A partir de amanhã, 1 de Julho, o Cinema Trindade no Porto apresenta diariamente duas sessões (16h00 e 22h00) com o filme "Stardust - O Nascer de Uma Estrela", película que estreou o ano passado entre muita polémica.
Sem a aprovação da família e do legado do artista, o guião pretende "acompanhar cronologicamente a primeira tournée nos E.U.A. do jovem David Bowie corria o ano de 1971. Depois de várias desilusões, rejeições, dúvidas e a lidar com os seus próprios demónios internos, esta foi a viagem que inspirou a invenção do seu icónico alter-ego, Ziggy Stardust, e lançou para o mundo o artista".
Sem olhar a muitas das más críticas ou opiniões, o melhor é mesmo tirar a prova dos nove numa sala à maneira e sem pipocas. Até 7 de Julho.
O ecletismo sonoro do colectivo Vanishing Twin, já merecedor de elogios e vénias, ganhará brevemente um novo patamar com a chegada em Outubro do terceiro álbum de originais "Ookii Gekko" ("Big Moonlight" em japonês).
O magnífico tema título que se pode ouvir abaixo e que tem video a cargo da jovem inglesa Daisy Dickinson, é uma prova de excelência onde uma palete de sons, do afrofunk, o jazz ao psicadelismo, se misturam num novo groove caótico e experimental. Viciante!
Os Vanishing Twin tem concerto (re)marcado no festival Tremor que decorrerá (?) em São Miguel, Açores, entre 7 e 11 de Setembro.
A forma conceptual como os britânicos Public Service Broadcasting se envolvem na gravação dos seus trabalhos merecia um estudo de caso. Desta vez, a quarta, o novo álbum assenta numa divisão em três partes ("Building A City / Building A Myth / Bright Magic"), dando esta última título ao disco a lançar pela Play It Again Sam em Setembro. Como conceito fulcral temos, então, o "Hauptstadt", o plano urbanístico para Berlin desenvolvido pelos arquitectos ingleses Alison e Peter Smithson com a ajuda do húngaro Peter Sigmond que associava, no pós-guerra, ideais arrojados de mobilidade, transporte ou fruição cultural.
A escuta/visualização que J. Willgoose Esq., elemento central do trio do Sul de Londres, fez da fita "Wochenende" ("Weekend" em inglês) registada pelo artista radical Walter Ruttman em 1928 como evocação sónica da cidade alemã, aproveitando a película cinematográfica como banda-sonora (durava mais de onze minutos o que até aí nenhum suporte permitia) enquanto a tela permanecia preta, somou sonoridade arqueológica ao projecto a desenvolver. Em três das novas canções são usados samples desta fonte histórica ora adulterados ora manipulados por Willgoose que, para o efeito, fez uma estadia em Berlin de Abril de 2019 a Janeiro de 2020.
O resultado, de camada electrónica retro muito 80's, tem convidados especiais como Blixa Bargeld que dá voz robotizada ao tema "Der Rhythmus der Maschinen" ou Andreya Casablanca da banda alemã Gurr que assume Marlene Dietrich em “My Blue Heaven”. A edição em vinil inclui um livro de 20 páginas com o mesmo formato e o primeiro avanço tem a participação da inglesa EERA. Let's Dance...
Talvez para sarar feridas quanto ao tempo que demorou o regresso da dupla Kings of Convenience, há agora um documentário que retrata as suas condicionantes, implicações e recompensas. Nada de extraordinário, mas sincero! Para o concerto do Porto do próximo ano ainda se vendem bilhetes...
Depois do álbum "Sex & Food" de 2018, os Unknown Mortal Orchestra de Ruban Nielson regressam com a canção "Weekend Run", um sinal de que algo maior se aproxima. Bom fim de semana e não se esqueçam de dar uma corridinha!
Fazia falta um disco instrumental de Devendra Banhart e Noah Georgeson? Fazia. Faz. Fará. As amostras disponíveis de "Refuge" provam que estamos perante um registo que ultrapassa a reconhecida amizade e cumplicidade artística, espraiando-se numa necessária e renovada onda ambiental que nestes tempos estranhos faz dialogar a meditação e a paz.
Registado em 2020 mas já idealizado aquando da gravação de "Ma" em 2019 que Georgeson produziu, a chegada da pandemia provocou algumas complicações logísticas ao mesmo tempo que acelerou a sua pertinência de tão dependentes que ficamos de terapêutica, contemplação ou conforto transportados pela música. O refúgio chega pela Dead Oceans em Agosto. Falta pouco.
O passado mês de Maio viu sair duas bandas sonoras a cargo da islandesa JFDR de forma oficial. Trata-se da música original para o filme "Backyard Village" de Marteinn Thorsson estreado em Março e para a série "Sisterhood" dirigida por Silja Kauksdottir que vai já na sexta parte.
Para o efeito, socorreu-se da ajuda no piano da irmã Ásthildur Ákadóttir, do violoncelo de Gyda Valtysdottir e ainda da simpatia e destreza de Albert Finnbogason na cedência do estúdio e da produção. Para ouvir e comp(a)rar aqui.
Desde a juventude, escrever música para filmes converteu-se para Hania Rani num exercício de imaginação partilhado com amigos confiantes nas suas capacidades e virtudes. Nos últimos anos esse mundo de informalidades converteu-se numa catadupa de encomendas sérias para bandas sonoras completas e extensas - por exemplo, o documentário "Father Boniecki" dirigido por Aleksandra Potoczek ou o drama "I Never Cry" do polaco Piotr Domalewski - a que se juntam alguns trechos destinados a peças de teatro ou instalações artísticas.
Ma o resultado deste processo criativo tornou-se muitas vezes inacessível na fruição, o que levou Rani a lançar um álbum com uma selecção pessoal de composições a que chamou "Music for Film and Theatre" a sair no final do mês na Gondwana Records e cuja edição de vinil está já esgotada em pré-encomenda... Aqui ficam quatros dessas pequenas ilustrações sonoras, lindas.
Atendendo ao ritmo trienal com que os Efterklang fazem sair novos álbuns não se estranha a chegada de mais um mesmo depois da estreia a solo de Casper Clausen de inspiração lisboeta concretizada no início do ano. O sucessor de "Altid Sammon" de 2019, uma aventura na língua materna dinamarquesa que teve apresentação ao vivo na cidade, chama-se "Windflowers" e chegará pela City Slang em Outubro.
Produzido e registado pela banda na ilha de Møn, uma reserva da biosfera dinamarquesa, há agora uma primeira amostra da colheita que o retiro artístico em plena natureza proporcionou - em "Living Other Lives" soam, entre outras colaborações, um bouzouki grego a cargo de Bert Cools e alguns samples do tema "Deep Listening Session" de Laraaji, sendo o video da autoria de Søren Lynggaard Andersen que filmou a banda na referida ilha com uma antiga câmara russa de 16mm.
Os Miramar, a aliança com nome de praia bonita entre Frankie Chavez e Peixe, tem na forja um segundo álbum de originais onde a guitarra continua a ser sagrada. Um primeiro avanço de nome "Brower" dado a conhecer hoje tem video do portuense Jorge Quintela, o autor do clip para o anterior "I'm Leaving". Encantador.
Entretanto, continuamos pacientemente à espera de um concerto dos Miramar em... Miramar!
O tema "Old Peel" de Aldous Harding é já um velho conhecido de aficionados atentos apesar de não fazer parte de nenhum dos álbuns. Foi com ele que Harding terminou a passagem pelo Parque da Cidade há cerca de dois anos, uma inclusão em alinhamento final de concertos ao vivo talvez para sinalizar, na altura, que um novo trabalho não estava esquecido.
Certo é que a canção teve já lançamento oficial pela 4AD em 2020 através de um single de vinil hoje transformado em raridade ao lado de uma versão alternativa mas ainda não disponível para audição digital. Hoje, finalmente, há um video alusivo da responsabilidade da própria e de Martin Sagadin que tinha já realizado outros pequenos filmes para "The Barrel", "Stop Your Tears" ou "No Peace". Bom sinal!
Quanto a um regresso a palcos nacionais, as notícias não são tão boas. A digressão pela Europa anunciada a partir de Março de 2022 não incluí um único palco português. Mau sinal!
Entre as propostas para os dois dias (12 de Junho e 17 de Julho) de goodies em vinil previstos para a edição deste ano do Record Store Day, as preces são cada vez menos...
Está marcada para dia 2 de Julho a estreia do filme-concerto "When We Are Born" da autoria de Ólafur Arnalds e Mathieu "Moon" Saura, ou seja, Vincent Moon, conhecido realizador francês e fundador da La Blogothèque, que assumiu a sua direcção. Há ainda contribuições decisivas da coreógrafa Erna Ómarsdóttir, da Iceland Dance Company e ainda do cineasta Thor Eliasson, o director de fotografia.
A inspiração remete para algumas das letras das canções de Lhasa de Sela e conta com a participação de Sandrayati Fay, cantora indonésia que colaborou no álbum "Some Kind of Peace" que Arnalds editou o ano passado. A película de curta metragem (23 minutos) contempla o registo de primeiros takes de um conjunto de perfomances coreográficas em modo metafórico sobre rituais, relações ou paisagens protagonizadas pelo próprio Arnalds e a sua música e cujo pedacinho inicial ao piano se chama "Saudade (When We Are Born)"... Uma ternura!
Mesmo sem muita informação concreta, a sugestão de um serão televisivo com Regina Spektor parece imperdível. O dia é o de amanhã Domingo, pelas 23h00 na RTP2, no que parece ser o registo da sua passagem pelo WTTW's Grainger Studio de Chicago em 2016 para um plateia de quatrocentos fãs no que ficou conhecido como "Live on Soundstage".
de Marc Di Domenico. França: Anna Sanders Films/Artisan Producter/Mélodium/France 3 Cinéma, 2019
RTP2, Portugal, 4 de Abril de 2021 (em arquivo)
Quando Edith Piaf ofereceu ao seu protegido Charles Aznavour uma câmara de filmar Paillard, o jovem artista nunca mais largou o aparelho. Estávamos em 1948 e, desde aí até 1982, foi com ela e com outras que se seguiram que desenvolveu uma mania salutar de tudo captar em filme mesmo sabendo que nunca teria muita disposição para ver o resultado do seu passatempo documental e informal.
Nesses tempos, ao lado do pianista Pierre Roche, aventurou-se nos palcos convidado pela própria Piaf para digressões por França e até pelos E.U.A. que aguçaram outras pretensões mais profissionais como uma carreira em nome próprio no mundo da música e também no cinema (participou em mais de oitenta filmes de consagrados como Cocteau, Gobbi, Chabriol ou Truffaut). Aclamado como o Sinatra francês em centenas de discos e palcos, apertou corações e maravilhou plateias com êxitos que a maioria sabia cantar mas não discernia o sentido das palavras. "Hier Encore" e o eterno "La Bohême" são bons exemplos dessa liminar eternidade e das poucas canções que o documentário deixa, ainda bem, correr entre imagens de princípio ao fim...
Mas havia uma vida própria, montanhosa, de casamentos feitos e desfeitos, traições e impulsos, filhos amados e perdidos, de raízes arménias orgulhosamente imbuídas mas tenebrosas na memória familiar da guerra que levou ao refúgio. A tudo resistiu, a tudo apontou uma máquina de 8 ou 16mm sem olhar para trás quase num jeito compulsivo de festejar o presente, as conquistas ou contentamentos em viagens pela América, Hong-Kong, Macau e o Japão mas também África e o seu norte argelino ou marroquino. Filmou amigos e conhecidos de férias em Capri ou Veneza em imagens íntimas de uma beleza pungente no azulão do mar, do abanar dos cabelos ou do colorido das vestes que ferem pela nostalgia e ventura que emerge das suas feições que outros, poucos, igualmente fizeram filmar talvez na tentativa de o eternizarem feliz, tranquilo, amado.
Uns meses antes da sua morte em Outubro de 2018, o próprio Aznavour e o realizador Marc di Domenico começaram a editar as imagens e decidiram fazer um documentário com esse material até aí inédito e esquecido. O resultado personaliza um documento de uma beleza sincera que nos remete para uma luta invisível de um artista apostado em transpor preconceitos e muros e que teve numa câmara de filmar uma arma narrativa complementar e imagética de uma auto-biografia editada em 1970 - "eu filmo, eu existo". Um filme inquieto que consegue o que poucos alcançam - perturbar-nos pela paz e ternura que transmite!
As cumplicidades amistosas de Bonnie "Prince" Billy com parceiros de estrada ou estúdio são incontáveis mas sempre desafiadoras e surpreendentes. A última ao lado de Matt Sweeney deu frutos numa sequela do álbum "Superwolf" gravado em 2005 agora chamado "Superwolves" mas a colaboração começa a ramificar noutras direcções... É o caso de uma versão de "Stay on My Shore" de Joan Shelley, canção do álbum "Over and Even" de 2015 que se habituou a cantar ao lado de Shelley e Nathan Salsburg, os autores e executante originais.
Na resposta, Shelley e Salsburg deitaram mãos a "Watch What Happens", um dos catorze novos temas incluídos, precisamente, em "Superewolves" de Abril passado e que ganha, naturalmente, uma óbvia e exclusiva sonoridade folk. Para já, a Drag City lançou-os em formato digital mas adivinha-se num destes dias uma rodela pequena de vinil que lhes assentará na perfeição.
O lamiré sobre o terceiro álbum de Lucy Dacus já por aqui soou em Abril passado com o tema "Hot & Heavy", uma alusão videográfica a uma fama e reconhecimento que começam a ser convincentes. Provam-no a potência das canções como a última "Brando", dada a conhecer ontem, ou a anterior "VBS", ambas barradas com uma camada de honestidade pop-rock que o álbum anterior "Historian" já sinalizava de forma evidente.
Para o novo trabalho "Home Video", Dacus assumiu uma composição e inspiração auto-biográfica, libertando-se de generalidades ficcionais a que a chegada da pandemia pôs termo de forma natural, revelando medos e vulneralidades escondidas ou julgadas esquecidas mas, ainda assim, dotadas de poderes motivadores. A revelação está prometida para dia 25 de Junho próximo.
Os primos Susanna & David Wallumrød tocam juntos desde a infância embora a parceria tenha somente florescido num único e mítico concerto em 2003. O último ano serviu para regressar a esses tempos de cumplicidade através de apresentações ao vivo seleccionadas como a que aconteceu no Asker Kulturhus norueguês em Janeiro de 2020, oportunidade para um registo oficial que terá lançamento no dia de amanhã.
O reportório concentra-se em algumas versões de clássicos de Tom Waits, Joni Mitchell, Leonard Cohen ou Lennon & McCartney e de que se podem ouvir, respectivamente, "Chelsea Hotel" e o maravilhoso "For No One". Confirma-se, mais uma vez, a notoriedade da voz e interpretação de Susanna, uma consistência a que nos fomos habituando noutras covers de eleição ou
no magnífico álbum de originais ao piano com poesia de Baudelaire lançado o ano passado.
O nosso fascínio pelas canções da menina Hollie Fullbrook aka Tiny Ruins não parou nunca de crescer desde que a ouvimos pela primeira vez há sete anos atrás. A beleza, aparentemente, simples da composição percorre um mundo de mistério e melancolia sonhadora sem tempo nem idade mas que ganha agora memória festiva obrigatória. Faz dez anos que saiu o primeiro e raro álbum de nome "Some Were Meant For Sea" editado em Maio de 2011 pela Spunk Records e que não chegava a hora de conhecermos melhor mesmo depois de uma reedição em vinil dourado no Record Store Day de 2018.
A dádiva está agora novamente disponível sem limitações (entre maravilhas, já ouvimos "Priest With Balloons" para aí umas vinte vezes...) e terá uma outra edição de vinil esverdeado em Setembro com a inclusão do inédito "The Oldest Bar in Town", canção que se junta, tal como na versão de há três anos, aos onze pedacinhos originais. Uma beleza!
Como muitos, Josh Rouse passou os últimos meses em confinamento obrigatório o que não é sinónimo de letargia. Improvisando a partir de vários recursos electrónicos, o tempo levou-o a vaguear por uma onda fresca e veraneante a que chamou ISLA em nove pedacinhos de brisa pop para sujar com areia branca e água morna reunidos sob o título de "The Mediterranean Gardener" e saído na Yep Records em final de Abril. Na descontra... vamos!