ANTÓNIO VARIAÇÕES - ENTRE BRAGA E NOVA IORQUE
de Manuela Gonzaga. Lisboa: Âncora Editora, 2006
A personagem de António Variações teve ao longo dos nossos anos oitenta uma dupla face. Por um lado, a surpresa e espanto da sua atitude e postura, visível nos programas de Júlio Isidro e que nos deixava sempre pregados à TV. Por outro, alguma distanciamento em relação ao género musical, que não encaixava nas tendências que então o "Som da Frente" emanava, preconceito estúpido que o tempo viria a modificar e que a leitura deste livro de Manuela Gonzaga ajudou ainda mais a consolidar. Percebendo a sua infância rural e as dificuldades familiares, a ida para Lisboa, o serviço militar, o orgulho na profissão de barbeiro, ou a veneração pela Amália, chegamos a um "Estilo Variações" de enorme impacto num país de brandos costumes. Imaginamos as dificuldades de Vitor Rua e restantes GNR ou dos Heróis do Mar em passar para uma fita as ideias e manias de um Variações que não sabia uma nota de música e que, confiando na sua insistência e motivação inspiradora, é que, com algum custo, mas muito prazer, concretizaram para a posteridade os dois álbuns de originais. Impressiona a descrição do seu funeral, que saído de Lisboa, percorreu até ao Minho diversas estradas e povoações, sempre aclamado por multidões de pessoas dos oito aos oitenta, pobres e ricos, num reconhecimento espontâneo a um músico que era, silenciosamente, amado no seu país. Quando em 2005 assistimos a um coro de trinta mil pessoas a cantar o "Maria Albertina" com os Humanos no Festival Sudoeste, concluímos que, afinal, a homenagem perdurou e perdurará para sempre.
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