quarta-feira, 16 de outubro de 2024

RODRIGO AMARANTE, Ponto C, Penafiel, 13 de Outubro de 2024

Foto: facebook de Ponto C - Cultura e Criatividade 





















Na cidade de Penafiel nasceu, de forma harmoniosa, um novo espaço que se expande a diversas artes criativas e espectáculos culturais. Ponto C - Cultura e Criatividade é o seu nome e a presença de Rodrigo Amarante levou até lá muita gente curiosa num final de tarde de Domingo, o que esgotou o recinto com alguma naturalidade e antecipação. Pena que para lá chegar, sem indicações ou sinalização, se tenha mostrado difícil. Um descuido. 

Também descuidada pareceu-nos a primeira meia-hora do brasileiro em palco, um período a que a um confessado constrangimento e timidez se juntou um tom de voz e instrumentação da guitarra algo desajustadas, o que, aliás, já ao de leve tinha acontecido na passagem pela Casa da Música em 2022. O nivelamento haveria de estabilizar, em alta, a partir da monumental "Tara" seguida dos indispensáveis "Irene", "The Ribbon" ou na beleza da nova "In Time" retirada de uma banda sonora recente para o filme "His Three Daughters". Continuamos na dúvida se era mesmo necessário escolher "Coração Vagabundo", tão intocável no seu original caetaneano, em disco ou ao vivo, que não há, nunca, forma de o superar... 

Perto do fim e para ocupar o grande piano em palco, Amarante não dispensou "Fall Asleep" e "The End", confirmando que esta variação de piano-voz podia e deveria ser alvo de uma escolha intercalada mais comum, o que não retiraria, de forma alguma, nobreza e ternura a mais um concerto de abraços e partilhas que se querem renovadas e sinceras. Amarrante! 

terça-feira, 15 de outubro de 2024

HALEY HEYNDERICKX, REFLORESCER!





















A semente inicial do muito aguardado segundo álbum de Haley Heynderickx tem o mesmo nome - "Seed of Love" é uma enorme canção cujo rebento, em dois meses e meio, se mostra vigoroso e vistoso. Junta-se agora uma outra haste também ela saudável, sonhada há muito pela autora na sua necessidade de pacificar e acalmar o dia-a-dia - "Foxlove" é de um luxo folk tão grande que até fere. Para dia 1 de Novembro está prometida a floração plena pela Mama Bird Recordings.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

FAROL #155















A recomendação podia e devia já ter acontecido, mas mais vale tarde... Certo é que só nas últimas semanas temos dado mais atenção ao álbum "Diamond Jubilee" do projecto canadiano Cindy Lee, uma sétima insistência de alvor psicadélico e minimalista da responsabilidade quase total de Patrick Flegel que, na sua rudeza retro, acaba por ser viciante. 

São e trinta e duas canções em dois discos sem formato físico, streaming ou outras modernices a não ser a audição via youtube ou a descarga gratuita em formato WAV, sim, WAV. Com um pouco de paciência conseguem ouvi-las no iTunes, se ainda o não deitaram fora. Nada como tentar...

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

A GIRL CALLED EDDY, TESOURO FAZ 20 ANOS!





















Em Agosto de 2004 a Anti-Records editou o disco de estreia de A Girl Called Eddy, incluIndo versões, muitas, em CD e algumas, poucas, em vinil, um formato, nessa altura, quase em desuso. O êxito não foi muito apesar do unânime elogio da critica, da produção sublime de Richard Hawley e da preciosidade das canções. Para uma imensa minoria de fãs espalhados por todo o lado, este é um daqueles álbuns para levar para uma ilha deserta, para guardar com estima em local adequado (o nosso caso) e que não perderá nunca a classe! 

Atrás dessa rapariga escondia-se Erin Moran, fotografada de perfil para a capa, uma jovem americana que se converteu, pouco tempo depois, a uma clausura e anonimato até 2019, ano de edição de um segundo disco de originais também ele notável e que sugeria um regresso à vida artística. Certo é que, desde aí, outra vez se adensou o mistério sobre quando e como será o próximo ressurgimento que agora tem, pelo menos, uma comemoração especial. 

Assinalando os vinte anos do referido álbum de estreia, a casa escocesa Last Night From Glasgow irá reeditar em vinil pesado e transparente tamanho tesouro em duas cores à escolha (Dusk Blue e Sunrise Yellow), havendo cinquenta cópias de cada com direito a assinatura no interior. Disponível também um bundle com tudo isto e um Test Pressing, o que eleva a conta acima dos três dígitos. A remasterização respeitadora, que ficou a cargo do experiente Paul McGeechan, começa a ser expedida a partir de dia 11 de Novembro. Para os interessados, o melhor é arrepiar caminho...

CAMPAINHA ELÉCTRICA, 18 ANINHOS!















Seis mil oitocentas e quarenta e sete (com)postagens depois, faz hoje dezoito anos desde que um primeiro toque foi ouvido na rede. Sinceramente, ainda não percebemos, e não queremos perceber, como é que o raio da Campainha Eléctrica ainda não avariou ou se tornou obsoleta. Coisas da maioridade e que idade! 

Ficamos à espera sentados de uma daquelas placas neo vintage "blog de tradição" para afixar na porta e a que ninguém liga pevide. 

Triiiiiiiiiiin... 

Eighteen, balding, star
Golden, fallen heart

3X20 OUTUBRO

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

JULIA JACKLIN, Teatro Jordão, Guimarães, 6 de Outubro de 2024

Coincidência, ou não, Julia Jacklin tem escolhido o nosso país para terminar digressões europeias, sinal que do jardim à beira mar plantado continua a emanar um perfume de respeito e reverência que não se acomoda no simples aplauso, mas que têm nas suas canções uma inesgotável fonte de estímulo e inspiração, talvez, recíproca. 

Do berço da nação, contudo, não foram notadas presenças nesta segunda noite de concertos, uma estranha carestia que se confirmou quando Jacklin tentou perceber as proveniências de tão ferrenha e fiel devoção, obtendo respostas como "Austrália" - nada menos que os pais da artista, logo ovacionados e, diríamos, benzidos na germinação. A mãe teria direito a protagonismo humorístico mais à frente (ver ali abaixo em 46:04), uma boa onda que percorreu um concerto de intimidade pré-requisitada que, sem excessos, se alongou a conversas, confissões, súplicas de aviso a músicos australianos para virem a Portugal e de canções que alteraram, de certeza, o alinhamento previsto. Da nossa parte, foi por pouco que não pedimos para avisar a Kylie Minogue também para vir (Jacklin já comprou bilhete para um dos seus espectáculos... e afinal Minogue vêm mesmo), mas não foi preciso reclamar "Ignore Tenderness" porque alguém, e bem, o faria de imediato. 

De Melbourne viajou Jacob Diamond, comparsa a quem Jacklin emprestou vozes e coros no último disco lançado em Agosto. Coube aos dois e de uma assentada, a execução de quatro versões, a saber, dos The Roches, Fionna Apple, Bill Fay (maravilhosa, a única com edição oficial) e The Cranberries, esta última numa arriscada variação a capella, de confiante transpiração, prestada no limite da frente de palco. Surpreendente, mas tendo em conta que o concerto lisboeta de 2022 findou com uma rendição de Celine Dion... 

O término apoteótico, acertado e arranjado em mútuo acordo com o público negociante, incluiu "Body", "Head Alone" e o hit "Pressure to Party" (para quando uma rodela pequena de vinil que faça eterna justiça a esta malha?), tudo culminado com um "Comfort" de tocante e vibrante tensão, ou não fosse ela mais uma nobre canção sobre relações falhadas, esse borrão marcante de tantas vidas e sem as quais tudo seria uma chatice. 

Deve, pois, marcar-se já a próxima celebração de devotos a santa e aliviada Julia que, já agora, pode ser no mesmo e excelente recinto, quem sabe, um pouco mais cedo no horário mas sempre no momento certo, seja ele qual for. Que venha o novo álbum!

terça-feira, 8 de outubro de 2024

DANIEL JOHNSTON, SAUDÁVEL VÍCIO!





















Depois do assinalável tributo de 2020, a reedição prevista para este mês do álbum "Artistic Vice" de Daniel Johnston (1991) é outro acto de amor e carinho - às fotografias raras, um livro com as letras e uma recolha de testemunhos emotivos dos parceiros da então EYE Band, junta-se um segundo disco recheado de raridades, demos, ensaios e inéditos dispensados como "All Good Children Got to Die", que hoje se deu conhecer numa animação video vintage.  

A versão dupla de vinil prevista e já em pré-encomenda é de um rosa e um azul lindos, tendo a totalidade das canções recebido uma remasterização sónica a cargo de Kramer, produtor e amigo de Johnston que trabalhou com os Galaxie 500 ou Will Oldham e que era também o dono da Shimmy-Disc, editora de Nova Iorque ainda activa e na qual foi originalmente editado o disco.

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

UAUU #728

RYLEY WALKER, GNRation, Braga, 4 de Outubro de 2024

Sete anos depois, Ryley Walker regressou ao GNRation numa noite anunciada em parceria com William Tyler. A inédita partilha foi, entretanto, abortada, pairando a notícia que esta seria a última das oportunidades para ver e ouvir o artista, dito como farto da estrada e das digressões. Quer para o cancelamento, quer para o cansaço, apesar de sentado, não houve nenhuma explicação ou teoria por parte de Ryley, que, pelo contrário, se mostrou desejoso de regressar à primeira oportunidade a um país que adora. Não duvidamos da preferência...

No escuro da sala quase preenchida instalou-se, num instante, um misto tangível, entre canções e afinações, da afamada pândega apalhaçada de alto teor de sarcasmo e non sense - a variedade vertida recaiu sobre o paraíso americano dos anos 60, a irritação inventada com o pai, cigarros nacionais de qualidade, viagens para a Baviera, sandes de frango das estações de serviço, negócios lisboetas de cocaína ou a nossa sexy beleza colectiva - e um desempenho sério e prazente da guitarra onde demonstrou a sua notável versatilidade e talento. 

Esticando os originais num género de jam introdutória, o que só permitiu identificar os temas ao fim de alguns minutos, a colecção confirmou-se de avultada estirpe americana, um género de reinvenção folk que ganha aos pontos a muita da bajuladora mainstream radiofónica. As raízes, essas foram como que adornadas cortesmente em duas enormes versões de John Martin (uauu!) e Anne Briggs! 

A herança perece estar, assim, mais que assegurada e em boas mãos, brotando da profundidade do Illinois em jorros fundidos de tradição e modernidade e que um toque de psicadelismo encosta num estilo muito próprio e diferenciador. À aptidão, que se espera de longa e duração, faltará somar uma canção portuguesa ou sobre Portugal, prometida e ensaiada, naquilo que poderá ser só mais uma das pérolas de um cancioneiro plural e excepcional - que tal chamar-lhe "Fish Tray"? Ryley é fixe!

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

DUETOS IMPROVÁVEIS #295

FAYE WEBSTER & JULIA JACKLIN 
Good Guy (Jacklin) 
Ao vivo no pub The Gem, Collingwood, Austrália,
Setembro de 2024

ED HARCOURT, MAIS E MAIS MAGNÍFICO!





















Uma edição especial do álbum "El Magnífico" de Ed Harcourt editado no final de Março continha um sete polegadas de vinil que só alguns ouviram. A rodela acrescentava uma brilhante versão de "Song to the Siren" de Tim Buckley e o original (?) "Let's Run Away From Ot All" às onze canções do disco e que podem ser devidamente apreciadas digitalmente a partir de hoje. Magnífico a dobrar!

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

STUART MURDOCH, NOVELA BIOGRÁFICA!





















Estamos no início da década de 1990 em Glasgow, e Stephen – um romântico amante de música – saiu de um longo internamento hospitalar com diagnóstico de síndrome de fadiga crónica, uma doença pouco compreendida que lhe roubou qualquer perspectiva de trabalho, vida social ou independência. O encontro com companheiros de luta, com os quais o mundo parece importar-se cada vez menos, permite formar o seu próprio grupo de apoio, tentando sobreviver da forma mais barata possível e sem dor.
Ao descobrir que tem a capacidade de escrever canções, ainda que de forma lenta e incipiente, Stephen desperta para a possibilidade de uma vida espiritual além do quotidiano. 

Abandonando Glasgow em busca de cura no calor mítico da Califórnia, Stephen e seu amigo Richard flutuam entre albergues, sofás e bancos de parque. A viagem poderá realmente oferecer a ambos uma reinvenção de um novo mundo? 

Este é o guião prévio e promocional de "Nobody's Empire", a já por aqui averbada estreia nos romances de Stuart Murdoch, fundador e vocalista dos Belle & Sebastian. Trata-se de um contorno literário a uma tradicional biografia ou memória, o que permite, tanto tempo depois, reinventar diálogos, situações ou acontecimentos. A novela terá edição já na próxima semana pela Faber inglesa e é acompanhada por uma nocturna digressão literária por várias cidades do Reino Unido.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

THE WEATHER STATION, CONTINUA O BOM TEMPO!





















Foi emitida, a partir da estação metereológica mais conhecida do Canadá, uma previsão de brisa cálida constante lá para Janeiro mas que, aos poucos, pode ser notada já hoje e que se dá pelo nome de "Neon Signs". Teremos, assim, um novo trabalho de Tamara Lindeman aka The Weather Station para saborear no Inverno, o que é uma sorte das antigas. As imagens recolhidas desta inicial e inédita aragem são da responsabilidade da própria e de Jared Raab e ilustram os actuais tempos de desorientação e desinformação colectiva que só a fantasia parece, de certa forma, humanizar. 

O novo disco "Humanhood" foi amanhado num género de improvisação ao vivo de seis músicos que decorreu, em duas sessões, no final do ano passado na Canterbury Music Company de Toronto e segue-se ao fabuloso "Ignorance" de 2021, trabalho que teve privilegiada apresentação ao vivo no Porto no ano seguinte. O mesmo se espera que aconteça também desta vez, atendendo a que há já digressão europeia agendada para Fevereiro e Março de 2025. Aguarda-se, por isso, acentuado bom tempo!

CASSANDRA JENKINS, ESTIRAMENTES!

Antes que seja tarde, apesar de um primeiro aviso já com meses, rememora-se que a menina Cassandra Jenkins editou um álbum em Julho passado que é de imersão obrigatória em caso de relaxamento.

Gravado em pouco mais de um ano, "My Light, My Destroyer" contempla abordagens corajosas a algumas rasteiras quotidianas vertidas para demos guardadas no computador durante demasiados anos. Diverso, mas coerente, delicado, mas confiante, o disco é porto seguro de uma compositora cada vez mais revigorante e, não é pouco, expansiva. Fiquem-se com esta trilogia de "estirementes" musculares...



terça-feira, 1 de outubro de 2024

NICK CAVE, DEIXA PARA LÁ!

O disco "Wild God" de Nick Cave com os The Bad Seeds, que terá apresentação em Lisboa a 27 de Outubro, prolonga o estado de graça do "Tony de Matos da Indie" (sorry) a um nível inimaginável, apesar de notarmos algum, pouco, desequilíbrio entre as canções. 

O que não tem classificação é "Salt of the Lake", a melhor abertura de um álbum em muito tempo, peça monumental que valeria, por si só, uma viagem até ao Parque Expo. Pena os 77 paus... Seja como for, deixa para lá!

BEN FOLDS, ATÉ AO NATAL...

saltinho de pardal! Bem que o dia húmido e nebuloso de hoje permite fazer lembrar este velhinho ditado português e, por isso, a primazia quanto à antecipação das canções de Natal cabe este ano a Ben Folds, compositor, músico, produtor de que poucas vezes nos lembramos mas que continua activo e low profile

Habituado a desafios e a fazer o que lhe apetece, desta vez é um disco inteiro de canções originais e algumas versões reimaginadas a caber em "Slighter", vagarosa melancolia sonora que se espreguiça já na audição de duas das dez novidades natalícias. Se quiserem uma boa prenda, lavrada com assinatura, sigam esta estrelinha *  .


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

A SONHAR COM ADRIANNE LENKER 2!

De um castelo irlandês para uma casa cozy nos arredores de Copenhaga, a magia é a mesma, a que se acrescentou público sortudo e o piano e voz de Nik Hakim, sessão a cargo da plataforma Brodie Sessions. Caramba, continuamos a sonhar com Adrianne Lenker...

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

WEST 11 + POPULATION:5, Piquenique Dançante Sobre a Relva, Parque de São Roque, Porto, 22 de Setembro de 2024

O piquenique no relvado do Parque de São Roque, adiado em Julho, tinha no Domingo à tarde boas razões para repasto animado. A abrir, os West 11 faziam o seu baptismo em festivais nas vésperas da edição do álbum de estreia já gravado, um conjunto de canções de brisa soalheira, como convinha, com laivos de bossa nova e alguma folk e western americana. Nas vozes, a inesquecível Beth Hirch que todos conhecemos de "All I Need" dos franceses Air, mas que aqui pela casa é sinónimo de monumento - chama-se "Come A Day" e abria o álbum de estreia "Early Days" de 2000 que ouvimos (e continuamos a ouvir) muitas, muitas vezes... 

O colectivo anglo-americano que vive em Portugal e que, aparentemente, foi buscar o nome ao filme inglês de 1965, incorpora o conhecido Phil King, guitarrista dos Felt, Lush os Jesus & Mary Chain e são dele as malhas de guitarra eléctrica que enchem os temas de um onda atlântica a que a voz ainda sublime de Hirsch vai sobrepondo leveza - "Hum Along" foi, a esse nível, imbatível mas o primeiro single "Love Resistence" é também uma enorme canção pop. Boa música, por quem só a sabe fazer à maneira e que, por isso, soube muito bem!

 

Seguiram-se os Population : 5, uma informal reunião de músicos portugueses e ingleses com sede no Porto e já com disco registado à moda antiga, isto é, de forma analógica de 8 pistas e em mono! Na voz principal, o amigo Chico Ferrão relata histórias e alusões espaciais rapadas a series-b e muita ficção científica a que uma máquina instrumental vai engrossando num género de, dizem eles e bem, rock n'roll distópico e divertido. 

A população ao vivo aumentou, entretanto, para seis com a ajuda de um percussionista, e para seis e meio quando um petiz de guitarra plástica em punho entrou, de fininho, para o palco para, em estilo air-guitar, fazer as delícias dos músicos, dos "piqueniqueiros" e, certamente, dos pais (ver ali em baixo, melhor momento, ao minuto 20:25). Temos guitarrista, confirmando que isto da música não tem idades. Por isso, uns "velhos" a fazer rock e o gozo que isto lhes é só uma das premissas definitivas para que um rejuvenescimento com este calibre não tenha tempo sequer para se extinguir. Pop(ulação) 5 estrelas!

JALEN NDONGA, NOVO REFORÇO!

A retro-soul de Jalen Ndonga vai crescendo nos adeptos e nas digressões - chega à Austrália já em Janeiro - e nada como canções novas para fortalecer e reforçar o fenómeno. Chama-se "Anyone In Love", saiu hoje e tem que se ouvir muitas vezes, não para confirmar a sua validade, mas porque se torna irresistível não carregar no "outra vez". 

Ficámos, como sempre, à espera do 7" de vinil pela Daptone Records, ah, e já agora, um concerto algures a norte da península (Ndonga já esteve no final de Agosto no Kalorama lisboeta).

DUETOS IMPROVÁVEIS #294

BRIGHT EYES & CAT POWER 
"All Threes" (Oberst) 
Álbum "Five Dice, All Threes", 
Dead Oceans Records, E.U.A., Setembro de 2024.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

RICHARD HAWLEY, Teatro Salesianos, Vigo, 21 de Setembro de 2024

A peregrinação rodoviária até Vigo fez-se a tentar adivinhar as canções que Richard Hawley iria eleger para o alinhamento da prometida noite de intimidade. Suspirava-se pelos grandes clássicos como "There's a Storm Coming", "Open Up Your Door", "Tonight the Streets Are Ours" ou "The Ocean", eterna maravilha com que terminou em êxtase a passagem por Santa Maria da Feira, já lá vão dezasseis anos! Passou, por isso, demasiado tempo até esta nova oportunidade, existindo agora outras tantas e tão boas canções que não é fácil chegar a um consenso...  

Na companhia de Shez Sheridan, aliado guitarrista de cumplicidade fraterna, a sessão haveria de se confirmar divina. Permeando temas novos e antigos, das mais recentes pérolas como "Heavy Rain" ou "Prism in Jeans" passando por "Precious Sight" ou "Something Is...", preciosidades já vintenárias, o desfiar de cada uma das catorze peças até antes do encore acentuou a nobreza, a beleza e a qualidade de um songbook de britanismo nostálgico, imagético e de peculiar fineza que só Hawley sabe fazer. 

Ao seu jeito, brincou com o raio do Brexit, com a nativa e amada Sheffield ou com as autonomias comuns e chegou a não ter medo de afirmar que os espanhóis falavam muito, ferimento na asa da noite anterior por Santander onde, ao que parece, o respeito que a sua música requer se perdeu entre conversas... 

Pelo contrário, no teatro viguês, a plateia adulta e com adesão de alguns portugueses, como que se recostou nas cadeiras na melhor das atitudes, fruindo dos momentos, do cruzamento inebriante das guitarras, das suas variações irrepreensíveis - e que bonitas, estrondosas, guitarras Atkin tem Hawley na colecção - e da acústica sublime que, por isso, não escondeu algumas fugas de voz de um Hawley bem disposto e, nitidamente, satisfeito. 

Chegava o encore e os tais clássicos desejados começaram, naturalmente, a ser pedidos entre gritos e ovações. Hawley ouviu, fitou-nos desafiante e explicou que bem gostaria de os tocar mas, para isso, onde estava a orquestra? Elegeu "For Your Lover Give Some Time" para nos fazer mal ao coração, tema criado para a esposa Helene mas que, ali e agora, envolveu a plateia rendida num abraço de ternura e apreço memorável. Para descomprimir e tornar a respirar, ouviu-se "My Little Treasures", uma bondade pop de flutuação graciosa que encerrou da melhor forma tamanha aparição que se promete irá pairar, com banda, por perto em 2025. Muchas gracias!

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

PETER BRODERICK EXPÕE-SE EM SERRALVES!










A paixão de Peter Broderick pela música, mesmo que inacabada, de Arthur Russell (1951-1992) teve amor à primeira vista a partir de 2017, mas a dedicação continuou activa, crescente e imparável. Em vários momentos ao vivo foi dando a conhecer recriações e versões de temas do vanguardista americano, tendo avançado até para um disco inteiro, no ano seguinte, onde, na companhia de vários amigos, gravou uma serie de inéditos e variações. 

Agenda-se agora uma oportunidade exclusiva para Serralves denominada "Peter Broderick Plays Arthur Russell" marcada para sábado, 30 de Novembro pelas 19h00, final de tarde inteiramente consagrado ao projecto/homenagem e que se adivinha radiante. Já há bilhetes.

WINTEN + MAPLE GLIDER, Loja Socorro, Porto, 20 de Setembro de 2024

Na cave da loja de discos (e não só) Socorro da Rua Guedes de Azevedo esconde-se um espaço para concertos de programação diversa que não dispensa a nova pop como a da jovem Tori Zietsch aka Maple Glider. A cidade, não por acaso, foi a escolhida para terminar uma primeira digressão internacional de formato acústico e descontraído na companhia de dois amigos de cumplicidade próxima que atraiu uma boa plateia curiosa na descoberta da artista e do espaço. 

Bridgette Winten, uma dessas amizades com dotes confirmados na fotografia e na realização de videoclips, é também compositora de canções já gravadas para o disco de estreia "Waving To My Girl" de 2023, e a oportunidade serviu para que algumas se fizessem ouvir na intimidade e ternura de uma guitarra acústica. Voz suave para contar histórias de desamor, conflictos familiares, insegurança ou rejeição, uma colecção de simpatia assumida e recepção de aprovação imediata.

 

Uma canção natalícia ("Mama It’s Christmas") sugeria ser uma escolha extemporânea para iniciar um concerto, mas o Natal que Maple Glider nos queria fazer lembrar não é esse, fofinho e alegre, mas um outro que a religião vai fingindo numa hipocrisia secular. O tema, nada inocente, espalha-se a muitos outros que na infância e juventude a baralharam nas convicções e certezas e que, desde cedo, verteu para canções desanuviadoras ("Dinah") mas encorajadoras na vontade de se tornar denunciante (en)cantada. 

A seu lado, a referida Winten e o guitarrista Adam ajudaram a que, aos temas, se acumulasse uma camada de suavidade, ora vocal ou instrumental, onda desinibida que teve cume numa versão de "You're Still the One" de Shania Twain. O espanta espíritos relaxado só mais à frente se confirmou numa festa contida comemorativa do término da tournée, fazendo o trio regressar para um encore inesperado e arriscado para despir e tornar a vestir "As Tradition" de forma inédita. Concerto oportuno, prometedor que, mau grado o imenso calor e a pobreza cenográfica do espaço, se espera tenha continuidade...  

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

WHITE DENIM, ONZE MAIS UM!





















A evidência já por aqui foi sugerida - os White Denim são uma banda do caraças e mereciam, para além de maior reconhecimento, parangonas de primeira página. Depois de um disco pandémico, o regresso acontece já em Dezembro pela nobel Bella Union com "12", sim, são já doze álbuns na conta, desde 2006, da banda de James Petralli a quem coube, desta e pela primeira vez, comandar sozinho a engenharia e a produção das canções em estúdio. 

A influência principal, mesmo que surpreendente, residiu no disco "Cupid & Psyche" dos saudosos Scritti Politti, embora Petralli confesse ainda veneração por outros compositores pop como Nick Lowe, Joe Jackson ou Jonathan Ritchman, todos de uma sofisticação reconhecida. Há para já um testemunho de caleidoscopia assinalável e efervescente em duas versões - ao vivo no estúdio e a que surgirá no disco. Light on! 


terça-feira, 17 de setembro de 2024

MESKEREM MEES + BILLIE MARTEN + STILL CORNERS, Festival Manta, CC Vila Flor, Guimarães, 14 de Setembro de 2024

A edição dezassete do Manta vimaranense concentrou no segundo dia uma ementa particularmente suculenta se bem que imprevisível. Exemplo dessa incógnita era a jovem belga Meskerem Mees que se estreava no país para apresentar as canções que, desde muito cedo na juventude, decidiu compor. Dona de uma voz intrigante, começou com uma versão de Jonnhy Flynn, por sinal, uma boa aposta no despertar da atenção quanto à doçura da receita mas, essa, foi mesmo a melhor de um curto e desequilibrado alinhamento. Os vários originais escolhidos transpareceram ainda em bruto e quase inocentes, nada que a perseverança e confiança demonstradas travem numa progressão, certamente, proveitosa. 

 

De outro calibre de refinação é a britânica Billie Marten, senhora de uma carreira já sustentada em cinco álbuns de originais de proeminente acústica. A lembrar, no louro dos cabelos e até na figura, a conterrânea Laura Marling, a coincidência aproxima-as também nos recursos sóbrios da composição e das líricas. Como não admirar "Felling" com que abriu o concerto ou "Toulouse", uma pérola de popicidade adulta e misteriosa que nos levam, sem outro remédio, a ter que começar a ouvir os seus discos como deve ser e como merecem. Excelente surpresa!

 

A segunda investida dos Still Corners pelo Minho em menos de um mês talvez explique a enchente de público, uma expectativa que se agarrou a uma sensação de nostalgia que a sua música evoca desde 2007. As canções, sonhadoras e viajantes, adornam-se pelo fascínio da guitarra de Greg Huges e da voz Tessa Murray, uma marca muito própria que comporta vantagens e óbvios perigos. O exagero é um deles, e essa ratoeira foi notória na noite de Sábado, onde ao "despachar" das canções se juntou uma rotina instrumental que, mesmo sem contratempos, pouco se entranhou e cresceu e que, talvez, um baixista de profundidade apurada pudesse abanar. O pecado ficou demonstrado nalguma da frieza com que a plateia lhes bateu palmas, um envolvimento sonífero que só mesmo os riffs e guitarradas a la Knopfler ou Chris Isaak causaram um leve, mas inconsequente, estremunhar...

JIM WHITE & MARISA ANDERSON, Jazz ao Largo, Claustro da Câmara Municipal de Barcelos, 14 de Setembro de 2024

As seis peças de "Swallowtail", o segundo projecto colaborativo de Jim White e Marisa Anderson, são elucidativas quanto ao poder da música - mesmo que separadas formalmente no disco, a sua apresentação ao vivo mereceu uma perfomamnce contínua ao longo de uma hora, período onde a guitarra e a percussão se fundiram sem pausas ou intervalos num género de fluxo espiritual. 

O fenómeno, presenciado por cerca de sessenta testemunhas de todas as idades, teve no pátio murado do claustro do município barcelence um género de contenção física que não impediu que a energia emanada tenha flutuado muito acima de tudo e de todos no seu intrépido impulso de improvisação, virtuosismo e liberdade. A criação, certamente, irrepetível, navegou constante numa pulsação majestosa, próxima e de um hipnostismo imediato que teve em Jim White um íman atencional. 

A subtileza, a classe, a qualidade de um baterista talvez não sejam mesuráveis, mas sempre que White tira as botas para lá colocar o jogo de baquetas e se senta por trás dela, um círculo mágico parece fechar-se único na grandeza e numa envolvência de inimitável e diferenciador carimbo. Juntar-lhe os redemoinhos e variações da guitarra de Anderson, efusão improvável mas expansiva, é só mesmo um fenómeno de inevitável poder transformado em estrondo. E que bem alto, e ao largo, ele se fez ouvir...  

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

DUETOS IMPROVÁVEIS #293

M. WARD & FOLK BITCH TRIO 
Cry (Godley & Creme) 
Álbum "For Beginners: The Best of M. Ward", 
Merge Records, E.U.A., Setembro de 2024.

BILL MACKAY, Pequeno Auditório, Teatro Rivoli, Porto, 13 de Setembro de 2024

Uma sexta feira 13 foi o dia escolhido para a estreia tardia de Bill MacKay na cidade apesar do compositor e guitarrista de Chicago acumular excelentes discos há muito mais que uma década. Mesmo que parceiro e cúmplice de, entre outros, Ryley Walker, Steve Gunn ou Nathan Bowles, foi sempre sozinho que ganhou reconhecimento, mantendo, contudo, uma discrição mediática que o converteu num segredo bem (a)guardado. 

Paisagens, devaneios, viagens ou memórias, juntaram-se como por simbiose sonora pela guitarra eléctrica que domina de forma hábil e virtuosa e a que juntou, em algumas canções, a voz para contar histórias que foi introduzindo num português colonial surpreendente e divertido. Parte delas, escolheu-as de "Locust Land", disco deste ano na Drag City que o confirma como um músico meticuloso e de uma sagacidade apreciável. O vibrante rasganço, já de pé, com que encerrou o serão entre muitas palmas, teve o condão de revalidar a obrigação de um regresso rápido e de bom caminho. Para o efeito, qualquer dia de um mês será sempre um dia de sorte...