Ao projecto Poliça liderado por Channy Leaneagh associamos, desde sempre e involuntariamente, um misterioso manto de encanto. Quase uma década depois do início de actividade artística à volta de uma sonoridade apurada de pop sintetizada, nunca foram muitas nem as notícias nem as excentricidades de uma banda acarinhado por Justin Vernon e que, na sua essência, não pareceu nunca querer mais que escrever, gravar e tocar ao vivo as suas canções.
A oportunidade em estreia nacional afigurava-se, assim, a ideal para a percepção deste enigma dimensional e, já agora, funcional que pode ser obtido de duas baterias simultâneas e um baixo e onde as guitarras não entram para primazia de uma variedade de loops e overdubs. À convocatória para a sala vermelha respondeu uma bem preenchida plateia em pé, assumindo os riscos de um desconhecido território sonoro ao vivo mas, por isso mesmo, sedutor e atractivo e que teve na penumbra do palco das primeiras canções um inquietante preâmbulo preenchido somente pela força dos instrumentos e de uma voz ora adorável ora estranha que fez, por exemplo, de "Lime Habit" um irresistível momento de partilha.
Quando um céu de pequenas luzes caiu no fundo ondulado do recinto mesmo antes de "Driving" como que se acenderam as velas de uma cerimónia de tensão crescente e que, ao nosso gosto, teve em "Dark Star" um hino maior que, por si só, valeria e justificaria a presença. O hipnotismo haveria de se manter até ao fim num jogo alternado de "love songs" e convites à dança culminado com "Trash in Bed", um agitador variado de serpenteios e movimentos que, mesmo sem bola de espelhos mas com chuva de estrelas, nos fez lembrar muitas madrugadas trepidantes e tripantes por históricos bares da Ribeira. Valerá sempre a pena chamar a Poliça!
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