terça-feira, 18 de novembro de 2014
(RE)VISTO #58
O UIVO DA MATILHA
Tributo a António Sérgio e à Rock'N'Roll Radio
de Eduardo Morais. Lisboa; Edições El Pep, livro/dvd, 2014
Ponto de ordem prévio - António Sérgio merecia, como por aqui fomos sugerindo, todas e quaisquer homenagens e reconhecimentos em vida. Ponto! Uma comenda, uma medalha, uma festa ou, notoriamente, um registo em imagem pensado e estruturado para contar a história silenciosa do seu árduo e insistente amor pela música na sua pureza e limpidez, seriam todos mais que merecidos. Não, em Portugal o hábito é deixar para as calendas, para o acaso ou para alguns "excêntricos" a sorte de vermos documentada uma vida rara como a dele, toda ela voltada para os outros e para a sua felicidade. Foi-lhe dado, é certo, um Globo de Ouro ou uma hora na SIC ("O Senhor Que Se Segue", 1995) mas são poucas as entrevistas, reportagens ou testemunhos em nome próprio captados por uma simples câmara de televisão que, certamente, lhe teriam dado muito gozo em participar. Sendo assim, o "Uivo" realizado este ano em poucos meses e com poucos euros é, por tudo isto, um acontecimento! Como afiança o próprio realizador, a ideia era fazer um documento e não um documentário que servisse de testemunho do que deve ser e para que serve a música numa rádio. Confirmando este papel de mentor e mestre, o filme reúne para o efeito, para além dos filhos e da companheira e esposa Ana Cristina Ferrão, a maioria dos amigos de "luta" que nos fomos também habituando a ouvir no éter, em disco ou a ler nos jornais. Faltam alguns que teríamos gostado de ver também no alinhamento (Luis Montês, Rui Morrison ou Pedro Costa, por exemplo). Falta, mesmo assim, mais "António Sérgio", ou seja, sentir ainda mais o peso da sua voz, das suas opiniões e dos seus ouvintes anónimos e, consequentemente, falta, por defeito geracional, mais "Som da Frente", porra! Não resistimos a comprar o dvd/livro para, sozinhos no escuro da sala e noite dentro, deixarmos as imagens afiar a memória e esperar que, mais tarde ou mais cedo, a emoção nos tolhesse. E ela facilmente apareceu como muitas vezes acontecia quando ligávamos o rádio para o ouvir! António Sérgio era um "amigo de casa", de muitas casas por esse país fora, com quem falávamos baixinho e trocávamos sinais através de uma simples canção e, por isso, por muitos defeitos que este filme tenha ele acabará sempre por ser um multiplicador da saudade e da falta que António Sérgio ainda faz, o que transparece de forma nítida nos testemunhos filmados ou escritos no livro que acompanha a edição. Assim, vê-lo e revê-lo é uma obrigação e, acima de tudo, um prazer. Até amanhã, no Passos!
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