quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

VETIVER + DEVENDRA BANHART, Hard Club, Porto, 15 de Fevereiro de 2020

Ao entrarmos, atrasados, no concerto de Vetiver já com o recinto repleto lá fomos reparando e confirmando o habitual cenário - uma grande parte do público completamente alheio ao que se passava no palco, em tagarelice e circulação contínua na procura dos amigos, da cerveja ou de um melhor e já inexistente spot para estacar, tornando-se evidente que a música de excelência que Andy Cabic apresentou só fez o devido efeito para quem, cauteloso, chegou cedo e se aproximou da frente.

Mea Culpa... sem que, mesmo assim, sejam de apontar defeitos às poucas canções que fomos tentando ouvir entre o enervante ruído de fundo e que teve em duas delas, a acabar, a participação de um trio da banda principal perfeitamente oleado e engrenado neste folk distante para muitos mas compensadora para os mais prevenidos a fazer-nos suspirar por tempos passados. Foram deles, obviamente, as únicas palmas, fortes e todas merecidas!   



Há qualquer coisa de magnético quanto à presença de Devendra Banhart em cima de um palco. Experimentados diversos dos seus concertos - da estreia longínqua em Santa Maria da Feira ao caos controlado de uma tenda de circo numa herdade alentejana e no pôr-do-sol galego, passando pela aparente austeridade da Casa da Música ou a intimidade inesquecível de um auditório espinhense - a expectativa com que encaramos as diferentes oportunidades foi sempre a mesma, ou seja, em "modo pulgas"!

A noite de sábado não foi excepção logo agora que havia dois álbuns - "Ape in Pirk Mable" e "Ma" - que ainda não tinham merecido visita ao vivo e que estão floridos de canções apetitosas e prontinhas para um deleite suave e prolongado. Como sempre, para o repasto Devendra rodeou-se de um quarteto de eleição em jeito de família unida e solidária que contou com a ajuda de Andy Cabic em alguns temas mas onde, contudo, nem tudo suou perfeito como o raio da guitarra acústica de fugir em "The Body Breaks", as várias tentativas - "intentos" - em falar português ou, caramba, os irrisórios vinte segundos de "Santa Maria da Feira" no início do encore! Apesar da simpatia, da informalidade e bonomia que transpareceu de início ao fim e que incluiu os habituais elogios à cidade por onde, aparentemente, se perdeu por entre as salas e parque de Serralves, os quinze minutos trapalhões a solo aparentaram também alguma desconcentração e hipertensão que os vários e simultâneos pedidos vindos do público aceleraram na confusão...

Claro que tudo isto se desculpa atendendo ao calibre de muitos outros momentos como o de um "Seahorse" vintage e poderoso, a surpresa disco "Fig in Leather" ou a eleição milagrosa de "Daniel" para evocar um disco de eleição chamado "Mala" e onde foi pescar outras maravilhas como "Mi Negrita" e "Never Seen Such Good Things". Para culminar a celebração faltava então a sempre agitada e vibrante "Carmensita" por entre baile generalizado. Guapa(o)!

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