A estreia desta casa na festa barcelence podia ter corrido um pouquinho melhor, mas, como diria Jacques de La Palice, também podia ter corrido pior. Não frequentamos a piscina devido ao adiantado da hora, o que foi pena, mas gostamos do acesso fácil, do estacionamento rápido e gratuito e da mobilidade e circulação do espaço reservado aos principais palcos nocturnos. Não gostamos daquela espécie de militares fardados a rigor de boina preta na frente do palco principal que devido à reduzida elevação da estrutura se confundiam com os músicos. O que vale uma das artistas media quase dois metros e um outro tinha uma vistosa melena loira! Também não gostamos do preço do bilhete diário que nos pareceu exagerado e do reduzido tamanho dos copos de cerveja. Adiante.
A senhora Sarah Assbring, que em tempos decidiu, sabe-se lá porquê, baptizar-se em castelhano como El Perro Del Mar, sabe que corre riscos. Pondo para trás das costas uma veia acústica atractiva que lhe trouxe notoriedade, assume agora uma sonoridade electrónica registada num novo álbum de originais. A jogada é perigosa (olá Goldfrapp) e arriscada o que ao vivo se traduziu em alguns momentos de desconforto em palco e na plateia. É sempre bom ouvir coisas novas, mas apresentar um único tema antigo, o último ("Change Of Heart"), pareceu-nos demasiado e quase um atentado ao bom gosto atendendo à qualidade dos registos anteriores. A indiferença com que foi brindada acabou por ser merecida.
Dos Prinzhorn Dance School reza a história a ligação umbilical à casa DFA, o que por si só é, obviamente, sinónimo de qualidade. E ela não faltou no concerto da dupla Tobin Prinz e Suzi Horn, muito por culpa de um enorme som de baixo a convidar à dança em canções de elevada potência e subtil rudeza. Uma presença certeira num concerto descontraído mas de forte consistência.
Quem ouviu de fio a pavio o disco "Forever Dolphin Love" de Connan Mockasin e lhe reconheceu uma fragilidade sonora propositadamente sedutora, facilmente admitiria que a receita transportada para um concerto acarreta uma implícita dose de imprevisibilidade. Receios apartes, o neo-zelândez e restantes parceiros apresentaram-se de fininho de forma brilhante, conquistando a plateia ao ponto de a fazer literalmente sentar e levantar durante os vinte minutos finais do memorável tema título "Forever Dolphin Love" ao mesmo tempo que iam arrastando/brincando com fotógrafos no palco... Pela primeira vez nesta noite, vimos e ouvimos mesmo muitas palmas de agrado que parecem ter conquistado o próprio Connan, um herói de carne e osso.
Quanto aos portugueses Gala Drop, não foi preciso muito tempo para que se confirmassem todos os já habituais elogios. Sem mácula, é irresistível o contínuo balanço dançante a que a composta moldura humana presente respondeu sem esforço. Uma banda que merece voos mais altos a que maioria dos principais "aeroportos internacionais" (leia-se reputados festivais) irá acabar por irremediavelmente aderir.
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