O verdadeiro groove que emana de uma banda soul parece um desígnio fácil e banal mas, como em tudo, há sempre um melhor que muitos outros, o tal de casta genuína a tresandar a pureza vintage que já experimentamos em êxtase perante a eficiência e a fineza de Sharon Jones ou Charles Bradley e que, infelizmente, jamais se repetirá. Foi a pensar neles e no seu legado que nos sentamos na fila da frente para a estreia afortunada de Kelly Finnigan em Portugal.
Não demorou muito tempo a perceber o calibre, o tal, do colectivo espalhado de forma clássica em cima do palco e que responde pelo nome de The Atonements - a bateria motorizada bem no centro, os dois magistrais metais na lateral esquerda, o duo de cantoras imprescindíveis do lado direito escoltado por um trio eléctrico gingão de baixo e guitarras e onde se destacou a destreza de Joe Crispiano, só por si uma dádiva certeira que já vimos brilhar com os The Dap Kings noutras memoráveis ocasiões. Ao comando, sentado atrás do seu Korg, Finnigan teve desde logo a equipa em nítido controlo e esplendor de uma ondulante vibração ora soft ora rough de irresistível contágio, uma máquina imaculada de acelerar energias e emoções mesmo que o convite formal para a dança e agitação que se impunha tenha demorado uma boa meia hora...
Provou-se assim que, apesar de uma aparente estreia tardia nos álbuns a solo que se verificou em 2019 e que foi o fio condutor da celebração, o pedigree artístico (Kelly é filho de Mike Finnigan, teclista em álbuns de gente graúda como Joe Cocker ou Jimi Hendrix) e a experiência acumulada nos Monophonics desde 2012 deste jovem soul man quase quarentão resultam já num verdadeiro animal de palco de inatas capacidades vocais e, acima de tudo, com um zelo e vigor de quase duas horas que poderemos comparar com nomes célebres já desaparecidos e venerados. Finnigan pode não ser, para já, uma lenda viva mas que acertou no bom e estreito caminho para lá chegar, disso não temos dúvidas... Oh yeah!
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