quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

KAREN DALTON, O FILME (IM)POSSÍVEL!






















A carreira artística de Karen Dalton (1937-1993) esfumou-se num sopro. Dois álbuns registados em tempos proeminentes da cena folk de Greenwich Village, Nova Iorque, dos anos 60 valerem-lhe o reconhecimento de Dylan, Fred Neal e tantos outros enfeitiçados pela sua voz adornada, principalmente, a temas tocados com um banjo de Billie Holiday, tradicionais americanos, obscuras canções country ou originais de amigos como Tim Hardin ou o violinista Peter Stempfel. Mas o sucesso era difícil e custoso e Dalton retirou-se misteriosamente para uma vida longe dos palcos, aversa a promoções, entrevistas e holofotes, sendo dados como perdidos ou destruídos os habituais vestígios agarrados a fotografias, filmes ou outros registos implícitos a um retrato verdadeiro da sua curta aparição. Mas há quem não desista... 

Depois de uma primeira tentativa um pouco obscura chamada "A Bright Light - Karen and the Process" de 2018 que mantêm uma oferta paga para visualização online, estreou em Novembro passado o que parece ser uma outra abordagem mais consistente e, diríamos, oficial - "In My Own Time - A Portrait of Karen Dalton" de Robert Yapkowitz e Richard Peete têm produção executiva de Wim Wenders e passou à distância, pela primeira, vez no Doc Festival de Nova Iorque em Novembro passado ao longo de uma semana, causando boas vibrações. Na sua construção narrativa usaram-se, então, entrevistas com quem conviveu de perto, familiares e artistas coevos mas também fãs mais modernos como Nick Cave, atraído desde sempre por "Something on Your Mind", um original de Dino Valente que Dalton não dispensava e que teve versão recente de Shannon Lay ou testemunho rendido de Courtney Barnett

Para compor música original para o mesmo documentário foi convidada Julia Holter, uma das muitas e muitos admiradores contemporâneos como Devendra Banhart ou Joanna Newson, e que se alarga ainda à participação de Angel Olsen que dá voz a algumas passagens do diário de Dalton seleccionadas para enquadrar o seu percurso como música mas também como escritora, mãe, amante ou amiga. Recorde-se que Holter fez parte de um restrito grupo no feminino que deu a sua contribuição para o disco "Remembering Mountains: Unheard Songs by Karen Dalton" saído em 2015 pela Tompkins Square, uma boa surpresa que fazia emergir um punhado de letras para canções originais até aí desconhecidas mas a que Dalton nunca conseguiu juntar composições próprias e que, assim, ganharam vida na opções de Sharon Van Etten, Laurel Halo, Marissa Nadler, Lucinda Williams ou Isobel Campbell.


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