segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

JANDEK, Auditório de Serralves, 10 de Janeiro de 2008



À habitual pergunta “Então, gostaste?” que acontece sempre no final de cada espectáculo, muitos dos presentes em Serralves no sábado passado não teriam uma resposta pronta e fácil. Muitos deles, e atendendo à quantidade de desistências verificadas, responderiam “Não”. Quanto a nós, mais a frio e passadas quase 48 horas, atrevemo-nos a responder que “Sim, mas...”. Confessamos a nossa ignorância em relação à música de Jandek, à sua aura de mistério, à raridade dos seus concertos ou a qualquer um dos seus imensos discos. Não resistimos, contudo, a algumas sugestões paralelas e de imprensa, que davam esta oportunidade como única e imperdível. Em conversas de circunstância que antecederam o concerto, alguns mostravam-se já desapontados por saberem que o músico não tocaria guitarra nem cantaria e que somente o piano seria utilizado. Noventa minutos depois, o tempo que demorou a perfomance, concluimos que esse talvez tenha sido o principal “problema”. Lentamente e sob uma luz muito ténue, Jandek entrou sem palmas, sentou-se ao piano, respirou fundo e pousou as mãos sobre as teclas. O que se seguiu foram composições atonais e não convencionais, sem que se percebesse o que foi improvisação ou composição e que exigiu de todos uma imensa concentração e disposição. Alguns, no entanto, não resistiram e desistiram... Para quem tenha lido, como nós, que Jandek era um “escritor de canções”, muito dificilmente, nos dois ininterruptos “andamentos” de quarenta cinco minutos cada, as conseguimos decifrar, embora não seja difícil perceber a qualidade e surpreendente secura dos acordes. Os silêncios, a austeridade e arrepios das melodias remetem-nos para bandas sonoras imaginárias ou imagens, que não sendo na altura projectadas, muitos, necessariamente, construíram, associaram ou inventaram. Um concerto exigente, provocador e, porque não dizê-lo, tormentoso.
(fotos + video HD HugTheDj)

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