terça-feira, 8 de novembro de 2022

ILL CONSIDERED + JOCKSTRAP, Festival Mucho Flow, Guimarães, 5 de Novembro de 2022

Não sabemos quem programou o segundo dia da nona edição do festival Mucho Flow em Guimarães mas aqui ficam, desde já, os nossos agradecimentos - as duas bandas do alinhamento deste ano que mais nos atraiam a fazer a viagem calharam seguidas em locais de proximidade e a benção não podia ser desperdiçada. 

Começaram os Ill Considered na cave do Teatro Jordão, mais um espaço revitalizado para a fruição cultural, que rapidamente se encheu para um monumental concerto do trio londrino a que, literalmente, ninguém ficou indiferente. Poderoso na cadência, sem freios para pausas ou conversa, este novo jazz de demolidora potência agarra-se a instrumentos clássicos como a bateria, o baixo e um saxofone tenor em constante carrossel de altos e baixos mas cada um dos músicos pareceu ter vida própria, isto é, executando o seu instrumento ao jeito de um solista, o que resultou numa sobreposição rítmica de aparente desconstrução mas que, agregada no groove, resultou num vendaval sonoro ao longo de uma hora de gozo. 

Claro que Idris Rahman acabou por se destacar no seu corrupio irrequieto em cima do estrado, soprando furiosamente o sax numa linguagem de brados curtos e incisivos a que os dois outros parceiros foram dando troco de forma livre, uma prática avassaladora na tensão e, como não dizê-lo, no tesão. Não ficaram atrás, aliás, as capacidade técnicas evidenciados por Liran Dorian com o seu baixo de recorte cheio e vincado a que a bateria de Emre Ramazanoglu não se sobrepôs por abafamento, longe disso, mas que se destacou nos seus engenhosos e sincopados batimentos. Resultado - um trio locomotor a que não deve ser fácil, hoje em dia, ultrapassar na virtude e na musculatura jazzística e de que se espera um regresso benzido.

 

Sem pressas, o duo britânico Jockstrap anda a pairar à espera do sucesso desde 2018. O álbum de estreia "I Love You Jennifer B", um trabalho editado em Setembro, aparenta ter a medida certa para que ele aconteça naturalmente na sua dose variada de electrónica e pop energética que não dispensa orquestrações sumptuosas. Ao vivo, a sofisticação de recursos não se limitou às máquinas de loops ou sintetizadores mas envolveu as cordas de uma guitarra e de um violino em alguns momentos mais melodiosos, uma transposição da referida tendência que o disco evidencia e que se denotou de agrado generalizado a uma juventude animada que ocupava o palco do auditório maior do Centro Cultural Vila Flor. 

A façanha de Georgia Ellery e Taylor Skye é, por si só, um sinal a juntar a alguns outros (p.ex. Domi & JD Beck ou Superorganism) de alguma irreverência juvenil que não desdenha géneros de acidez ou doçura de forma descomplexada e intrigante, não estranhando que a outra banda de Ellery sejam os experimentais Black Country, New Road. Esse recomendável mosaico sonoro passou no teste com distinção, mostrando-se eficaz e sedutor pela sobriedade de um jogo de luz esbarrado pela cortina de fumo e por uma voz sussurrada de Ellery que deu a "Glasgow" ou a "Concrete Over Water" uma misteriosa teatralidade que "50/50" culminaria em delírio techno. Estranhante!

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