A CIÊNCIA DOS BELOS SONS. De Beethoven aos Beatles e muito mais
de John Powell. Lisboa: Editorial Bizâncio, 2012
O suposto funcionamento da música vertido para um ensaio primário de base científica parece uma boa ideia. A leitura não implica, no nosso caso, uma qualquer necessidade de resposta académica ou sequer um esclarecimento quanto à importância e o prazer que ela compreende, permite e engrandece. O subtítulo final, onde são nomeados génios da composição, ajudou a prestar-lhe maior atenção mesmo sem uma previsão mínima do que tínhamos pela frente. Ao reparar ainda melhor no complemento inglês do título original - "A listner's guide to harmony, keys, broken chords, perfect pitch and the secrets of a good tune" - avivou-nos uma leve memória de infância quanto às aulas de solfejo e orgão de madeira em que a paciência do nosso avô insistiu carinhosamente mas sem resultados aprovados de média ou longa duração. Uma pauta de música ou um teclado de um piano são hoje terrenos de ilegibilidade ou impraticabilidade há muito deixados ao abandono.
Estarão a perguntar se uma prosa tão datada mantêm a actualidade e a pertinência. A resposta mais fácil é que a música não tem prazo de validade mas complica-se se lhe associarmos componentes e técnicas a que se terá que dar atenção redobrada já que continuamos a ser incapazes de ler ou identificar uma só nota musical. Apesar do tom informal e das contínuas tiradas cómicas ou satíricas, a ciência dos belos sons não se entende pela simples curiosidade e requer esforçado envolvimento prático nos truques que o autor, de boa vontade, sugere como simples na obtenção de respostas eficazes como aquela que diferencia um som de uma nota e que remete para o padrão de ondulação repetida desta última. Perceberam? Claro, mas o problema é que tudo isto se complica depois em desmultiplicações sobre ritmo, harmonia, escalas, instrumentos ou intensidades que do ponto de vista do não praticante acabam sem efeito elucidativo entre suspiros se o capítulo seguinte será mais interessante ou compensador.
A receita de como fazer boa música, à partida, não se encontra em nenhum tratado ou livro milagroso e, nesse sentido, escusado será dizer que Powell não é o cozinheiro chefe cinco estrelas que detêm o segredo mesmo com revisão científica para português a cargo da professora Gabriela Cruz. Os desenhos e fotografias utilizados também não ajudam ao brilharete, demasiado rudimentares e desmotivadores para lhe prestarmos a atenção devida do ponto de vista do aficionado ouvinte de diferentes géneros musicais e sem vontade de aprender ou sair de casa para ir comprar um qualquer instrumento. Os sugestivos nomes de Beethoven e dos Beatles são, assim, uma armadilha enganadora a que devíamos, antecipadamente, estar mais atentos já que sobre eles muito pouco ou quase nada é referido de forma pertinente e inédita. Aprendemos com o erro e talvez seja esta a explicação para que um outro livro do autor saído em 2018 e de nome "Why We Love Music. From Mozart to Metallica - The Emotional Power of Beautiful Songs" continue sem tradução portuguesa.
Ou seja, como guia para um qualquer dedicado estudante envolvido com a Euterpe, o conteúdo exibido será certamente vantajoso e até inspirador. Como leitura de cabeceira para curiosos, o conselho é para que rapidamente e em força se avance para o capítulo final (12. "Ouvir Música"), um pouco mais de quinze páginas onde, de forma subtil mas eficaz, se explicam microfones, altifalantes, discos em vinil, cd's e até mp3, essa sim, música para ouvidos de leigos que afinal nunca quiseram realmente perceber como é que a coisa funciona. Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão...
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