de contínua aprendizagem surpresa e de que são exemplo efectivo que esse monumento-canção chamado "Impossible Germany" tem uma outra cantilena parceira e gémea ("Unlikely Japan") ou que, sim, os Wilco fizeram em 2013 uma versão do "Get Lucky"!
MÃO MORTA + COLDPLAY + THE FLAMING LIPS + MR. BUNGLE, Festival Paredes de Coura, 13 de Agosto de 2000
. Público, por Tiago Luz Pedro, fotografia de José Miguel Teles, 15 de Agosto de 2000, p. 21
. DN+/Diário de Notícias, por Nuno Galopim, fotografias de Ursula Zangger, 19 de Agosto de 2000, p. 10 e 11
A previsão feita em Junho sobre a aproximação de um novo álbum de Keaton Henson teve ontem plena confirmação - através de um mensagem cifrada prontamente descodificada pelos fãs, o artista pede desculpa (!) pela longa ausência de dois anos passados num labor, simultaneamente, penoso e alegre que decorreu, em parte, nas terras geladas e agrestes do Canadá, como adiantado. O álbum tem o nome de "Monument", sai a 23 de Outubro e entre as onze canções estão as duas previamente divulgadas ("Ontario" e "Career Day") a que se junta por agora o novo single "Prayer" com video dirigido pela prestigiada Gee Jower, a responsável pela Stink Films.
Na loja online entretanto disponibilizada para aquisição do disco surge ainda uma outra novidade - um livro inédito de poesia ilustrada pelo próprio, volume de quase cento e cinquenta páginas em modo autobiográfico e assumidamente íntimo sobre as memórias de uma vida, titulado "Accident Dancing". Certamente, mais um monumento!
Se no testemunho vivido aquando da passagem de David Allred por Coimbra o pressentíamos como um multi-instrumentista de alargado e previsível crescimento artístico, o corrente e estranho ano confirma a sua vontade e tenacidade em dilatar horizontes e experiências - são já três, sim três, os álbuns editados nestes primeiros oito meses, o último dos quais saído a semana passada na ecléctica Erased Tapes, num total aproximado de trinta canções registadas!
Chamado de forma enigmática "Baba Bruloakr", o trabalho foi cimentado entre cinco poisos inspiradores, a saber, a natalícia Portland no Oregon, Vancouver em Washington, Loomis em plena California e as europeias cidades de Londres e Durbe na Letónia onde captou a fotografia escolhida para a capa, urbe antiga contemplada na última digressão realizada em Outubro do ano passado e que mereceu inspiração para, pelo menos, duas canções ("Durbe" e "Song for Latvia"). A música e respectivos instrumentos - contamos pelo menos oito - são da sua exclusiva execução com a habitual e cúmplice excepção do amigo Peter Broderick na voz e violino durante o tema "It By Ear".
No âmbito da edição do álbum "Set My Heart On Fire Immediately", Mike Hadreas akaPerfume Genius lançou o repto aos seus fãs para criarem um video alusivo ao tema "Without You" dentro dos limites das famigeradas regras sanitárias e de distanciamento. O período para submeter os proto-trabalhos videográficos decorreu no final de Maio e início de Junho e a selecção de três deles aconteceu logo depois. Ao projecto artístico associou-se uma intenção solidária já que cada vencedor, para além do mínimo de mil dólares ou mais para a produção definitiva do video, teria de indicar uma organização de caridade ou solidariedade a quem seria atribuído parte do prémio através de um donativo de mil dólares.
Foram estes, então, os fãs eleitos como vencedores e com quem Hadreas manteve uma animada "videoconversa": Liz Lian que destinou a ajuda à The American Civil Liberties Union (ACLU), Samantha Mitchell elegeu a The Baltimore Chapter of the Sex Workers Outreach Project e Kristin Massa, cujo video foi conhecido hoje, escolheu a organização RAICES. Parabéns!
MAXIMO PARK + DEVENDRA BANHART + OASIS + KASABIAN + LCD SOUNDSYSTEM + HOTCHIP, Festival Sudoeste, Zambujeira do Mar, 5 de Agosto de 2005
. Jornal de Notícias, por Cláudia Luís e Cristiano Pereira, fotografias de Pedro Correia, 7 de Agosto de 2005, p. 36
. Diário de Notícias, por Mário Lopes e Davide Pinheiro, fotografia de Rodrigo Cabrita, 7 de Agosto de 2005, p. 32 e 33
. Público, por Kathleen Gomes e Eurico Monchique, fotografias de Rui Gaudêncio, 7 de Agosto de 2005, p. 40 e 41
Se para muitos músicos e bandas europeias, e não só, os últimos meses foram de trabalho caseiro e à distância, para Erlend Oye a chegada da Covid 19 coincidiu com o agendamento de uma ronda de concertos no México com os The Whitest Boy Alive, um regresso já saudado por estas bandas. A viagem feita no início de Março tinha São José del Cabo, Baja California, o ponto de encontro do quarteto convidado para uma estadia no Hotel El Ganzo mas, entretanto, o refinamento das condições sanitárias impostas impediram que dois dos parceiros vindos da Alemanha e Itália conseguissem comparecer, o que só se verificou com o baterista Sebastian Maschat, em trânsito desde a Costa Rica.
Assim e com um estúdio no próprio hotel, a oportunidade não se deu por perdida. Surpreendido com a informação que Maschat também escrevia canções e de que Jorge Aguilar, produtor, dono do hotel e agente da banda na América do Sul, insistia nas potencialidades do momento, compraram-se alguns instrumentos online e o processo desenvolveu-se rapidamente - aprender e ensaiar as canções de manhã para as gravar à tarde em duas ou três tentativas, umas da autoria de Maschat, fonte até aí desconhecida, outras compostas no momento pelo colectivo temporário de um quinteto de isolados - a que se juntou ainda Clara Cebrian, outra artista em residência no mesmo local - mas com tempo para alguns banhos de bar e passeatas tropicais apesar do confinamento. Destes tempos inusitados foi realizado um filme pelo próprio Aguilar, hábito que cultiva sempre que algo de semelhante acontece e que pode ser, desde já, parcialmente visto para matar a curiosidade. O resultado final de treze temas chamado "Quarentine in El Ganzo" foi ontem publicado digitalmente pela Bubbles Records. Quarentime...