sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
QUINTAS DE LEITURA - 11 ANOS, Teatro do Campo Alegre, Porto, 16 de Fevereiro de 2012
Liberdade, surpresa, risco, prazer ou simplesmente cultura. Foram estas algumas das palavras que os habituais colaboradores das "Quintas de Leitura" elegeram destacar quando questionados sobre a importância do evento. Nesse pequeno video/genérico de Marco Oliveira que deu o tiro de partida para uma noite de aniversário, estavam resumidas as linhas mestras do longo serão que se seguiu e que são, no fundo, a razão de tão merecido sucesso ao fim de mais de uma centena de edições em onze anos de vida. Não há que enganar, como espectadores queremos murros no estômago, canções de embalar ou de acordar, poemas desconhecidos, nonsense anárquico, textos de outro mundo, movimentos de dança inesperados, coreografias e cenários surpreendentes. Em doses diferenciadas, tivemos direito a tudo isto e muito mais. Brilhantes, espantosos mesmo, os excertos do espectáculo "Drácula" pela Vortice Dance Company, risota e acutilância nos textos eleitos por Isaque Ferreira e Daniel-Maia Pinto Rodrigues, curta mas saborosa presença ao piano de Freddy, At Freddy's House e sua voz a la Thomas Feiner e alguns desníveis na perfomance dita poética de O Copo, dueto ensaiado de Nuno Moura e Paulo Condessa. Sobre o Peixe Graúdo, uma remix de música e textos, ainda agora estamos a digerir tamanha, poderemos dizer, afronta. De Abba ("Dancing Queen") a Madonna (Material Girl"), passando por Sétima Legião ("Por Quem Não Esqueci"), o trio feminino mostrou-se afinadíssimo nas vozes e desconcertante nas palavras dos diversos autores portugueses com que intercalaram as canções, provando, como se fosse preciso, que a língua portuguesa é muito matreira para além de traiçoeira. No momento monty phyton da noite, irrompeu pela sala João Ricardo Pateiro, que nos habituamos a ouvir relatar futebol na TSF e que fez isso mesmo no seu jeito peculiar agarrado ao microfone, mas aqui, obviamente, exagerando expressões e adjectivos. Numa sequência quase zen, sentou-se ao piano Charles Sangnoir para duas canções sobre a morte e "amor mais forte que uma G3" e se as luzes da plateia estivessem acesas talvez fosse possível confirmar se haveria mais bocas abertas de espanto ou olhos fechados de sono... O génio de Camões declamado por Pedro Lamares logo a seguir foi, no reverso, bem vincado e despertador, provando a inconcebível pouca atenção com que a maioria de nós despreza tamanho talento da literatura universal. No fim, três temas acústicos dos Best Youth, embaladores, sonhadores, de um duo em ascenção, como o prova a versão ao piano do já hit "Hang Out". Um bem-haja para João Gesta, programador irrequieto de tamanho espectáculo a quem a cidade agradece a afincada persistência na preservação de um bem tão fundamental chamado cultura.
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