Em dia de consagração da guitarra (propositado?) os Dinosaur Jr. foram uma escolha certa, ou seja, segura. Padrinhos do chamado indie, a extensa melena branca de J Mascis só prova que a banda já cá anda a espalhar sabedoria há muito e a plateia, ainda na ressaca da véspera, cedo cedeu ao encantamento. Com Lou Barlow de volta, a máquina mostrou-se parafinada e cativante, particularmente para todos os nuestros hermanos presentes que, já em delírio, não pararam de mostrar o seu agrado. Palmas!
Quase com a mesma idade, não há como não gostar também dos The Sea And Cake, uma banda que merecia uma medalha de bons serviços prestados ao pop rock e que tem em Sam Prekop um genial mentor. Como sempre, sem grandes alaridos, pela calada e no palco certo, um lote reduzido de canções bastou para nos rendermos, o que julgamos ter servido para abrir os ouvidos a muitos outros que ainda não "chegaram lá".
Do regresso de Daughn Gibson à Invicta, por onde já tinha vadiado aquando do Primavera Club vimaranense, fica uma leve sensação de desilusão. Na companhia de um baterista e, lá está, um guitarrista, a oportunidade valia para mostrar novas canções, o que fez, e recordar algumas de boa cepa do álbum de estreia, o que também concretizou. Quando tudo parecia encaixar-se para a conquista, Gibson abandonou de repente o palco ao fim de meia-hora, atitude surpreendente até para os parceiros. Só mais tarde perceberíamos parte do porquê...
Com os White Fence voltamos às guitarras psicadélicas o que no caso são três ao desafio. A banda consegue, mesmo assim, sob a batuta do "maestro" Tim Presley uma cintilante receita retro que nos fez lembrar tantas referências, dos Love aos Floyd, dos Kinks aos Animals, mas sem piscar demasiado os olhos a qualquer uma delas. Uma das boas surpresas do festival.
Quem não viu as Savages no Primavera? Pois é, não se deviam ter perdido com umas "explosões no céu" porque a explosão certa estava para acontecer no palco e recinto coberto mais pequeno a rebentar pelas costuras. O som é de hoje, é parecido com o de ontem mesmo que sejam "petardos" com trinta anos largados por terras britânicas, mas o que é certo é que resulta e de que maneira! Estéticas à-parte, a potência e consistência deste colectivo feminino com pouco mais de um ano é deveras surpreendente e, melhor, completamente irresistível. Há em "Silence Yourself", o álbum de estreia, potentes canções com rastilho de hit como "She Will" ou "Husbands" mas o momento final com o alongamento até à exaustão de "Fuckers" comprova que há ainda muito para dar e vender. Um concerto assinalável e, claro, bombástico!
Ainda atordoados, descemos a colina para tentar não perder os My Bloody Valentine, o que conseguimos, embora o momento tenha tido o seu quê de desapontamento. Como experiência sonora para a qual, à partida, estávamos preparados, podemos dizer que valeu a pena. Só isso. Mau som? Mas o que será bom som para esta banda que faz do emaranhado ruidoso um modo de vida? Mesmo assim e contando não repetir a dose, se há adjectivo perfeito será qualquer coisa como... incomparável!
Conselho de amigo conhecedor deu-nos entusiasmado aquela dica "não percas Fucked Up". Bom, perdemos quase tudo. Quando chegamos ao local na hora marcada no programa (3h00) a banda tocava já a última música! Questionamos uns poucos mas sem resposta coerente e só depois percebemos que o concerto tinha sido antecipado porque o vocalista tinha que viajar mais cedo! Não havendo anulação de bandas, cada uma delas tocou, só pode, menos tempo - daí, talvez, a tal brusquidão do Daughn Gibson... Os dez minutos que presenciamos, um misto de anarquia entre o público e o simpático e gordo vocalista, deixou-nos, obviamente, a suspirar por uma nova oportunidade. Talvez no próximo Primavera, esperemos.
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