Na simplicidade aparente de um piano e de uma voz, atingir a perfeição não está obviamente ao alcance de todos. Só alguns atingem um patamar que poderemos designar por "sublime" já que transcender a normalidade implica talento e... medo. Peter Broderick, sentindo o peso do nome da sala principal da cidade, cedo iniciou um "espanto-espíritos" que quebrasse algum do "gelo" de ambas as partes, começando a preceito com "Begin" e "Diverge", peças de composição mais pausada e a servir de "aquecimento" para outros andamentos. Com "Red Earth", juntou então a sua voz que se tornou plena em "Human Eyeballs on Toast", tema em que tantas vezes caímos na rede só para sonhar que um dia teríamos a felicidade de o ouvir de viva voz. Começava, então, uma sequência memorável que passou, entre outros, pelo tradicional irlandês "As I Roved Out" cantado entre o público, saltando literalmente do piano para a plateia, pelo lindíssimo "In a Landscape" do último disco "Partners" e por "Below It", tema que já por si é uma maravilha na versão original à guitarra, mas que ali, ao piano, se transformou num momento de inebriante levitação colectiva. Mas o arrepio, longe de terminar, obrigaria ainda a um adequado fechar de olhos com "Eyes Closed and Travelling", composição que Broderick gravou este ano para o primeiro volume da "Piano Cloud Series" e que, de forma cirúrgica, encerrou o recital. Obrigado pela intensidade das palmas a regressar duas vezes ao palco, o sorriso aberto e a sua notória satisfação levaram-no a confessar, humildemente, o temor e o nervosismo que sentiu até meio do concerto que o fez até esquecer partes da cover que apresentou de John Cage - certamente, notada por poucos - e a elogiar a plateia que soube da melhor forma recebê-lo. Embalado pelo carinho e a pedido, tocou um pedacinho de céu chamado "Sometimes" e a noite, como às vezes acontece, acabou de forma... sublime!
(Fotografias: Filipe da Silva Coelho/InfoCul)
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