terça-feira, 7 de novembro de 2023

(RE)VISTO #112





















RECLAMAR AMY 
de Marina Parker. Londres: Curious Films/BBC, 2021 
RTP2, Portugal, 4 de Novembro de 2023 
Passados meia dúzia de anos sobre a estreia de "Amy - A Rapariga Por Detrás do Nome" (2015), a família Winehouse ganhou força para promover uma outra visão sobre a filha, zangada e amargurada com o conteúdo maléfico que tal abordagem biográfica lhe tinha causado. 

Apelando da credibilidade sempre reputada da BBC e reunindo vontades, testemunhos credíveis e, é bom dizer, coragem para retomar uma história trágica de uma ente querida, dizem, injustiçada pela opinião pública, este é um documento que tenta reclamar da iniquidade sobre Amy Winehouse nas figuras principais da mãe Janis e do pai Mitch, insistindo em contar uma história diferente dez anos depois da morte da filha, um hiato de sofrimento que o investimento e colaboração neste projecto sugerem ser, em simultâneo, um alívio e uma homenagem. 

Na voz da mãe narradora e no vigoroso empenho do pai em reconhecer erros e atropelos, somos impelidos a recordar uma infância plena de traquinice e felicidade a que o divórcio dos pais não colocou travão. Os desequilíbrios da jovem artista no futuro não foram, pois, uma consequência de má educação que a estreia aos 19 anos, com o esquecido e já maduro álbum "Frank", sugeria ser só o princípio de um estrelato longo. As nuvens negras começaram, então, a acumular-se e o filme não deixa de as esconder havendo, para isso, uma série de arquivos familiares que primam pelo ineditismo e surpresa mas sem o exagero do tal documentário prévio. Não falham, assim, o avivar de chagas como a bulimia, o álcool, as drogas ou a depressão e continua a não ser fácil percebê-las ou justificá-las. Também não valia a pena. 

Talvez se possam destacar dois momentos desta tentativa definitiva de remexer na desgraça de Amy Winehouse - as imagens da visita a um género de arquivo de bens da cantora - fotografias, vestidos ou calçado, discos de ouro, guitarras, etc. - que os pais alugaram para recolher todos os objectos e memórias da filha e cujo destino foi dado a um leilão solidário e também o testemunho de uma jovem artista beneficiária da acção de uma fundação instituída como o nome da cantora para a recuperação e reabilitação de casos semelhantes de dependência e, consequente, doença mental. 

Em menos de sessenta minutos, foram essas as duas únicas sequências que nos fizeram sair de um masoquismo desnecessário que, fica prometido, acaba mesmo por aqui. Para quem quiser insistir na intoxicação, o caminho é este.

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