segunda-feira, 7 de abril de 2025

MARK EITZEL & OCTETO DE CORDAS, Auditório de Espinho, 4 de Abril de 2025

Os últimos anos não têm sido nada fáceis para Mark Eitzel - sustos cardíacos em duplicado, discos confessadamente falhados ou abortados com Bernard Butler, ausência de contratos discográficos ou a recente tragédia colectiva e global que emana em catadupa da presidência americana. O desafio lançado para que as suas canções recebessem um tratamento de cordas foi, por isso, de imediata anuência e entusiasmo, o que permitiu esgotar a plateia de Espinho e levar a façanha a Lisboa e a Braga. 

Entre seis canções a solo e oito de orquestração propositada, mantiveram-se ao vivo os tradicionais tiques de comiseração, erros nos acordes ou um timbre de voz que, desde o início, parecia estar já perdido. Nada de estranho para quem já esteve presente noutras prestações do artista até no mesmo auditório (2014 ou 2017), ainda assim, trejeitos desta vez um pouco mais moderados atendendo a alguma da solenidade que o momento impunha aos jovens executantes e aos privilegiados ouvintes. 

A estreia do formato, de curto ensaio prévio e de teste por carimbar, evidenciou-se pungente no risco, engrandecedor na fruição e até gostosamente defeituoso na comparação com os originais, como o que pairou aquando de "Mission Rock Resort", facada sonora de beleza aterradora que um piano e um trompete ajudaram a crescer na estranheza e na melancolia. Mas "Firefly" ou "Western Sky", duas das canções clássicas em qualquer alinhamento de Eitzel, aguentaram na perfeição os arranjos seleccionados, permitindo evidenciar toda a maravilha das líricas e das melodias de um songbook antigo e sem pingo de arcaicidade. 

Para toda esta dádiva contribuiu o público de forma atenciosa, conivência que se estendeu, informal, a um respeito por um autor e compositor quase sempre elogiado pela imprensa especializada sem que, efectivamente, tamanho reconhecimento lhe tenha valido facilidades e desafogos ao longo de um carreira com mais de quarenta anos! 

A oportunidade que o Auditório de Espinho empreendeu, longe de uma recompensa, transformou-se, pois, numa celebração afectuosa e certeira sobre um compositor a que sempre demorou uma justiça artística, mas cuja gratidão terá de ser de inequívoca vénia e radiação. A terminar, sozinho e de guitarra em punho, "Blue and Grey Shirt" e "Why Won't you Stay" bastariam para selar, com distinção e louvor, uma hipotética mercê de "essencial". Parabéns aos promotores, professores e alunos e muito obrigado, como sempre, ao mestre Eitzel!       

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