Quis o acaso que uma boa parte qualitativa da extensão do Primavera Club a Guimarães se concentrasse logo no primeiro dos dias. Atendendo ao agendamento e olhando aos horários haveria que fazer algumas escolhas mas sem uma aparente ou preocupante sobreposição de concertos. Puro engano, como veremos à frente.
Começamos sentados numa das cadeiras do pequeno auditório do Vila Flor para os Lemonade, embora a pop gingona pedisse uma óbvia pista de dança. Bem tentaram com a ajuda de uns (já) animados espanhóis fazer-nos desistir do conforto dos assentos, mas era cedo demais para a festa. Diga-se também que o sonzinho escutado só em alguns casos acabou por ser convincente, com demasiados desafinanços e certos trejeitos dispensáveis (o baterista a la Heróis do Mar ou uma sofrível grande parte das líricas) a esbater uma maior interactividade. Próximos!
Foram poucos os que esperaram por Daughn Gibson no Café Concerto. Poucos, mas de ouvido aberto à espera da confirmação de um novo talento na composição e na voz. Não foi preciso muito para ficarmos convencidos. Grandes temas de um primeiro disco de descoberta obrigatória e um vozeirão raro a fazer lembrar crooners clássicos que se ouvem pela noite fora, numa viagem de carro com lua cheia ou batida pela chuva. Queremos mais!
A estreia de Sharon Van Etten no norte do país foi, no mínimo, luminosa. Grande banda (surpresa a presença da multifaceta e subtil Heather Woods Broderick), enormes canções de raça num alinhamento onde não faltou uma cintilante e prometedora composição inédita de quase sete minutos. A aparente timidez em cima do palco só entre temas se faz notar ao de leve, pois de guitarra em punho e puxando pela magnífica voz, a menina torna-se irresistível e até arrepiante. Pena os vinte minutos de atraso para que o concerto tivesse início, encurtando-o quase sacrilegicamente e sobrepondo-o de forma irreversível sobre a actuação seguinte numa outra sala...
A fama do senhor Dan Bejar vem já de muito longe a que se junta uma full band hoje em dia cada vez mais incomum e insustentável. Houve por isso que dar aos calcantes. Foi assim que dos Destroyer só apanhamos quatro temas, magníficos por sinal. Claro que entrar no São Mamede e levar logo com o "Kaputt" a sair das colunas faz milagres, mas assentando arraiais deu para perceber as limitações e desconforto do espaço e um som, apesar de competente, a precisar de acertos. Mas, como seria possível não ter gostado destes saborosos vinte minutos?
Quanto ao senhor Ariel Pink, bom, a fase da lua confirmou ser minguante. Talvez distraído pelas imagens projectadas na tela (parede?) do antigo cinema, a atitude irrequieta, outrora uma imagem de marca consensual, foi ontem exageradamente descuidada. Claro que há canções brilhantes que podiam e deviam ajudar a salvar a noite ("Round And Round" ou "Only In My Dreams") mas mesmo essas mostraram-se apressadas e a precisar de uma limpeza a seco. Já vimos e ouvimos muito melhor (Plano B, Junho de 2010, por exemplo) e, genialidade reconhecida à parte, este é um Ariel "Areão" Pink a precisar talvez de mais descanso.
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