de Tom DiCillo. E.U.A., Rhino Entertainment, 2009
TVCine Edition, Portugal, 2 de Dezembro de 2020
O tempo passa e passa... A nossa recomendação deste filme tem mais de dez anos mas certo é que nunca tivemos uma oportunidade de o ver em pequeno ou grande ecrã apesar da sua passagem pelo festival IndieLisboa logo no ano seguinte (2010) e a chegada ao TvCine a partir em 2012. Reposto no mesmo canal na programação dita musical, só agora e com calma aguçamos a curiosidade para as novidades que na altura se anunciavam - a narração pelo fã Johnny Depp, o grosso de imagens inéditas, a revelação e a confirmação de factos desconhecidos ou a ousada intensidade da abordagem...
Não somos especialistas, nem queremos ser, dos The Doors, desconhecemos até a maioria dos discos nos seus pormenores e vicissitudes e sempre nos causou alguma intriga a aura mítica redondante e quase meteórica de seis anos (1965-1971) de actividade artística. Fazer um documentário sobre a banda é sinónimo de biografia de Jim Morrison e, a esse nível, as escolhas não deixam dúvidas - para o bem e para o mal, é ele o centro, o estranho, nervoso do verosímil argumento desde o início até ao trágico fim e que uma exagerada e desafiante postura de confronto e incompreensão fizeram história e estragos numa sociedade americana em período atribulado de agitação social e política. A quantidade de imagens com polícias em cima de um qualquer palco, ora abordando ou agarrando o vocalista provocador, ora empurrando os espectadores mais afoitos, não causa qualquer estranheza porquanto o dito grau de indecência e liberdade de expressão da época sabia-se incompreensível. A este nível as sequências que o documento aporta acabam por não surpreender, o tal mais do mesmo decepcionante que seria expectável e que nem a narração de Depp faz aquecer, vindas, sabemos agora, de fontes posteriormente editadas em 2014 ("Feast of Friends", documento único produzido sobre e pelos Doors logo em 1968) e em 2018 ("The Doors: Live At the Isle of Wight 1970", o último concerto).
Verdadeira revelação didáctica é mesmo o surpreendente conjunto de sequências dos The Doors em pleno estúdio e aqui, sim, o filme é mesmo sobre eles e sua conexão complementar, sobre a estranheza dos processo de gravação, das técnicas instrumentais, das soluções e recursos aplicados para suprir músicos ou sons (o de um baixo, por exemplo) e da paciência, muita, e coragem do trio restante perante a decadência, diríamos, necessária de um Morrison volúvel mas fulcral na sua poesia e idiossincrasia de quem não lia uma nota de música. Ela, contudo, convivia com ele de uma única forma - na vertigem constante de um precipício perigoso para onde foi resvalando, sem cair, até aos vinte sete anos e a que os freios da consciência lá foram conseguindo responder a tempo... até falharem. Quando a música acabar apaguem a luz, yeah!
Sem comentários:
Enviar um comentário