domingo, 19 de abril de 2020

CRISTINA BRANCO, FAZ-NOS VIVER!












Não temos desculpa mas demoramos uma dúzia de álbuns e mais de vinte anos para prestar a devida e sentida atenção ao talento de Cristina Branco. Pessangas! A culpa é (foi) do raio do preconceito injusto que nos virou costas ao novo fado, às novas e novos fadistas e quejandos mas aprendemos a custo com a verdadeira lição de bom gosto e lisura chamada "Menina", o disco que Branco editou em 2016. Bastou uma primeira audição para perceber o óbvio: havia que insistir na escuta, na atenção aos pormenores do mulato do jazz e da guitarra portuguesa, das líricas de genialidade partilhada que fazem do disco, sem bacoquismos, uma pérola de uma inclassificável portugalidade só ao nível do primeiro dos saudosos Madredeus.

Repousam nele para sempre "Não Há Ponte Sem Nós" e "E Às Vezes Dou Por Mim", duas das melhores canções portuguesas da década, de muitas décadas e que por várias vezes aceleramos em tentar confirmar ao vivo sem nunca o ter conseguido... Na última acabamos retidos em afazeres profissionais estendidos por um enfadonho final de tarde de sábado a sonhar como seria ouvi-la a (en)cantar num coreto de jardim. Eram tempos de "Branco", mais uma aventura desempoeirada com a ajuda de consagrados como Laginha ou Godinho mas também de outros nomes como Filipe Sambado, Kalaf ou Peixe sem se notar sequer qualquer exagero nos "bicos de pés" que a deviam consagrar com chuvas de pétalas frescas que muitos plateias por essa Europa fora não se cansaram de "atirar" extasiadas.

Há agora um novo motivo de orgulho. Com "Eva", a tal que dá vida e que foi editado no mês passado, é como se nos aplicasse um golpe fatal por fadiga na beleza dos temas, da voz e dos arranjos num conceptualismo feliz do alter-ego antigo Eva Hussman, intimismo maturado entre Loulé e Copenhaga ao jeito de uma residência artística sem distâncias e concentrada em trinta dias de Dezembro. A dar-lhe a mão e o coração estão outra vez Sambado, Kalaf e Filho da Mãe mas também Francisca Cortesão ou Sara Tavares que nos embalam, todos juntos, numa sensação primorosa e só nossa de sentir que Branco mais Branco não há para nos fazer sentir vivos!







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