sexta-feira, 10 de novembro de 2023

H. HAWKLINE + DEVENDRA BANHART, Theatro Circo, Braga, 8 de Novembro de 2023

O nome de Huw Evans aka H. Hawkline apesar de discreto e desconhecido para uma maioria, tem estado involuntariamente presente em alguma da boa música que vamos "ouvendo". O galês, que é também designer, andou alguns anos por Los Angeles e já fez digressões e guitarradas com o próprio Devendra Banhart em 2015, discos com a conterrânea Cate Le Bon de quem foi namorado, partilha de estúdio e palcos com outra namorada chamada Aldous Harding que chegou ao Porto em 2019 na função de baixista e também desenhou e tocou baixo para álbuns de Kevin Morby ("Harlem River", por exemplo). 

Vê-lo a abrir o concerto de Devendra Banhart acabou, assim, por ser uma partilha natural atendendo a que a digressão de apresentação de "Flying Wing", disco onde o nome de Cate Le Bon se torna influente, conta com ele no importante papel de guitarrista. Foi com a guitarra que se sentou sozinho na frente de palco em meia-hora divertida e atenta para um desfiar de um punhado de canções próprias contidas no mais recente projecto a solo "Milk for Flowers" editado em 2023 e que mereceu boas referências. O momento teve o mérito de despertar a atenção para a notória qualidade de uma composição a que não se dever perder o rasto e, acima de tudo, o gosto.

 

Serão para aí umas sete as vezes que já presenciamos Devendra Banhart em cima de um palco. De Lisboa a Vigo, de St. Maria da Feira à Zambujeira, passando pelo Porto ou Espinho, assistimos a concertos de ondulação diferenciada de registo free, pastoral, acústico ou pândego. Desconhecíamos, no entanto, a versão desinteressante. 

Talvez pela dormência e estranheza de "Flying Wig", o novo álbum que suporta a actual digressão, a primeira parte do espectáculo redundou num irregular prolongamento dessa infiltração agravada por uma amplificação sofrível da voz, apesar de toda a competência do quarteto de suporte onde a subtileza marcante do baixo cedo se fez notar. A habitual interacção e conversa com o público foi, amiúde, de imperceptível e propositada indistinção a que mesmo um "any requests?" não obteve continuidade ("Daniel" e "Santa Maria da Feira" foram, de imediato, os mais requeridos mas Devendra limitou-se a reproduzir, ao de leve, os primeiros versos e acordes em jeito de provocação excêntrica). 

Só com um "Seahorse", esse sim, de perfeição cimeira, o espectáculo ganhou, de facto, algum do frenesim que caracteriza um artista que dávamos como quase imbatível na forma como, ao vivo, fermenta intencionalmente a vibração. Paradoxal, esse habitual balanço festivo nem mesmo no curto encore, que fez a gentileza de apresentar, se notou vontade e disposição para algo mais a que a sala de visitas minhota suspirava na redenção mas que resultou numa estranha e inesperada decepção.   

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