Pare, Escute e Olhe / Arte Poética
Portugal: Zip Zip, ZIP 3002
0/S, 1971
As aventuras por França de um jovem José Jorge Letria assustado com o país em ditadura e na vertigem de uma guerra colonial, foram já relatados pelo próprio em forma de livro sincero. Fazer da música, daquela que interessava e incomodava nessa altura, só noutro lugar e, já agora, na companhia certa de José Mário Branco e de outros parceiros e cúmplices,
No parisiense Strawberry Studios foi em 1971 registado "Até ao Pescoço", álbum de marcante estreia de um compositor inquieto e de vigorosa poesia, trabalho produzido por Manuel Jorge Veloso e arranjado por José Mário Branco. A intenção era romper com a sonoridade típica dos ditos "baladeiros", usando ambientes sonoros inovadores e timbres de risco assumido que o "prog-rock" ou a chamada "avantgarde" proporcionavam, para o que se contou com um bom naipe de músicos franceses e até de Francisco Fanhais.
O disco haveria de sair no ano seguinte pela Zip Zip, etiqueta da Sassetti & Cª/Guilda da Música portuguesa e só teve reedição recente pela Tradisom, incluído que foi numa caixa com quatro das principais obras de Letria. O primeiro e marcante single foi este "Pare, Escute e Olhe" de intencional e anónima capa rubra, preta e branca onde se estiliza a prisão pelo arame farpado que era necessário cortar. Canta-se o desencanto, a revolta silenciosa que urgia promover e explica-se, na contra-capa, ao que se vêm - "É do Silêncio Que Vos Falo", assim, assumido, destemido, "(um certo silêncio, entenda-se), que se descobre a utilidade das palavras. O seu fogo. A sua forma exacta. A sua alucinante facilidade de chegar onde mais ninguém chega." Corajoso até ao pescoço!
O tema sofreu duas aparentes orquestrações - uma de guitarras vincadas e perfeitamente rock que sugere ser a que foi incluída no álbum (a de abaixo) e, uma outra, a do single antecipador, onde os riffs foram amainados e substituídos pelas teclas de um orgão eléctrico (Moog?) e uma toada mais ligeira. No lado B surgia "Arte Poética", tema em jeito de hino escolhido para encerrar o disco grande e com poema incisivo da escritora Hélia Correia, autoria ausente da rodela pequena e do seu invólucro, o que causou alguns mal entendidos...
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