quarta-feira, 20 de novembro de 2024
SCOTT MATTHEWS, Sala do Capítulo, Museu de Leiria, 17 de Novembro de 2024
Aproveitando a comemoração dos cento e sete anos do Museu de Leiria, abriu-se a porta da Sala do Capítulo do antigo Convento de Santo Agostinho a Scott Matthews, não para uma assembleia de condomínio do extinto mosteiro, mas para um reencontro de amigos, de novos amigos ou de simples e curiosos ouvintes. O convívio, como é frequente sempre que o inglês regressa, haveria de mostra-se abundante em boa disposição e partilha de habilidades, revalidando a linhagem de um conjunto de canções singulares.
Sem novo álbum e, aparentemente, sem novos temas, o percurso de final de tarde fez-se de um apanhado de doze das muitas pérolas que Matthews vem gravando desde 2006 e que se encontram dispersas em sete discos de originais. O tempo tratou de as fazer ramificar num tronco comum que tem na distinção da composição um caso inexplicável de subestimação a merecer estudo e que faz, continuamente, com que as canções sejam motivo de adoração para os muitos que nunca as tinham escutado.
Em dois momentos, Matthews escolheu deixar o palco para, sem amplificação, pôr à prova esses atributos de encantador e logo em algum do seu melhor cancioneiro - "Home & Dry" e "Elusive", lado a lado com o público surpreendido, tiveram nas paredes quinhentistas um eco e um retorno de absoluta perfeição e de que talvez se acabe por obter cópia audível em (novo?) disco ao vivo.
De Vila Real de Santo António, à Guarda ou Portalegre, passando por Arcos de Valdevez, Ponte de Lima ou São João da Madeira, há que continuar a insistir em levar esta música e esta dádiva ao país inteiro, confirmando a fortuna que constitui a proximidade e a cumplicidade que se obtém e multiplica pela sua simples escuta e fruição. Não há, pois, desculpa para que estas visitas não sejam programadas num género de camaradagem anual, com ou sem microfones, com ou sem feeddbacks, com ou sem guitarras emprestadas, com ou sem reclamações de falhas nos alinhamentos (já agora, faltou o "Wait in The Car").
Cá te esperamos, Scott, de braços abertos nem que seja só para te congratular mais uma vez e cantar os parabéns cinquentenários que se aproximam!
ADRIANNE LENKER, EXTRA EXTRA!
A tradição que os Big Thief não esqueceram mantêm-se, assim, activa e, no nosso caso, de adesão obrigatória, o que poderá ser concretizado no Porto na loja Louie Louie, uma das que aderiu em boa hora à campanha.
terça-feira, 19 de novembro de 2024
THE DELINES, SORTE E RUÍNA!
Romântico, mas não trôpego, ainda nos sobra fôlego para mais uma porção de cinematografia sonora que envolve, desta vez, a história de Mr. Luck, um criminoso fracassado e Ms. Doom, uma empregada de limpeza depressiva, parelha apaixonada mas em fuga e confronto contínuos e de que o primeiro single "Left Hook Like Frazier" é modelar.
O registo dos temas decorreu no Bocce Studios de Vancouver, Washington, ao longo de 2023 e 2024 com a ajuda imprescindível de John Morgab Askew, um conjunto que se assume como o mais comercial que a banda gravou até à data. Ummmm... em Fevereiro tiram-se todas as dúvidas, mas há já pré-encomendas limitadas.
ANGEL OLSEN, ONDAS CÓSMICAS!
Uma primeira dessas liberdades foi o EP de versões eighties "Aisles" saído de surpresa em 2020 e uma segunda ganhará em breve visibilidade definitiva - "Cosmic Waves Volume 1", um género de compilação imaginada por Olsen e que coloca em diálogo canções originais de artistas algo obscuros, a saber, Poppy Jean Crawford, Coffin Prick, Sarah Grace White, Camp Saint Helen e Maxim Ludwig, e versões de Olsen para algumas delas. Dia 6 de Dezembro, data de edição do disco, há concerto marcado para o In The Meantime de Los Angeles com a presença de alguns deles e de outros convidados.
Como primeiro vaga cósmica pode ouvir-se "Glamorous" de Poppy Jean Crawford e uma versão de "The Takeover", tema de Crawford a que Olsen reduziu na acústica mas que fez crescer no mistério.
BRANDEE YOUNGER, Auditório de Espinho, 16 de Novembro de 2024
Na história do jazz, a harpa acumula uma tradição singular e, muitas vezes, exclusiva que tem nos nomes de Alice Coltrane ou Dorothy Ashby uma impressionante tradição e misticismo. Para qualquer aspirante a fazer desse instrumento antigo um recurso musical de eleição, essas são referências obrigatórias que, no feminino, ganham rapidamente um enlevo mágico e de que Amanda Whiting ou Brandee Younger são dois dos melhores exemplos contemporâneos. O serão de sábado passado não deixou dúvidas quanto ao encanto desse património e da sua sustentabilidade vindoura.
Com a ajuda, e que ajuda, de Rashaan Carter no baixo e contrabaixo e de Allan Mednard na bateria, Younger fez do alinhamento uma homenagem a esse legado com uma versão de "Blue Nile" de Coltrane (uma recente história levou Younger a ter a primazia de manejar a harpa restaurada da artista) e uma outra de "If It's Magical" de Stevie Wonder, tema onde brilhará eternamente o arranjo que Ashby criou para a melodia e lírica de Wonder. Tocante.
Entre originais ("Unrest" ou "Spirit U Will), flutuaram ondulantes, quer no início, a meio e no final, três peças inéditas, recentes composições de subtil acento, mas que se fortaleceram numa fusão clássica e inebriante de bateria e baixo. A aposta faz adivinhar uma delicadeza talvez mais depurada que um próximo álbum acabará por, possivelmente, confirmar e que nunca, afinal, deixou de existir disfarçada nos mais recentes discos.
A versão de Marvin Gaye ("I Want You") com que regressou para o único encore foi só mais uma dádiva inesperada, embrulhada de elegância e vibração, de um serão reconfortante que, como alguém traduziu entre fortes aplausos, se pode resumir a um bom adágio português - o que é bom passa depressa!
segunda-feira, 18 de novembro de 2024
CRISTINA BRANCO NO ARTE!
Contrariamente ao pobrezinho registo no CCB já emitido pela RTP2, está agora disponível um recente (8 de Novembro) concerto de Cristina Branco no Festival de Jazz de Leverkusen, Alemanha, feito pelo indispensável Canal Arte. Realização sóbria, luminal e exemplar. Quem sabe, ...
NUBYA GARCIA NA CASA!
sexta-feira, 15 de novembro de 2024
DEVENDRA BANHART, DESENHOS EM SERRALVES!
"Devendra não só pinta ou desenha a maior parte das capas dos seus álbuns (a do álbum What We Will Be, de 2010, foi nomeada para um Grammy), como participa em projetos artísticos, como a instalação vídeo de grande escala de Doug Aitken Song 1, na fachada do Hirschhorn Museum, em Washington, D.C., e a instalação de som Refuge no Getty Museum, em Los Angeles. A fusão entre a música e as artes visuais foi apresentada em instituições tão prestigiadas quanto o MoMA em Nova Iorque, o MoCA em Los Angeles, o Hammer Museum, LACMA, e numa performance na sala Cy Twombly no Broad Museum, em Los Angeles."
Quanto a nova música, há cerca de um mês e meio foi divulgado "The Rose", tema inédito resultante das sessões de gravação do mais recente "The Flying Wig", ábum editado há cerca de um ano. A canção de sete minutos foi também produzida por Cate Le Bon, sendo inspirada em "Night Shift" (1985) dos The Commodores! A imagem do video é uma das muitas pinturas que Banhart vai realizando...
THE BEATLES NA AMÉRICA!
A 7 de Fevereiro de 1964 os The Beatles chegaram pela primeira vez a Nova Iorque, E.U.A., e o mundo parece ter começado a rodar mais depressa. Martin Scorcese como produtor, David Tedeschi como director, fizeram um novo filme chamado "The Beatles 64", que estreia no canal Disneyplus dia 29 de Novembro, e está cheio de sequências inéditas dessa "maluqueira", entrevistas recentes e os habituais melhoramentos e restauros qualitativos. Mais do mesmo, mas, ainda e sempre, atraente...
Para fanáticos invertebrados, há agora também uma pequena introdução visual ao porquê da edição dos álbuns dos The Beatles em formato mono na América, motivo para mais uma luxuosa e massiva caixa já em pré-encomenda. Mais do mesmo, mas, ainda e sempre, caro...
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
JULIA HOLTER, NOVA CANÇÃO!
Uma nova canção da inconfundível Julia Holter foi lançada no dia de ontem - “The Laugh Is in the Eyes” cresceu a partir de uma demo do mais recente disco "Something in the Room She Moves" lançado em Março passado. A instrumentação provêm dos mesmos músicos, mas a produção e arranjos couberam totalmente a Holter no seu estúdio caseiro e no 64 Sound de Los Angeles. O título é parte da letra do excelente single "Spinning", o primeiro dos temas desse disco a ser conhecido.
Julia Holter regressa a Portugal para um concerto no Domingo, 17 de Novembro (17h00), no âmbito do Festival Para Gente Sentada que ocupa o Theatro Circo de Braga. Ainda há bilhetes.
JONATHAN WILSON E MILTON NASCIMENTO, DUPLA SOLAR!
Do encontro, fez-se o registo soalheiro de três, a saber: "Tema dos Deuses" versão do original do álbum "Milagre dos Peixes" (1973); "Lília", outra versão de Nascimento em parceira com Lô Borges incluída em "Clube de Esquina" (1972); "The Valley of the Silver Noon", tema inédito composto por Wilson na ocasião. O suposto EP chama-se "Moon Over Minas", mas ainda sem indicações de uma edição física.
Trata-se da segunda colaboração de Milton Nascimento com músicos norte-americanos editada no mesmo ano, depois de em Agosto passado ter saído "Milton + esperanza", álbum de dezasseis temas ao lado de Esperanza Spalding que mistura originais e versões de canções de Nascimento ("Morro Vermelho" ou Cais", por exemplo) e onde colaboram ainda Paul Simon, Lianne La Havas, Tim Bernardes ou Carolina Shorter.
terça-feira, 12 de novembro de 2024
SQUID, BRAVA COVARDIA!
Para iniciar o deslize na nova onda é aconselhável a audição de "Crispy Skin", tema de inspiração distópica no livro "Tender Is The Flesh" da escritora argentina Agustina Bazterrica que traça uma nova realidade moral em tempos de desespero e covardia. Até pica!
Os Squid, que marcaram presença intensa e elogiosa no Parque da Cidade em 2022 e em Coura no ano seguinte, são das poucas bandas confirmadas para a próxima edição do festival Primavera Sound quer de Barcelona quer no sofrível alinhamento do Porto.
BIBIO, ADMIRÁVEL ALVENARIA!
Em 2017 Stephen James Wilkinson aka Bibio lançou "Phantom Brickworks", álbum de conceito ambiental que calcorreava vestígios humanos ainda presentes em muitas ruínas, edifícios ou paisagens inglesas que o músico visitou e absorveu como fonte inspiradora e renovadora. Pedaços improvisados, outros compostos, às peças de feição pianística emulsionavam-se alguns efeitos electrónicos e de guitarra de maravilhosa fusão que não ganharam, sequer, sinais de envelhecimento e que o músico usou, depois, em alguns dos seus excelentes discos.
Por isso, uma sequela do projecto inicial é um passo lógico e mais que válido que terá edição pela Warp Records já na próxima semana em quatro diferentes edições e onde cabem cinquenta impressões exclusivas e limitadas. Para as dez novas sequências de "Phantom Brickworks II" Wilkinson visitou novos locais de admirável alvenaria e de mistério e cicatrizes marcantes, juntando-lhe, desta vez, memórias locais resgatadas a fotografias ou filmes antigos e até a lendas ou ficções. Duas primeiras amostras receberam, entretanto, tratamento de imagem em 16mm de conceito cinematográfico a cargo do próprio. Naturalmente...
domingo, 10 de novembro de 2024
sexta-feira, 8 de novembro de 2024
MATT ELLIOTT, CANÇÕES VINTAGE PARA BEBER!
A visita de Matt Elliott de Fevereiro passado, ao contrário do que por aqui adivinhamos, aconteceu em formato trio e serviu para recriar ao vivo o mítico álbum "Drinking Songs" de 2004. A comemoração teve a ajuda de Anne-Elisabeth de Cologne no contrabaixo e Barbara Dang no piano e teclas, habituais parceiras de palco e que, ao lado de Elliott e da sua guitarra e saxofone, moldam uma abordagem grandiloquente de uma sonoridade única.
As sete recreações dos originais de há vinte anos estão agora oficialmente incluídas numa reedição, de caixa robusta, chamada "Drinking Songs Live 20 years on", mas a novidade tem publicação separada a partir do dia de hoje. A gravação foi realizada na sala L'Autre Canal de Nancy, cidade francesa onde Elliott vive há já muitos anos.
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
BADBADNOTGOOD E TIM BERNARDES, UAU!
O recente e excelente "Mid Spiral" dos BADBADNOTGOOD já dava sinais mais que óbvios de uma rendição da banda aos sons sul-americanos ou tropicais - há por lá temas de título "Taco Taco", "Audacia" ou "Sétima Regra" - mas agora o fascínio assume sinais de evidência.
Deu-se hoje a conhecer o tema "Poeira Cósmica" composto a meias pelos canadianos e Arthur Verocai e que tem na voz principal Tim Bernardes, ele próprio também creditado como autor da canção. Os arranjos das cordas pertencem a Verocai e a peça foi gravada parcialmente no estúdio Cia. dos Técnicos do Rio de Janeiro e ainda na aparelhagem instalada em casa do próprio Tim Bernardes.
Os BADBADNOTGOOD conheceram Bernardes no primeiro concerto brasileiro em 2019, tendo sido dele a primeira parte o espectáculo. Tornaram-se a encontrar em Setembro aquando de uma série de quatro noites no Blue Note Jazz Club de Nova Iorque onde o tema foi apresentado em estreia com a presença e colaboração de Bernardes na guitarra e voz. O momento foi aproveitado para outras surpresas como a apresentação de uma versão de "Tudo o Que Você Podia Ser" de Milton Nascimento que se dá a ouvir ali abaixo.
Os BADBADNOTGOOD tocam no próxima Domingo num festival em São Paulo, iniciando desta forma uma exclusiva digressão pela América do Sul e Austrália.
quarta-feira, 6 de novembro de 2024
BETH GIBBONS, BIBLIOTECA DE PRINCESA!
Enquanto aguardamos uma qualquer milagrosa confirmação de um concerto por perto da princesa Beth Gibbons (esqueçam o Primavera Sound Porto), surgiu ontem a divulgação, via Canal Arte, de uma deslumbrante gravação ao vivo realizada em Julho passado na sala oval da Biblioteca Nacional de França, bem no centro de Paris.
Enquadrado na notável série "Passengers" que aposta em levar artistas e bandas a locais inusitados (Fever Ray, Metronomy, Jungle ou L´Imperatrice já aderiram), o alinhamento contempla a quase totalidade dos temas do excelente disco "Lives Outgrown", um dos melhores do ano, a que foi acrecentado "Mysteries", original de 2002 ao lado de Rustin Mann (Paul Webb) incluído em "Out of Season".
Luminosos e inesperados, estes são quarenta e cinco minutos imperdíveis de majestosa delicadeza que se espera possam vir a ser ampliados e sentidos, a três dimensões, no próximo ano...
BLITZ, 40 ANOS!
Se porventura esse papel sujo se tivesse mantido até os dias de hoje, não temos qualquer dúvida que a ida ao quiosque, também ela sagrada, se repetiria todas as semanas... Seja como for, parabéns BLITZ!
terça-feira, 5 de novembro de 2024
LUBOMYR MELNIK, Auditório de Espinho, 2 de Novembro de 2024
Nas palavras do próprio Lubomyr Melnik, passaram já cinquenta anos sobre a "invenção" da continuous music, um género único que se obtém rodando as diversas faces das teclas de um piano em efeitos melódicos ou sincopados e onde a repetição se evidencia vital e fecunda. Não há, por isso, muitas pautas para a aprender ou seguir, não restando também muitos a dedicar-lhe prática corrente e crescente. Melnyk, que já era uma preciosidade quando esgotou a Catedral de Viseu há nove anos atrás, tornou-se, por isso, nos dias de hoje, uma raridade a que não se deve olhar a meios na preservação e fortalecimento.
Aos setenta e cinco e anos e em plena forma, o mestre escolheu um alinhamento de quatro longas peças que introduziu demoradamente e onde, pela agilidade e velocidade de execução, como que agitou uma penumbra sonora de que apetece não ver o fim e que se alonga, misteriosa, em intrépidas sequências circulares que só a pausa, que se sabe irá acontecer, consegue, por magia, suspender.
Na defesa e promoção de tão invulgar receita melodiosa, Melnyk tem recorrido a parcerias com músicos do seu país natal, apostando na sua inclusão, mesmo que indirecta, em concertos, como foi o caso da composição "Antiphons 2", executada com o suporte pré-gravado de um quarteto de cordas ucraniano, variação, ainda assim, de diferente efeito e absorvência.
Para a despedida e aproveitando o embalo, estava programada "The Sacred Thousand", peça de recente decalque em disco como homenagem aos soldados ucranianos que resistiram ao exército russo em Mariupol, uma guerra que Melnyk condenou e culpou, justamente, pela tirania, ultraje e horror praticados pela potência invasora. Pena que, alguns, do conforto da cadeira, não tenham sabido respeitar esse sofrimento, interpelando, a despropósito, o músico quanto à dispensa da política em favor da audição musical, como se, no caso, elas fossem separáveis e alienáveis. Sentido, Melnyk fez notar, na resposta, a grandeza eterna da arte como forma de luta, recebendo forte aplauso e vivas de uma plateia incomodada e empertigada, mas que, em silencio venerado, como que lhe foi pedindo desculpa ao longo dos vinte e cinco minutos da rendição, agora, ainda mais urgente.
Também por isso, o serão em Espinho foi, pois, mais uma dessas sessões inesquecíveis em que uma imparável e vibrante tensão nos esganou nos movimentos e na respiração, um género de castigo deleitante que só a música e este som, seja lá o que isso for, impõem sem contemplações. E, sim, a música, esta música, será sempre uma arma...
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
DUETOS IMPROVÁVEIS #297
PAUL WELLER & KATHRYN WILLIAMS
So Quietly (Weller)
EP "Suplemment: 66", Polydor Records,
Inglaterra, Outubro de 2024
QUINCY JONES (1933-2024)
Mas Jones tinha ainda outros predicados e é também fácil reconhecer no seu próprio hit "Ai no Corrida", que afinal era uma versão melhorada de tema do inglês Chaz Jankel, um efeito agitador que ainda hoje não derrapa na idade. Quincy Jones morreu ontem na sua casa de Bel Air, California. Peace!
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
KOKOROKO, MENSAGEM RECEBIDA!
O magistral colectivo londrino Kokoroko, que tem por hábito agitar e incendiar plateias dançantes, lança no dia de hoje um novo EP com quatro temas de onda afrobeat e jazz que se recomenda sem limites. Chama-se "Get the Message" e pretende, simplesmente, festejar a alegria e a felicidade em fazer e ouvir boa música. Motivo, por isso, para uma nova, intensa e muito esgotada digressão europeia ao longo de todo o mês.
A peça mais antiga é "Three Piece Suit", que ainda em bruto tinha o mesmo título do EP, e é um tributo aos emigrantes nigerianos chegados nos anos sessenta a Londres e de que são herdeiros Onome Edgeworth, percussionista da banda e Azekel, artista convidado a dar voz ao tema e que já participou em discos dos Massive Attack ou Gorillaz.
Mensagem recebida!
DAMIEN JURADO, AO VIVO NA CATEDRAL!
O novo disco foi produzido e tocado pelo próprio com a ajuda de Lacey Brown, artista que tem sido parte da banda que o acompanha e com quem realizou um dueto de "Cloudy Shoes", tema antigo e, precisamente, o único disponível para audição.
Estranheza é, pois, o que agora envolve um músico em suposto retiro curativo quanto à assumida doença mental, mas que projecta para os fãs o que se irá seguir - logo em Janeiro, concertos ao vivo onde tocará, de fia pavio, discos seus sem ordem ou razão; mais algumas, muitas, edições de discos; "residencies", naquilo que considera ser o seu futuro sem viagens ou hotéis e gozando o conforto da "sua" cama. Tudo isto foi anunciado na rebuscada plataforma Substack em papel batido numa máquina de escrever!
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
SHARON VAN ETTEN E UMA BANDA!
A jogada, ainda não perceptível na sua total validade, bem que era necessária atendendo à desilusão quanto a
"We've Been Going About This All Wrong", disco com pouco mais de dois anos, mas de esquecimento penoso. Esperemos que o inédito e libertador modus operendi permita o reencontro com outra dimensão de uma artista de cepa antiga. Que este prometedor "Afterlife" seja mesmo isso, uma nova vida depois da sonolência...
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
terça-feira, 29 de outubro de 2024
ARNALDO ANTUNES & VITOR ARAÚJO, Ponto C, Penafiel, 27 de Outubro de 2024
Num reencontro, depois de férias, com um amigo e produtor cultural, veio à conversa qual o maior dos recentes concertos do ano até aí vividos - o de Arnaldo Antunes & Vitor Araújo no MIMO amarantino era para ele, sem qualquer dúvida, o melhor de todos. "Da próxima, não faltes"! Foi o que fizemos no fim de tarde de Domingo em Penafiel, um espectáculo que encerrava uma semana de Escritaria em homenagem a Arnaldo Antunes e que, confirmado, é mesmo imperdível.
O disco "Lágrimas do Mar", editado aquando da chegada pandémica, reúne nove temas cantados por Antunes e arranjados ao piano, na totalidade, por Araújo, reinventando "Como 2 e 2" de Caetano Veloso e "Manhãs de love", parceria no original com Erasmo Carlos. Estica-se ainda a temas de Itamar Assumpção e do próprio cantor e acrescenta quatro canções inéditas, uma diversidade a que se adicionam várias outras surpresas e muitas certezas, ou não já estivesse o duo mais que rodado em digressões pelo Brasil, E.U.A. e Europa (já em 2022 tinham passado por Lisboa e Coimbra e a experiência mereceu recente álbum oficial ao vivo).
Para quem tinha dúvidas quanto ao âmbito literário do agendamento do concerto, qualquer um dos primeiros temas ("João" ou "Lágrimas no Mar"), frisados nas líricas pela voz grave de Antunes e pelo bailado do piano, confirmavam o porquê da homenagem ao poeta e músico de São Paulo. Essa força da palavra e da, como que escangalhada, métrica das rimas, situa-se num nível de modernismo e actualidade exasperante e quase milagroso - "O Real Resiste" deveria ser de urgente e insistente rodagem radiofónica e "Na Barriga do Vento" soprada aos ouvidos dos que resistem ao amor.
As escolhas semi-alheias não foram inocentes - "Vilarejo" de Marisa Monte (que também passou por Penafiel) que os Tribalistas consagraram é, talvez, umas das maiores canções brasileiras das últimas décadas, também muito à custa de uma lírica única no desejo de uma felicidade colectiva em constante ameaça; "O Pulso" dos Titãs é, sem parecer, um hino à vida ameaçada nas doenças soletradas e vencidas. Poderosas, e a que se juntou outra pedra chamada "Lua Vermelha", brilhante na cenografia e imagens em palco.
Também assinalável o pedacinho a solo de Vitor Araújo, variando "Merry Christmas Mr. Lawrence" de Sakamoto e um tema de cariz tropical, validando uma destreza e um dão de domínio incontestável. Para "Se Tudo Pode Acontecer" e o referido "Como 2 e 2" de Veloso haveria de formar-se um dueto surpresa com Marcia Xavier, parceria já testada noutras ocasiões e estúdios. O incontornável "Saia de Mim" dos Titãs, deixado para o fim, haveria de funcionar como um murro num estômago ainda inteiro mas prestes a rebentar pelo abalo tumultuoso. Uma peça relaxante ("Alta Noite") no único encore haveria de nos acalmar na satisfação e fortalecer, na reverência, a um músico poeta de escritaria superior. Uma bendição!
segunda-feira, 28 de outubro de 2024
PANDA BEAR, SÉTIMO SELO!
O, há muito, cidadão luso-americano Noah Lennox aka Panda Bear terá o sétimo disco editado em Fevereiro de 2025 pela Domino Records. O registo de "Sinister Grift", que foi totalmente realizado no seu Estúdio Campo de Lisboa, conta com Josh Dibb, parceiro nos Animal Collective, como co-produtor e instrumentista e o auxílio de Rivka Ravede do projecto Spirit of the Beehive com sede em Filadélfia. Revela-se ainda a colaboração de Cindy Lee no primeiro single "Defense", tema com direito a 7" de vinil a que se junta "Virginia Tech", inédito que não será incluído no álbum. A rodela pode já ser encontrada em sites portugueses.
A promoção do novo trabalho têm digressão europeia anunciada para Dezembro com três datas nacionais (dia 4, Salão Brazil, Coimbra; dia 7, Plano B, Porto; dia 8, Galeria Zé dos Bois, Lisboa) a que se juntarão, em Março do próximo ano, passagens pelo Theatro Circo, Braga (dia 21) e Teatro das Figuras, Faro (dia 28). Ao seu lado, em palco, terá a companhia dos portugueses Maria Reis e TOMÉ.
sábado, 26 de outubro de 2024
THE UNTHANKS, JÁ SE PODE FALAR DO NATAL?
Para já, o aquecimento de conforto pode começar ao som de "Dear Companions", por sinal, um hino escolhido para encerrar o décimo sexto álbum de um projecto de mérito premiado e que, ao seu estilo, se reinventa de forma surpreendente - uma música alemã de Natal ao jeito dos Beach Boys ("O Tannenbaum"); uma canção espanhola refeita por folkies britânicos e com um filtro em Tom Waits ("Carol Of The Birds") ou até histórias antigas coloridas com folk noir e laivos de "Feliz Natal Charlie Brown" de Vincent Guaraldi. Quentinho e a pedir proximidade da família, de amigos ou de enamorados...
ANNA B. SAVAGE, A CRIAR RAÍZES!
Depois de uma recente digressão a fazer a primeira parte dos espectáculos de St. Vincent na Europa, Anna B. Savage anunciou o terceiro álbum de originais, a que deu o nome de "You and i are Earth", a sair em Janeiro via City Slang. De forma simples, a inglesa diz que compôs as canções como uma carta de amor a um homem e a um país, neste caso, a Irlanda onde agora reside. O disco sugere estar, pois, coberto de uma gentileza que o novo acolhimento geográfico proporciona e que tem na primeira canção "Agnes" a ajuda de Anna Miek, convidada agora conterrânea e cúmplice na criação de raízes.
Após o memorável "in|FLUX" de 2021, esta parece ser mais uma maravilhosa aventura sonora que, há muito, suspiramos ver ao vivo, o que torna a rasar a aspiração já que a tournée anunciada para Abril de 2025 destapa uma data nacional (Galeria Zé dos Bois, dia 23) sem subidas a norte, região onde já espalhou sementes...
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
MARCO PAULO (1945-2024)
Fotografia: Arquivo do JN |
A música popular, aquela a que depois se chamou pimba, não nos passou ao lado. Era impossível. Na rádio, na televisão a preto e branco, nas festas de São Bento das Pêras, em Rio Tinto, e até nas saudosas viagens de regresso dos jogos de voleibol em dia de vitória, havia um nome comum na animação - Marco Paulo! Nunca o vimos ao vivo e não compramos, na altura, nenhum dos seus discos, já que eram outros os tempos de empolgamento com "o direito à diferença". Contudo, a indiferença, mesmo sem o notarmos, nunca aconteceu e bastavam os acordes de algum dos êxitos para a esquecermos em cantoria, muita vezes, colectiva.
Quando amigos e familiares começaram a insistir para ficarmos com os discos de vinil que já não queriam, substituídos pelos CD's, fomos acumulando as rodelas pequenas de todo o género. As do Marco Paulo, eram, quase sempre, as mais comuns, as mais diversas e, desde logo, as mais acarinhadas entre uma imensa "azeitice" quase sempre dispensável. De várias cores ("Eu Tenho Dois Amores" têm quatro tonalidades), de irresistível colecção, é delas que nos fomos servindo sempre que é preciso pegar fogo a uma festarola, um São João ou uma comemoração.
Na hora certa, a alegria que transmitem, o contágio que provocam, o entusiasmo que aceleram, são, ainda e sempre, de uma imbatível e imediata felicidade só nossa. Os dois exemplos de abaixo são, pois, um dos top-mais possíveis de um vasto leque de escolhas. Paz!
Subscrever:
Mensagens (Atom)