terça-feira, 15 de março de 2016

(RE)VISTO #64














SHOW ME YOUR SOUL
de Pascal Forneri, França, Arte, 2013
Canal Arte, 12 de Março de 2016
Pode um programa televisivo de música essencialmente negra, do soul clássico ao funk, do disco ou r&b ao rap, entrar de rompante pela televisão americana e deixar um rasto indelével ao longo de 35 anos? A resposta é sim, chamou-se "Soul Train", nasceu em Chicago, transferiu-se para Los Angeles em 1971 e só parou em 2006 com a Internet. A ousadia e façanha coube a Don Cornelius (1936-2012), o mentor, produtor e apresentador cool de voz barítona e radiofónica que trouxe para a televisão uma verdadeira explosão musical onde James Brown, Tina Turner, Curtis Mayfield, Supremes ou Earth Wind & Fire arrebatavam audiências ao mesmo tempo que um conjunto dedicado e imprevisível de dançarinos aparecia perante as câmaras em roupas extravagantes. É essencialmente sobre essa história glamorosa do acto de desfilar ao som de uma canção soul que este documento aborda de forma quase sociológica, entrevistando os então famosos participantes e coreógrafos da "Soul Train Line", uma imagem de marca que tornou o programa um acto religioso para a comunidade negra americana em pleno período de muita conturbação sócio-política. Os testemunhos de Bobby Womack (foto) e de outros músicos compensam a falta óbvia de impressões do próprio Cornelius que haveria de se suicidar em 2012 depois de uma vida privada tumultuosa e perigosa a que o sucesso do programa rapidamente conduziu. Os convites a artistas não negros como Elton John ou David Bowie ajudariam, ainda mais, para que "Soul Train" atingisse comunidades jovens de todas as raças e credos, um êxito massivo que o groove explosivo do disco sound haveria de tornar imparável e que, curiosamente, só definharia com a chegada do hip-hop e do rap. O advento da MTV seria a estocada final... Um excelente documentário televisivo, simples e eficaz como é habitual neste canal cultural (repete dia 19 de Março e 4 de Abril) e que não pode nem deve ser visto sem uma prévia consulta a um outro programa concebido pelo VH1 em 2010 que aqui deixamos. Obrigatório. Peace, love and soul!              

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