sexta-feira, 19 de novembro de 2021

CATE LE BON, SANTA IRONIA!






















Ironia, ironia, mais ironia, daquela pertinente e sarcástica em modo canção é o que Cate Le Bon nos sugere ao longo de nove trechos do sexto álbum "Pompeii" a editar dia 4 de Fevereiro de 2022. Na capa, ironicamente, claro, mas com uma indisfarçável força, uma imagem pintada pelo amigo Tim Presley (White Fence/Drinks) de uma Cate de punho cerrado e traje de enfermeira/santa pronta a ajudar a curar o mundo da desgraça emergente, da anarquia capitalista ou da catástrofe climática. A remissão para o nome de uma cidade romana destruída pela força da lava do Vesúvio e da consequente e mortal chuva de cinzas é só mais um juízo metafórico dos nossos dias inclinados. 

O disco foi composto de forma individual e ferrenha, começando pelo baixo que se faz bem notar nas duas canções já dadas a conhecer (Cate é cotada no novo álbum de Courtney Barnett precisamente a tocar baixo no tema "If I Don't Hear from You Tonight") estendendo-se aos outros instrumentos (excepto o saxofone e a bateria, esta a cargo, mais uma vez, da amiga Stella Mozgawa/Warpaint) tocados e registados pela própria com ajuda de Samur Khouja num processo laborioso e ofegante levado a cabo num estúdio de Cardiff, País de Gales. 

Visionária mas vulnerável, tudo sugere uma Cate Le Bon cada vez mais adulta, imprevisível ou desformatada que se afirma pela coragem com que enfrenta a infindável resposta à pergunta "how to make music that sounds like a painting?". Difícil, certamente, mas nada que assuste uma artista que tem na dúvida/sonho o comando da vida. Sem ironias.


Sem comentários: