UAUU #614

DUETOS IMPROVÁVEIS #244

ANDREW BIRD & LUCIUS 

Venus In Furs (VU) 

Álbum "I’ll Be Your Mirror: A Tribute To The Velvet Underground & Nico" 

Verve Records/UMG Recordings, Inc., Setembro de 2021

THE WEATHER STATION, IGNORÂNCIA DE LUXO!

Em jeito de dádiva espontânea, ao excelente "Ignorance" de dez capítulos/canções de The Weather Station lançado em Fevereiro último junta-se agora um leque quase igual de extras que completam, e de que maneira, a perfeição em variantes ao vivo, ao piano ou em inéditos. 

Assim, a nova edição de luxo tem nova fotografia de capa e impressão de qualidade com a inclusão de três registos ao vivo no Revolution Studios de Toronto, quatro variantes ao piano de temas originais do disco e ainda dois inéditos - "Better Now" e "Look" - da mesma sessão que deu origem ao trabalho principal. De notar ainda a contribuição do mágico Howie Beck na mistura final de parte destes pedacinhos. 

A menina Tamara Lindman estará de visita à Europa a partir de Março de 2022 mas, aqui sim, o nosso país mantêm-se ignorado...   

MATTHEW HERBERT, MUS(I)CA VOADORA!

Há na música de Matthew Herbert a dose certa de inteligência emocional. Sempre houve. Em disco, como no clássico vintage "Bodily Functions (2001) ou mesmo ao vivo, denota-se um traço exploratório e orgânico de que a boa electrónica sente falta e que se estendeu amiúde ao jazz e até à música clássica. O vinco artístico é facilmente sinalizável apesar dos caminhos percorridos permitirem separações e cortes momentâneos para, mais tarde ou mais cedo, afluírem invariavelmente num registo de qualidade que aqui a casa muito preza. Aproxima-se mais um. 

O novo álbum "Musca" (mosca em latim) a sair na próxima sexta-feira na casa de sempre, a Accidental Records, é mais uma aventura pela intimidade caseira tal como aconteceu em discos anteriores mas que não indicia qualquer solidão imposta. Colaboram oito vocalistas, muitas delas que o artista ainda não conhece presencialmente e com quem nunca tinha colaborado - Verushka, Siân Roseanna, Allie Armstrong, Bianca Rose, Melissa Uye-Parker, Daisy Godfrey, Y’akoto e Joy Morgan - que, tal como os restantes músicos, trabalharam isoladamente a partir de casa. No último ano, o confinamento permitiu ainda a Herbert a conclusão do doutoramento académico sobre a ética da composição sonora e a recolha e utilização no disco de sons obtidos na quinta onde vive, o que incluiu um sintetizador inspirado no cão da esposa (?), o grunhido de um porco ou a brincadeira louca de uns filhotes de raposa. Mús(i)ca voadora!

PVC - PORTO VINIL CIRCUITO #26

A Rua de Santo Ildefonso no Porto, que começa/acaba no Campo 24 de Agosto e acaba/começa na Praça da Batalha junto da igreja com o mesmo nome e que atravessa o Largo do Padrão e a Praça dos Poveiros, é uma sinuosa multiplicação de atividade comercial e, por isso, de forte tradição clientelar. Entre a diversidade de lojas e/ou restaurantes, destacam-se ainda hoje algumas ligadas ao chamado ramo dos electrodomésticos de que é exemplo a TVLAR ABS 3 logo no início do trecho para quem circula desde o referido Largo do Padrão. Localizada num prédio-tipo de r/c e mais três andares, muitos deles agora recuperados mas de destino problemático, a loja mantêm-se aberta e no mesmo ramo de negócio que a viu nascer em plenos anos setenta do século passado, embora, obviamente, a venda de discos em qualquer formato tenha sido completamente abandonada. 

A têvêlar, assim mesmo, com acentos circunflexos e em minúsculas, assumia nos discos de vinil uma aposta séria como o comprova a embalagem de cima onde se pode ler "Mais um disco comprado na têvêlar" e que, no caso, se refere ao single "Lady in Blue/Darling Michelle" de Joe Dolan editado em Portugal pela PTE/Imavox em 1975. A tradição deste tipo de negócio multiproduto estava bem enraizada por essa altura na cidade (já aqui falamos da emblemática Philcolândia) e em St. Ildefonso existiram ou existem ainda outros exemplos similares como a Electrovisão ou a Foto Coimbra. Coincidência ou não, nos nossos dias podemos encontrar no número da 25 da mesma rua a Muzak do amigo Chico Ferrão, especializada em vinil usado e que partilha o espaço com a Kate, a outra metade da loja dedicada ao skate e tudo à volta. Recomenda-se a visita!

 

                            têvêlar, Rua Santo Ildefonso, 308-B, Porto

UAUU #613

BALLAKÉ SISSOKO, SESSÃO NO CADAVAL!

Aquando da passagem de Ballaké Sissoko pelo Festival Imaterial de Junho passado em Évora, o realizador e também artista Vincent Moon solicitou o magnífico cenário da igreja do Palácio dos Duques do Cadaval para mais uma sessão da incontornável "Un Concert à Emporter" da La Blogpthèuqe francesa produzida pela própria Petites Planètes. O resultado é imperdível. O novo álbum "A Touma" de Sissoko também.

  

BRIGID MAE POWER, LUMINOSO!

Não valerá a pena, às tantas, continuar a alertar para a florescente tendência de realizar versões como estratégia promocional, recriação artística ou reforço de um suposto certificado de qualidade. De Angel Olsen a Marissa Nadler, de Sharon Van Etten a Mountain Man, há muito por onde escolher no feminino mas chega agora a vez da muita cá de casa Brigid Mae Power confirmar os seus dotes através de um EP a que chamou "Burning Down Your Light".

A selecção que aqui deixamos - "Leavin In Your Mind" de Patsy Cline, "One More Cup of Coffee" de Bob Dylan, "It Ain't Fair" de Aretha Franklin - é uma simples prova das capacidades inatas de sedução desta irlandesa e a que se juntam ainda variantes de "Didn't It rain" de Songs: Ohia, projecto liderado por Jason Molina, "I’ll Be Here In The Morning" de Townes Van Zandt e o tradional irlandês "May Morning Dew". Luminoso!

 

Brigid Mae Power · Leavin' On Your Mind

Brigid Mae Power · One More Cup Of Coffee

Brigid Mae Power · It Ain't Fair

ANDY SHAUF, É SÓ ADICIONAR TEMPO!

Com aquele aspecto e brilho de saboroso disquinho de fim de verão, ora aí está um álbum de Andy Shauf chamado "Wilds", nove canções eleitas entre uma vintena de temas registados em modo directo, isto é, sem ornamentos superficiais posteriores, no mesmo período do anterior "The Neon Skyline" (2019). 

O nosso conselho é para que o juntem como audição inseparável e consequente ao maravilhoso disco que Sufjan Stevens gravou ao lado de Angelo de Augustine e que transforma ambos num encantador lusco-fusco sonoro a que só é preciso adicionar... tempo! 

UAUU #612

BNNY É NOME A (DES)GOSTO!

Apesar das dúvidas quanto à pronúncia original, o quinteto BNNY (deverá ser qualquer coisa como bunny) tem base em Chicago e em Jess Viscius a jovem mentora a que se deve estar atento. Com os amigos e a irmã gémea Alexa gravaram o disco de estreia "Everything" em modo crónica dolorosa, uma inspiração comum a muitos outros álbuns sem idade da história da música e de que "A Crow Looked at Me" (2016) de Mount Erie seja um perfeito e pesado exemplo. 

Inspirado numa perca pessoal da própria Jess, um desgosto multiplicador de vulnerabilidades mas também de persistências ganhadoras, não admira, por isso, que o conjunto de treze canções comece com "Ambulance" e termine em "Voice Memo", uma intencional jornada de pesar, amor e memória mas onde não faltam curtos espanta-espíritos para arejar como o excelente "Time Walk". Um disco de audição confluente e substancial mas que se torna leve e até transcendente.

 

SHE & HIM, QUASE NATAL!

Num estalar de dedos passaram dez anos sobre a edição de "A Very She & Him Christmas" que Zoe Deschanel e M. Ward gravaram de surpresa em 2011 como foi anunciado na altura aqui na casa. O duo She & Him pegou, então, nalguns clássicos de Natal dos The Carpenters, The Beach Boys ou Elvis Presley e deu-lhes ainda mais fofura pela leve rouquidão sexy da voz de Descahnel e a guitarra acústica de Ward. Surge agora a comemoração imperativa e atraente. 

A reedição prevista e preparada pela Merge Records em vários formatos e cores inclui um single de vinil verde que pode ser adquirido separadamente onde constam duas versões apelativas - "Holiday" de Madonna e "Last Christmas" dos Wham! para gáudio de amantes de disquinhos natalícios como o inquilino desta chafarica. Parte dos lucros obtidos serão doados à organização 826 National que apoia jovens autores e escritores. 

Apesar das mangas curtas e desuso de casacos, já faltam menos de cem dias para o Natal... e, por isso, há ainda a oferta de uma cover de “It’s Beginning to Look a Lot Like Christmas" popularizado por Perry Como como bónus digital de encomendas rápidas.

THE WAR ON DRUGS, GORDURA NATURAL!

Não haverá, com certeza, uma única explicação para se gostar dos The War On Drugs do grande Adam Granduciel. Para muitos, aos primeiros acordes, é hora de mudar de estação de rádio, carregar no forward ou passar à frente. Para nós, ao contrário, é quase sempre o momento de aumentar o volume, carregar no backward e repetir a dose. Respira-se por todos os poros um som tão americano e eloquente que ao vivo faz ainda maior efeito libertador, como já experimentado em finais de noites memoráveis por Coura ou na Invicta entre queixas de muitos quanto à chatice e azeitice do concerto. Balelas. 

 

Depois de "A Deeper Understanding" de 2018 ter recebido um Grammy para melhor álbum rock em 2018, certa é a volta à carga com mais uma dose de azeite fino de pureza extra com "I Don't Live Here Anymore", uma odisseia de três anos e sete (!) estúdios onde a refinada receita foi profundamente testada depois de uma encruzilhada de solventes e soluções. Bastam os primeiros trinta segundos do novo tema título para, certamente, assustar os mais desprevenidos mas o impulso imediato é, lá está, adicionar quantidade a esta gordura natural rica em fibra sónica. Em qualquer boa loja perto de si com uma embalagem especial a partir de 29 de Outubro. 

THE LAST DETAIL, UM ÚLTIMO DETALHE!

A parceria de Erin Moran (A Girl Called Eddy) e Mehdi Zannad (Fugu) traduzida no rótulo The Last Detail teve em 2018 um surpreendente álbum de canções a meias registado em quase segredo e que marcou o retorno à composição de uma Moran misteriosamente desaparecida ao longo de quinze anos. 

Desde aí já houve, é certo, um regresso a solo e em cheio em 2020 com o impecável "Finest Actor", mas da colaboração referida surge agora uma ponta perdida chamada "I'm Sorry" composta em tosco há mais de dez anos em Paris e que só agora, com a ajuda do produtor Julian Simmons, teve remate final detalhado na Elefant Records espanhola. Mais uma canção de elegância superior a abrir caminho a mais novidades para breve... 

JÁ SE OUVE O COYOTE!

Um ano e meio depois, o excelente programa "Coyote" de Pedro Costa está de volta à Antena3. Agora só aos Domingos, entre as 12h00 e as 13h00, esperamos que o bom gosto e a qualidade acima da média não sofram descontinuidade. Play!

DAMIEN JURADO, NA BOA!

"Take Your Time is a very special one off single song release by Damien Jurado that does not appear on any of his albums. The mood and words speak for it self." 

Mais palavras para quê? A não ser o facto da canção ter direito a single de vinil no site de Damien Jurado lá para o Natal. Na boa!

CAETANO VELOSO, NOVO SINGLE!

É o primeiro single do álbum "Meu Coco" de Caetano Veloso a sair na Sony Music em Outubro, o regresso aos inéditos desde "Abraçaço" de 2012, e não desilude - em "Anjos Tronchos" há alvos múltiplos nada inocentes sobre os novos tempos, estes onde o sobressalto, o isolamento ou a prepotência se espalham sem freio. E tudo termina com um contundente "miss Eilish faz tudo no quarto com o irmão"... 

NICK DRAKE, DIÁLOGO AO PIANO!

Os efeitos terapêuticos da música de Nick Drake não são surpreendentes atendendo à diversidade de "curas" alcançadas, sendo a sua profilaxia cada vez mais de prescrição recomendada ou obrigatória. No caso do pianista londrino Demian Dorelli, a recuperação motivacional passou por um mergulho temperador no disco "Pink Moon", o último da trilogia eterna com data de 1972 e a partir do qual se lançou num género de diálogo instrumental, revertendo os acordes sofisticados de guitarra acústica para piano de forma a dar evidência à mestria da composição e tornando as líricas mudas mas, inevitavelmente, iminentes, com excepção de "Know", um pedacinho original propositadamente instrumental. 

Registado no estúdio Real World de Peter Gabriel com a ajuda do produtor Tim Olivier, o disco cumpre o mesmo alinhamento dado por Nick Drake e tem na imagem de capa uma desconstrução da peça surrealista de Michael Trevithick que ocasionalmente serviu para a capa original, dispondo os seus elementos à volta de um piano vertical e fazendo, não é um pormenor, sair um fuminho quente da chávena de chã curativa e inspiradora. O disco tem edição da Ponderosa Records italiana no início de Outubro, dias de lua nova...

ALEXIS TAYLOR, O SOM DO SILÊNCIO!

A voz que se pode ouvir nas canções dos adorados Hot Chip de longínqua eleição tem aquele timbre inconfundível e imediato reconhecimento quanto ao figurão de óculos e sorriso aberto. Mas Alexis Taylor desde, pelo menos, 2016 revelou-se numa faceta surpreendente de intimidade e seriedade que um simples piano ajudou na delicadeza e que agora tem um desejado prolongamento. 

Em "Silence" a editar formalmente no início de 2022, álbum escrito e registado em isolamento forçado, são novamente as texturas de uma longa melancolia o motivo para as composições a solo ao piano mas há também o recurso a alguns loops e riffs de guitarra ou requintadas orquestrações, talvez para fazer evidenciar fascínios, dúvidas metafísicas ou dar insondável tonalidade ao silêncio. Olá escuridão, minha velha amiga...

UAUU #611

FAZ HOJE (17) ANOS #71

SPEKTRUM, Teatro Carlos Alberto, Porto, 15 de Setembro de 2004 

. Diário de Notícias, por Marcos Cruz, fotografia de Hernâni Pereira, 18 de Setembro de 2004, p. 43

METRONOMY, SURPRESA!

Fresquinho e para causar surpresa, na intenção indisfarçada dos próprios, estalou hoje um E.P. dos Metronomy chamado "Posse Vol. 1". Implica, obviamente, continuidade em futuros volumes e cumplicidade/colaboração com cinco jovens artistas e vozes britânicas, a saber e neste caso, Biig Piig, Pinty, Spill Tab, Brian Nasty And Folly Group e Sorry. Parece ter sido produzido e gravado por Joseph Mount depois da finalização do novo álbum da banda mas ficamos confusos se se trata do último "Forever" de 2019 ou de um suposto disco de inéditos a sair em breve. 

Seja como for, relembra-se que os ingleses tocam no Hard Club a 1 de Março do próximo ano.

EMMA RUTH RUNDLE E MARISSA NADLER, BELO!

As sintonias entre as norte-americanas Emma Ruth Rundle e Marissa Nadler são facilmente detectáveis - estética escurecida, descrição na postura, canções magníficas e de uma beleza instantânea. Aproximam-se mais algumas para juntar ao portefolio já considerável. 

No início de Novembro sairá "Engine of Hell", mais um álbum a solo de Emma Ruth Rundle na casa Sargent House e que têm em "Return", o single de apresentação e regresso, um exemplar de excelência. O magnífico video também ajuda. 

 

Antes, a 29 de Outubro, a Sacred Bones / Bella Union Records editam "The Path of the Clouds", o décimo longa duração de Marissa Nadler que foi apresentado o mês passado com o single "Bessie, Did You Make It?" e que agora tem em "If I Could Breathe Underwater" uma natural e sonhadora continuidade. Belo(s)!  

 

FIELD MUSIC, (+ DO) MESMO BOM!

Na explicação dos próprios Field Music, o último e excelente "Flat White Moon" editado no início do ano podia ter sido um duplo álbum, atendendo às canções que ficaram de fora, mas resistiram à tentação. Até agora, já que algumas das "sobras" farão parte do EP "Another Shot" a sair a 15 de Outubro e onde a qualidade do produto não perde validade, pelo contrário, ganha aquele gostoso paladar ao bom e saudável super-pop inteligente que é tradição da casa. Aqui fica mais um "trago".

FAZ HOJE (17) ANOS #70

MADONNA, Pavilhão Atlântico, Lisboa, 13 de Setembro de 2004 

. Diário de Notícias, fotografia de José Carlos Carvalho, 14 de Setembro de 2004, capa 

. Diário de Notícias, por Nuno Galopim, fotografia de José Carlos Carvalho, 14 de Setembro de 2004, p. 34 

. Diário de Notícias, por Nuno Galopim, fotografia de José Carlos Carvalho, 15 de Setembro de 2004, p. 35

RADIOHEAD, REGRESSO AO FUTURO!

Não sabemos, nem queremos saber, as razões pelas quais os Radiohead decidiram comemorar os vinte e os vinte e um anos (!), respectivamente, sobre o lançamento dos álbuns "Kid A" e "Amnesic". Certo é o lançamento no início de Novembro de um terceiro disco com material escondido/variado/alternativo dessa altura brilhante e que se chamará "Kid Amnesiae". Fixe. Bastava este inédito monumento abaixo para nos fazer regressar ao futuro!

JORGE SAMPAIO (1939-2021)

No dia a dia do nosso local de trabalho, já lá vão quase trinta anos, a figura de Jorge Sampaio esteve sempre presente. Desde a data da inauguração, a sua simpatia, bonomia e generosidade permitiram aquele alento e motivação que transmitia a cada visita, e foram muitas, no dealbar das naturais dificuldades de uma instituição cultural. Gostávamos muito de Jorge Sampaio e, quase de certeza, ele gostava de todos. Tal como nós, apreciava música sem preconceitos ou amarras desde que lhe permitisse sorrir. Aquele sorriso que não esqueceremos. Obrigado, Presidente. Paz!

3X20 SETEMBRO

UAUU #610

CIRCUIT DES YEUX, DE TROCAR OS OLHOS!

Para Haley Fohr aka Circuit des Yeux cada álbum é como se fosse o último no esforço dedicado de nada falhar e de tudo investir num dão artístico assinalável. Foi assim com "Reaching For Indigo" de 2017 misteriosamente apresentado por perto em noite intensa, será certamente também o caso de "-io", o sexto álbum escrito, arranjado e produzido pela própria e que teve por intenção reunir um ensemble de vinte e quatro dos melhores músicos de Chicago para fazer soar cordas e metais na brisa e corrente certas.

Em tempos embaciados pela pandemia e perdas pessoais, Fhor foi fazendo da tristeza uma força germinadora e nitidamente imersiva como, aliás, fomos dando por aqui conta, mas que lhe permitiu traçar um género de mapa do desgosto em formato canção estranha mas ambiciosa. Ouçam-se, então, duas dessas sinopses delineadas de fazer trocar os olhos a que acresce a realização do argumento e imagens dos respectivos videos, belos, iluminados e épicos. Disco na Matador dia 22 de Outubro.  

PETER BRODERICK, É SÓ SUMO!

O excelente álbum "Blackberry" de Peter Broderick editado o ano transacto continua florido e a dar fruto. Para além das canções, o disco motivou distracções com videos pedagógicos em como aproveitar a planta da amora em oito partes ("The Blackberry Diaries") ou a receita de um novo cocktail de banda sonora remisturada por um fã argentino ("Blackberry Sunrise"). Tudo para enganar, certamente, o verão atípico e agrilhoado de 2020, constatação traduzida mais a sério numa nova/velha canção precisamente chamada "A Year Without Summer", tema descoberto num livro de 1969 pertencente a Shel Silversteen, escritor, poeta e também compositor americano falecido em 1999. Editada em Dezembro passado, continua a ser validada pela cor parda do corrente verão. 

Mas há mais sumo. Aproxima-se um EP com material diverso, a saber, duas partes do tema "What Happened To Your Heart" refeitas pelos Bing & Ruth comandados pelo pianista David Moore, o inédito "Some People Don't Have Gonads" e a tal "A Year Without Summer". A surpresa é a inclusão da faixa de vinte e dois minutos "The Wind That Shakes The Bramble" que acaba a dar título à novidade e com publicação prevista na Erased Tapes já na próxima sexta-feira. 

Trata-se de uma odisseia ambiental com intenções meditativas que retoma uma antiga balada com o mesmo nome de meados do séc. XIX da autoria de Robert Dwyer Joyce, poeta irlandês nascido em Limerick, evocação sonora sobre a resiliência do povo irlandês perante a opressão britânica que inspirou o filme estreado em 2006. Há já um pedacinho sumarento para ouvir no site da editora...

MÚSICA PORTUGUESA NO EXP(R)ESSO!

Uma boa e infindável história da música portuguesa merece capa da revista "E" do semanário "Expresso" desta semana, uma rara razão para a aquisição do jornal em formato impresso (sim, perdemos o hábito já lá vão décadas). 

Nuno Galopim percorre o trilho dos estúdios de gravação do Chateau d'Hérouville nos arredores de Paris onde, no início da década de setenta, se registaram álbuns míticos e revolucionários de José Mário Branco, Sérgio Godinho e José Afonso repletos de pérolas como esta...

THOMAS FEINER, AEROESPECIAL!

O recolhimento obrigatório do último ano permitiu a Thomas Feiner a insistência num projecto de música instrumental que aos poucos foi ganhando espessura e até vozes de influência em Lisa Gerrard, Elizabeth Fraser ou na magnífica Julianna Barwick, todas praticantes de glossolalia, um denominado fenómeno que permite falar e, neste caso, cantar numa língua desconhecida ou incompreensível. 

Chamou-lhe Ada Moreau, somando coragem para, por vezes, transformar a sua voz nessa e outras direcções ou territórios sonoros. Contam-se cinco temas publicados, três dos quais já trabalhados visualmente pelo canal Ambient de forma aeroespecial. Lindo!

NAOMI ALLIGATOR, MONÓLOGOS ANIMADOS!

Naomi Alligator é Corinne James. James é Alligator. Alligator anda há mais de cinco anos a fazer canções inocentes e intimistas com o inseparável banjo, mania de raiz notória em Liz Phair ou Daniel Johnston, enquanto James estudava multimedia e cinema na Universidade de Virgínia. A aventura, de falso perfil, foi dada a conhecer em jeito de publicação periódica pelo bandcamp entre anedotas e desabafos provocatórios. 

Mas a brincadeira parece ter terminado. A Carpack Records reparou nas potencialidades de uma nova-folk de monólogo confessional e deu-lhe lastro para um EP oficial a sair em Outubro com direito a vinil vermelho, título provocatório - "Concession Stand Girl" - e video animado pela própria de forma surreal mas sublime.

ABBA, NOVA VIAGEM!

Prometemos ouvir o novo disco dos ABBA chamado "Voyage" de princípio ao fim quando ele chegar a 5 de Novembro. 

Prometemos ouvir muitas vezes duas das canções novas hoje libertadas tal como já o fizeram mais de um milhão de crentes em meia dúzia de horas! 

Prometemos que a conversão com mais de quarenta anos se manterá activa, seja lá para onde a "abbacadabra" nos levar. BOA VIAGEM!

UAUU #609

MEN I TRUST, É À CONFIANÇA!

O projecto canadiano Men I Trust chegou-nos, como muitos, de surpresa num final de tarde pelo Parque da Cidade em 2019. Perfume leve e fresco a que o sol em descida prolongou num efeito temperado sem exageros pop mas que, logo se percebeu, despertava o êxtase de alguns jovens fãs em frente à jovem e simpática vocalista Emma Proulx. Desligamos a ficha sem, contudo, não deixar de perceber a onda e até as virtudes das canções a que acabamos "agarrados", principalmente as escolhidas para o disco deste ano "Forever Live Sessions" que nos tem entretido neste verão talvez em demasia. 

Hoje, em modo "compras rápidas" por corredores vazios de uma cadeia de supermercados alemã, o fundo sonoro do espaço estava inundado precisamente por esse disco e demoramos, então, muito mais tempo na procura de pechinchas que sabíamos inexistentes só para prolongar o momento de forma quase infantil mas saboroso. Decidimos, por isso, fazer o ponto da situação. 

Para além do já por aqui recomendado concerto caseiro, o trio disponibilizou há dias e de surpresa pelo youtube um álbum novo a que chamou "Untourable Álbum", treze pedacinhos que começamos agora a descobrir plenos de confiança!

THE DIVINE COMEDY, VERSÃO BEST OF!

Não é inédita a edição de uma compilação em jeito de "best of" pelos The Divine Comedy. Já aconteceu em 1999 pela Setanta até em versão melhorada com um acréscimo de raridades bastante orelhudo e irá tornar a acontecer em Fevereiro do próximo ano com outra selecção de vinte e quatros êxitos denominada "Charmed Life - The Best Of The Divinde Comedy" e um faixa inédita chamada "The Best Mistakes" a que se junta, em pacotes mais exclusivos, um "Super Extra Bonus Album" como convêm. 

O melhor disto tudo: há digressão alusiva pela Europa que contempla duas visitas a Portugal a 7 (Casa da Música, Porto) e 8 de Março (Aula Magna, Lisboa) de 2022 e com bilhetes à venda a partir de dia 17 do corrente mês. Bem-vindo Mr. Hannon, estamos mais que prontos para a festa!