quarta-feira, 26 de novembro de 2014

(RE)LIDO #61





















NICK DRAKE - DREAMING ENGLAND
de Nathan Wiseman-Trowse. London: Reaktion Books Ltd, 2013
Incluído na interessante série Reverb da Reaktion Books, a abordagem ao culto pós-morte de Nick Drake e à sua íntima ligação à cultura inglesa alcança neste livro uma dimensão académica. O autor, professor de Música Popular na Universidade de Northmpton, esclarece desde logo ao que vem: "There are no explicit references to England, the country, or indeed Britain, the political union, anywhere in the music of Nick Drake." (p. 19). Sendo assim, a demanda na procura de sinais de uma intraduzível "Englishness" através do trabalho de Nick Drake espraia-se, principalmente, pelas líricas das suas canções, um "jogo", diga-se, muito difícil de (de)terminar... Romantismo, melancolia e até misticismo são alguns dos estados de alma que emanam da música de Drake mas nunca como neste livro se percebe quais as influências e ligações que o trovador encontrou na poesia inglesa (Keats, Blake, etc.) ou na sua cultura e tradições. No nosso caso, é o campo, a natureza, a chuva, as nuvens, as árvores, o sol ou a lua que permitem que a magia sonora se eternize e que sempre associamos à paisagem britânica, ao seu coutryside, às suas casas gradeadas, ou às suas estradas estreitas atravessadas pausadamente por automóveis vintage. Curiosamente, logo na introdução aparece uma fotografia da série "Reviver o Passado em Brideshead" de 1981 em que os personagens Charles e Sebastian, deitados sob uma árvore num bonito dia de sol, fumam um cigarro. O autor adianta que, perante este cenário, quase podemos ouvir o "River Man" a ecoar baixinho como banda sonora de um certo pastoralismo nostálgico por contraponto a um ambiente mais urbano que não se reflecte de forma tão nítida nas canções. A esta dicotomia campo/cidade o autor dedica um só capítulo da obra, por sinal o mais interessante, embora a presença de sinais citadinos seja mais ambígua e cinzenta dado até o facto de ter sido em Cambridge e Londres que a vida de Drake começou a "andar para trás". O seu regresso a Far Leys, a mansão-mãe de ambiente rural, num derradeiro fôlego para agarrar a vida haveria de ser a tentativa desesperada de não perder um passado em família rodeado de jardins, árvores e cursos de água, onde Drake continuamente se inspirou e aconchegou como facilmente se conclui da leitura agradável deste livro. Haverá, mesmo assim, algo atrás do sol que nunca vamos querer perceber...

About the farmers and the fun
And the things behind the sun
And the people round your head
Who say everything’s been said
And the movement in your brain
Sends you out into the rain

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